Valentucci? A revelação surpresa da primeira coleção de Alessandro Michele para Valentino despertou críticas e até confusão pela estética extremamente similar ao seu período na Gucci. No entanto, por trás do styling maximalista e nostálgico, do qual o diretor criativo é fã número um, existem, sim, elementos da obra fundamental do fundador Valentino Garavani.
Apenas 2 meses após o anúncio do novo cargo, Alessandro Michele introduziu sua visão para a tradicional marca italiana com a coleção Resort 2025. A escolha parece intencional, já que as pré-coleções lançadas duas vezes por ano, conhecidas como Pre-Fall e Resort ou Cruise, têm sempre apelo comercial e normalmente vão direto para as lojas sem as adaptações ou edições das passarelas. Michele parece ansioso em oferecer os produtos para o consumidor final o mais rápido possível, permitindo assim que ele seja o juiz da nova era proposta.
Composta por 171 looks e 93 imagens de acessórios, Michele continua perseguindo sua ideia de beleza baseada na pluralidade: de influências, gêneros e combinações, porém costurando seu olhar com a identidade da maison italiana.
As estampas: Opulência com refinamento é um combo indissociável da grife e, através das lentes de Michele, se torna mais exagerada, mas não evita seu passado. Isso é evidente na escolha de estampas de caráter tradicional e aristocrático, usadas frequentemente pelo fundador em décadas passadas, como pied-de-poule, xadrez príncipe de gales e poá que permeiam a coleção.
A delicadeza: À primeira vista, o styling repleto de sobreposições parece só referenciar o "tudo ao mesmo tempo, agora" que marcou o período de Michele no comando da Gucci. Porém, ao se observar os detalhes, a essência da Valentino se sobressai. Pérolas, laços e rendas, elementos ultrafemininos da casa, são proeminentes.
O branco e suas variações: Em 1968, Valentino apresentou uma coleção toda em branco intitulada “Collezzione bianca”, desde então, a tonalidade pura e suave é inerente à identidade da marca. O debut de Michele trouxe várias composições compostas pelo monocromático clarinho.
O boho sofisticado: O lado boho foi hiper presente na década de 70 da maison e deu as graças na estampa paisley, nos cintos de corrente, nas bolsas de franjas, nas botas de cano alto e, claro, no mix de texturas que não pode faltar em nada que leve o selo de aprovação de Alessandro.
Florais: Motivos florais são integrais no histórico da marca e foram incluídos inúmeras vezes, bordados em vestidos de festa, em bolsas de tapeçaria estampadas, na forma de broches e nas bijus.
Lady-like: Dos conjuntinhos de alfaiataria, aos tailleurs que ganharam ar mais moderno graças ao comprimento das saias, às peças com barra e acabamento de pelúcia, a silhueta assinatura da Valentino original, imprime o lado luxuoso e o glamour jet-set que é sinônimo da marca. Afinal, a mulher Valentino é uma lady que, a partir de agora, ganha uma faceta mais performática e ousada, sem renunciar às suas origens.
Jackie O: Uma das musas da casa, Jackie Kennedy, cujo vestido de seu segundo casamento com Aristoteles Onassis foi assinado por Valentino, recebeu homenagens no styling com lenços e turbantes que ela adorava usar nos dias off, além de óculos oversized que eram indispensáveis nos seus looks. Porém, o maior indício está no resgate do monograma em V, favorito da ex-primeira dama americana, que retorna triunfalmente na nova era
A onça: O animal print favorito de Valentino surgiu em vários looks, dividindo espaço com leopardo e cobra, inclusive na mesma composição, sempre com o toque excêntrico do atual diretor criativo.
A coleção é um prólogo para o primeiro capítulo oficial da história de Michele na Valentino, que começará para valer em setembro durante a Paris Fashion Week, com a estreia do prêt-à-porter Primavera/Verão 25. Mas confesso que fiquei curiosa para conferir o que vem por aí. E vocês, o que acharam?
