4 marcas de moda nordestinas que valorizam as artes manuais para você conhecer
O Nordeste do Brasil tem uma tradição de trabalhos manuais inegavelmente muito rica, e consequentemente isso reflete muito na moda que é produzida na região. É claro que esse não é único estilo que as marcas de moda nordestinas nos apresentam, mas certamente as artes manuais, como o crochê e seus inúmeros métodos, fazem parte da cultura enraizada e da história de muitos dos criadores. Esses que fazem questão de levar as diferentes técnicas dessa preciosidade para o restante do país, e , por que não, do mundo.
E se você nos acompanha por aqui sabe que sempre estamos de olho em todas as marcas de moda que se destacam dentro dessa indústria criativa. E falando sobre artes manuais, logo nos lembramos das etiquetas integrantes do projeto Nordestesse - um hub criativo que busca dar mais voz e visibilidade para criativos da região Nordeste do país. E então, resolvemos convidar 4 delas para compartilhar conosco um pouco sobre suas experiências e trajetórias tendo como foco técnicas de crochê para a criação de suas peças. Confira:
depedro
Primeiro, nos conte um pouco sobre a relação da DePedro com o crochê. Onde surgiu a vontade de trabalhar com essa forma de arte tão rica e minuciosa?
M.F.: Quando a gente começou a marca lá em 2017, sempre imaginei que deveríamos trabalhar com as artesanias que temos disponíveis aqui na região. As referências que eu tinha sempre foram o crochê, bordados, rebordados - como a Renascença - e aí lá em 2017, nossa primeira peça foi uma sandália de couro com uma melancia de crochê. Eu sempre quis ressignificar esse crochê, trazer ele com outro olhar, com outra estrutura, com outro design, com outro olho, e aí foi assim que a gente começou. Na época também fizemos um maiô e sungas masculinas , e fomos trabalhando e cada vez mais requalificando esse crochê e vendo as mil formas de trabalhar com ele.
Falando um pouco mais sobre a DePedro, quais foram suas as primeiras inspirações para construí-la e quais caminhos os levaram a trabalhar com o crochê?
M.F.: Olha, realmente as minhas principais inspirações para trabalhar a marca são as mulheres da minha vida, minha mãe e minhas avós. As artesãs, que sem dúvida para mim são uma grandessíssima fonte de inspiração, porque eu vou vendo o trabalho sendo construído, e elas vão fazendo tudo de forma manual, e aquilo vai inspirando a gente, vai nos levando para novos caminhos, para enxergar novos olhares e novas técnicas.
Agora falando um pouco sobre os trabalhos manuais construídos a partir das linhas que exaltam a cultura nordestina e suas diferentes regiões, como você enxerga a importância dessa arte para a sociedade e para a moda brasileira?
M.F.: Com relação a essa questão da moda brasileira e da nossa sociedade, eu entendo tudo isso como uma afirmação da nossa história, da nossa cultura e do nosso povo. Tudo isso que a gente vem fazendo, de ressignificar a nossa moda para um olhar mais local, mais regional, faz com que a moda brasileira ganhe impulso. Nós deixamos de ser uma moda genérica, generalista e comum, para se uma moda com mais identidade e DNA.
Conta pra gente como é a relação e da DePedro com a vida e história dos artesãos envolvidos nas suas produções?
M.F.: A nossa relação com os artesãos é maravilhosa, eu costumo visitá-los pessoalmente, in loco, eles se sentem importantes na cadeia produtiva, e de fato eles são muito importantes. Tudo isso gera um processo de autoestima muito grande neles, que ficam muito orgulhosos com o trabalho que fazem. Inclusive, a gente vai lançar por agora uma websérie com eles falando justamente sobre essa trajetórias deles junto com a DePedro, contando como eles se sentem trabalhando conosco, e nosso objetivo também é fomentar esse trabalho com eles. As famílias sentem muito orgulho deles e do que fazem, de suas histórias e trajetórias. Quando veem um famoso vestindo uma peça que eles produziram ou uma peça sendo desfilada na SPFW também, por exemplo, é uma sensação indescritível para eles e assim tudo vai acontecendo.
sau swin
SAU e crochê, conta pra gente onde surgiu a vontade de trabalhar com essa arte?
M.B.: A SAU nasceu em uma cidade cujo crochê é um ofício bastante praticado, principalmente por mulheres nas cidades do interior. A ideia surgiu como uma forma de unir a tradição com nossa criatividade, o que resultou em peças com novos desenhos e formas. Além disso, nosso desejo sempre foi envolver mulheres, oportunizar a geração de empregos e abastecer os grupos de artesãs.
Quais foram as primeiras inspirações para criar a SAU e quais caminhos a levaram a trabalhar com o crochê?
M.B.: Em nossas primeiras criações em crochê, nós mesclamos elementos geométricos com desenhos de cosmos. A coloração, que mesclava tons de off white, preto e terracota, está presente no nosso branding e sempre que possível, reforçamos o uso dessas cores como um caminho de fortalecimento da nossa identidade.
Como a SAU enxerga a importância do crochê para a sociedade, para a moda brasileira e para a exaltação da cultura nordestina?
M.B.: Acredito que estamos caminhando, cada vez mais, para o reconhecimento dos trabalhos manuais como peças de arte. Um crochê, assim como uma renda manual, tem tanto valor quanto uma tela ou uma escultura. Porém, culturalmente não são percebidos como tal. Quando apresentamos nossas peças aos nossos clientes, explicamos sobre os processos, tempo de manufatura e complexidade da operação. Enquanto marca, penso que temos também um papel de conscientização sobre nossa moda brasileira.
Sabemos que os artesãos são parte fundamental do processo de construção de uma peça de crochê. Então, nos conte um como é a relação da SAU com a vida e história dessas pessoas?
M.B.: Em função da pandemia, e da distância, nossas trocas com as Associações são feitas via Whatsapp. Ajustamos, alinhamos, trocamos feedbacks e vamos co-construindo, à distância, as peças. Com tanto contato, parece que nos conhecemos há muito tempo. Compartilhamos fotos e vídeos de forma virtual como uma forma de encurtar as distâncias.
ateliê mão de mãe
Procurando um pouco da história do Ateliê Mão de Mãe, vimos que a relação com o crochê é antiga. Mas nos diga mais, de onde surgiu a vontade de trabalhar com essa técnica?
V.S.: O Ateliê Mão de Mãe surgiu da vontade de ver essa arte tão especial ser valorizada! Nossa relação com o crochê nasce efetivamente no início da pandemia, quando vi dentro de casa uma possibilidade de criar algo com propósito. Minha mãe, que é artesã desde os 14 anos, veio morar comigo no início da pandemia, e surgiu a ideia de criar algo que inicialmente seria sazonal, mas se tornou no fim o Ateliê Mão de Mãe.
Nos conte um pouco mais sobre as inspirações para construção do Ateliê Mão de Mãe, e quais caminhos os levaram a trabalhar com o crochê?
V.S.: Minha mãe foi a principal fonte de inspiração, por tudo que aprendi nas horas que ela fazia seus artesanatos. Há um tempo, vi a Rafa Kalimann usando uma peça em crochê, e minha mãe sabia fazer, então começamos a criar alguns modelos, e para divulgar eu mesmo fotografava em minhas amigas e postava nas redes. Isso tudo foi tomando proporções grandes, e quando conheci o Patríck, meu sócio e namorado, começamos de fato um negócio.
Para você, qual a importância dessa arte cheia de regionalidade e cultura enraizada em relação à sociedade e a moda brasileira?
V.S.: Falar sobre nossas raízes culturais é sem dúvidas o maior legado que uma marca ou indivíduo pode deixar para futuras gerações! Nosso país é rico em cultura, então, valorizar, fomentar e desenvolver é nosso papel! Para nós do AMM é uma premissa valorizar artes manuais, movimentos culturais e manifestações artísticas como um todo.
Como é a relação do Ateliê Mão de Mãe com a vida e história dos artesãos envolvidos nas suas produções?
V.S.: Toda nossa construção é pautada no respeito às pessoas, e principalmente no respeito ao tempo de cada artesão. Cada roupa feita por nós, passou pelas mãos de alguém, e cada mão carrega suas histórias, assim como nossas peças - que para nós são obras de arte. Sabemos um pouco de cada história das nossas meninas e o quanto é significativo o crochê na vida dessas mulheres, que compõem o coração do Ateliê Mão De Mãe!
catarina mina
Como a Catarina Mina começou a trabalhar com o crochê? De onde surgiu onde surgiu essa vontade?
C.H.: A Catarina Mina é esse lugar no qual entendi que a minha criatividade e potencial como designer poderiam trabalhar junto com artesãs locais, a fim resolver alguns desafios culturais e sociais do Ceará. E isso está muito ligado a uma inquietação interna, que procurava entender como minha criatividade poderia contribuir na construção de um mundo melhor.
Nos conte um pouco sobre as inspirações para a criação da Catarina Mina. Por que escolheram trabalhar com o crochê?
C.H.: O que nos inspira a trabalhar com o artesanato é a paixão e o afeto pelas artesãs e pelo fazer artesanal. Unido a isso: a vontade de construir um modelo de negócio diferente e humano. Além do crochê - nossa principal tipologia -, trabalhamos com seis outras tipologias artesanais. Algumas feitas por comunidades há centenas de anos, mas que hoje possuem risco de extinção devido a uma dificuldade de entrada no mercado, principalmente por conta da baixa valorização. Isso nos motiva a pensar junto os desafios e transformar realidades. Em coletivo com as artesãs, pensar soluções e viabilizar que o artesanato seja algo que gere orgulho, rentabilidade e vontade de continuidade.
Falando um pouco sobre esses trabalhos manuais que exaltam a cultura nordestina, como você enxerga a importância dessa arte para a sociedade?
C.H.: É bacana ver a valorização da nossa cultura acontecendo a partir do nosso lugar, isso fala de auto-estima e de pertencimento. É a partir desse movimento que conseguiremos, como sociedade, nos apropriar dos nossos valores e crescer como país. Na minha opinião, esse é um dos primeiros passos para ocuparmos um lugar de respeito internacional.
É notável a preocupação com as artesãs que trabalham com a marca, mas queremos saber mais. Como é a relação da Catarina Mina com a vida e história dessas mulheres?
C.H.: A gente tem como propósito de marca fazer a renda circular em lugares onde ela não chega, através do artesanato. Por isso temos como público principal o artesão. Todas as nossas coleções começam a partir das artesãs, tentando resolver desafios e gerar renda contínua para o grupo produtivo. Lembro que, em 2015, quando lançamos o projeto #umaconversasincera tinha algo muito claro: “mais importante do que trabalhar com várias tipologias artesanais, é trabalhar com um grupo a longo prazo”. Isso fala do nosso compromisso com a continuidade, frequência de trabalho com as artesãs e renda mensal para elas. Além disso, reinventar os laços entre designers, artesãos e consumidores é essencial para tudo isso. Um grande diferencial da marca, é o nosso modelo de negócio no qual as artesãs recebem porcentagens das vendas, participando junto com a gente do crescimento do negócio.
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