Uma reflexão sincera e pessoal sobre maternidade, solidão e puerpério

por Giulia Coronato

Antes de começar realmente essa reflexão e esse grande desabafo, quero compartilhar rapidamente o contexto da minha maternidade - que é totalmente diferente e única para cada pessoa que a vive. Tenho 25 anos, engravidei um pouco antes de fazer 23. Sou mãe solteira e tive uma gravidez não planejada. Acredito que o contexto que estamos inseridas faz total diferença em como percebemos e recepcionamos a maternidade em nossa vida, mas se tem uma coisa que toda mãe que já ouvi sempre fala é o quão solitário é o maternar, principalmente no puerpério - para quem não está familiarizado com a palavra, é o período que segue o nascimento do bebê, onde a mulher passa por transformações emocionais, hormonais e psíquicas, podendo durar anos após o nascimento do filho. 

A minha solidão materna começou muito antes do meu puerpério, ela chegou chegando logo que engravidei e foi minha companheira fiel durante toda a gestação. Eu me via completamente sozinha na situação que estava atravessando, não tinha nenhuma amiga grávida, ou mãe, não tinha referências, não tinha para quem estender a mão. O meu ponto de apoio sempre foi o pai da minha filha, que não saiu do meu lado o tempo inteiro, mas até que ponto um homem consegue entender as mudanças que uma gravidez e um filho trazem na nossa vida? Como vamos explicar pra um pai o que é ser mãe? 

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Foto: Giulia Coronato (Reprodução/Instagram)


A solidão foi ainda maior quando minha filha nasceu. Além de estar enfrentando um puerpério, não estar reconhecendo meu corpo, estar com o peito vazando leite, sangrando e ter um ser humano estranho e totalmente dependente de mim dentro de casa, vi a maioria das minhas amigas se afastando e sendo totalmente indiferentes ao meu novo momento e à minha filha. Tudo se intensificou quando o pai da Catarina voltou a trabalhar e eu me vi completamente sozinha, passava o dia inteiro sem conversar com ninguém, no quarto com um bebê que não interagia comigo ainda, e fui me afundando cada vez mais num buraco que não parecia ter saída. 

Meu corpo se dividia entre amor, cansaço, solidão, raiva e tristeza. Eu amava estar com a minha filha, mas ao mesmo tempo sentia um luto imenso pela vida que tinha deixado no passado, me sentia sozinha e desamparada - apesar de ter uma rede de apoio incrível -, sentia raiva por ver a vida do pai da minha filha retomar tão rápido e eu me ver completamente parada e tudo isso dormindo cerca de 2h por noite, o que era a cereja do bolo. 

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Foto: Giulia Coronato (Reprodução/Instagram)

Pra ser sincera eu sempre achei que a maternidade fosse difícil, mas nem nos meus maiores pesadelos pensei que seria assim. Ninguém nunca tinha me falado. As versões que tinha recebido da minha mãe e avó eram romantizadas, falavam de um amor incondicional - que sim, é verdade - mas pouco falavam de todo o resto, que é tão importante quanto. Quando me vi num lugar onde a tristeza e a solidão eram mais frequentes do que a felicidade de estar com a minha filha, resolvi buscar ajuda e encontrei muitas outras na mesma situação que eu. Apesar de sentir o contrário, eu não estava sozinha nessa.. 

Voltei a me consultar com minha psicóloga, me cerquei de mães da forma que pude, que foi online, ouvindo podcasts, lendo livros e vendo programas sobre o tema. Foi só assim que parei de me sentir tão culpada por estar triste e solitária, porque vi que toda mãe se sente assim em algum momento. A gravidez e o pós-parto não são 100% felizes, e tudo bem! O cenário é literalmente o oposto, segundo a pesquisa realizada em 2023 pela campanha Maio Furta-Cor, uma em cada quatro mulheres têm depressão pós-parto, e 75% delas não são diagnosticadas. O número é imenso, então porque continuamos nos sentido sozinhas e não falando sobre? 

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Foto: Giulia Coronato (Reprodução/Instagram)

Hoje, quase oito meses depois de parir e oito meses mergulhada no puerpério, vejo aos poucos minha vida retomando, minha vontade de ser social voltando, minha relação com a minha filha fortalecida e a tristeza finalmente dando lugar à felicidade - ou aceitação. As mães e a maternidade são a base da sociedade, não existe vida sem antes existir uma mulher para gerar. E é claro que isso vai ser solitário! Olha o tamanho da responsabilidade que temos nas costas - ou na barriga! Gerar é solitário porque é único para cada um. 

Ainda estou longe de recuperada, na grande maioria das vezes não me reconheço. Meu puerpério ainda não ficou no passado, esses sentimentos ainda existem, eles só são menos frequentes. A jornada promete ser longa e o caminho é literalmente eterno, afinal de contas, eu nunca vou deixar de ser mãe da minha filha. Eu acho que o segredo está em encontrar força no maternar, construir uma rede de apoio e viver sua individualidade, nem que seja 10 minutos por semana. 

E a boa notícia é que apesar de ser cansativo e desestimulante às vezes, até agora tudo valeu a pena. A vida é muito mais difícil desde que minha filha chegou, mas é muito melhor. 

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