Estamos chegando em 2022 e a sexualidade da mulher ainda é, muitas vezes, incompreendida e mal interpretada. A medicina quase sempre viu o apetite sexual e a libido da mulher como algo pecaminoso, negativo e pejorativo, quando, na verdade, ambos são sinais de um organismo, corpo e mente saudáveis. É preciso lembrar que sexo, masturbação e outras atividades físicas assim não devem ser um tabu e nem encarados como um bicho-papão por nós.
A fim de normalizar cada vez mais o assunto e ajudar mulheres que sofrem diariamente com a falta de libido, mergulhamos no tema e descobrimos alguns fatores que influenciam diretamente a nossa saúde sexual, além de entrevistar nossa parceira e ginecologista, Dra. Débora Tonetti. Vem conferir:
sedentarismo
Uma vida sedentária é capaz de influenciar a diminuição da libido e do apetite sexual, tanto para mulheres como para homens. O exercício físico libera endorfinas e testosterona, os hormônios que mais têm ação sobre a nossa saúde sexual. Além disso, a prática de atividade física regular aumenta a perfusão sanguínea nos órgãos genitais. Logo, qualquer atividade que desencadeie uma aceleração do sistema circulatório tem um reflexo positivo no ato e no apetite sexual.
anticoncepcionais
O uso de pílulas anticoncepcionais também podem diminuir a libido de forma significativa. Isso acontece porque, além de impedir a ovulação, as pílulas são compostas por estrogênio e progesterona, e podem atrapalhar e reduzir a produção de testosterona do corpo, hormônio que está diretamente relacionado ao estímulo da libido.
O efeito do medicamento pode variar de mulher para mulher, portanto, não é uma regra e, inclusive, há casos de mulheres que sentiram um aumento do apetite sexual após entrar com a medicação.
depressão
Depressão e outros problemas psicológicos também podem afetar a libido tanto quanto os medicamentos antidepressivos, que são utilizados no tratamento. Eles também são responsáveis por uma diminuição imensa do apetite sexual e por causarem desequilíbrios nos níveis hormonais. Por isso, o acompanhamento psicológico e ginecológico é fundamental no tratamento a fim de evitar ou controlar o impacto sobre a libido.
tabagismo
Todo mundo sabe que o tabagismo causa disfunção erétil em homens, mas não pense que o mau hábito é ligado somente a saúde sexual masculina. O tabagismo é capaz de reduzir a libido, o interesse sexual, tanto em homens quanto em mulheres!
Há diversos estudos que sugerem que os efeitos do cigarro podem causar alterações hormonais e até antecipar a menopausa em mulheres. Além de impotência e perda de libido, o cigarro também pode causar infertilidade, diminuindo a eficiência e o número dos espermatozóides e a saúde dos óvulos.
doenças ginecológicas
Condições e doenças ginecológicas são a causa mais comum de diminuição da libido, prejudicando a mulher não apenas fisicamente, mas também mentalmente. Um dos exemplos é o vaginismo, uma doença geralmente causada por fatores psicológicos em que os músculos da vagina realizam contrações involuntárias, que podem dificultar a penetração e causar muita dor durante as relações sexuais. Isso acaba diminuindo a vontade da mulher de praticá-las. Logo, ter o acompanhamento contínuo de um ginecologista é imprescindível para uma boa saúde sexual!
Entrevista com a Dra. Debora Tonetti Gineco:
Entrevistamos a ginecologista Dra. Debora Tonetti para entender um pouco mais sobre a libido e os fatores que impactam no apetite sexual da mulher. Confira:
_o que é a libido e como aumentá-la?
D.T.: A primeira dica para aumentar a libido é autoconhecimento. Não tem como alimentarmos nosso desejo sexual se não nos conhecermos, nos apropriarmos das nossas fantasias, desejos e corpo. Saber o que te dá prazer é o primeiro passo para ter prazer. Parece simples, né? Mas, na prática, temos mil e um tabus colecionados ao longo da nossa vida de acordo com a nossa educação, criação, religião e até a comunidade em que estamos inseridos. É inegável que a sexualidade feminina sempre foi e ainda é um assunto que muitos não se sentem confortáveis em falar. Então, além do autoconhecimento, precisamos nos libertar dos preconceitos em relação à sexualidade - tarefa difícil, mas que já existe um movimento de mudança e que todas podem embarcar nessa.
_a libido muda com o tempo, conforme vamos parando de menstruar, entrando na menopausa, etc.?
D.T.: A libido oscila não só de acordo com nossos hormônios, mas em todas fases da nossa vida. É muito comum as mulheres se cobrarem muito e se acolherem pouco quando estão diante de um cenário diferente, que reflita negativamente na libido. Vou dar um exemplo: o puerpério (logo depois que o bebê nasce) é um período de muitas mudanças hormonais, emocionais, psíquicas e físicas. É um período de adaptação que envolve privação de sono, preocupação, cansaço e, nesse período, a libido costuma estar perto de zero. Será que existe algum problema com isso? Nenhum! Será que aquela mulher tem algum distúrbio sexual? Claro que não! É completamente compreensível que a sexualidade naquele momento fique em segundo plano. O mesmo acontece quando uma pessoa enfrenta um período difícil no trabalho, um luto, uma fase complicada… tudo bem termos fases onde a nossa libido diminui.
_a alimentação e os hábitos diários influenciam em nossa libido?
D.T.: Para estarmos receptivos sexualmente é importante que tenhamos o mínimo de saúde física e mental. A prática regular de atividade física, uma alimentação equilibrada, atividades para o manejo do estresse... isso tudo te fornece boas condições para desfrutar e explorar melhor a sua sexualidade e consequentemente aumentar a sua libido.
_quais hábitos e práticas podem melhorar nossa libido?
D.T.: Um hábito importante que vai estimular a sua libido é você explorar a sua sexualidade sozinha. Ao invés de esperar a libido cair do céu, você pode sair da passividade e descobrir, através da masturbação por exemplo, aquilo que te dá prazer. Outro hábito fundamental para melhorar libido: uma boa comunicação com o parceiro/a. Para uma relação sexual prazeirosa é necessário deixar claro aquilo que gosta e quer.
_e por último, a falta de libido pode ser um sinal de alguma doença ginecológica? se sim, quais?
D.T.: A sexualidade é muito maior que o ato sexual em si. A sexualidade começa no abraço, no cuidado, na risada, na troca. Casais que têm essa consciência costumam ter vidas sexuais mais ativas e satisfatórias. Quando estamos diante de casos de mulheres com diminuição de libido, existem vários fatores que devem ser avaliados antes de sugerirmos um distúrbio ou uma doença. Fatores emocionais, físicos, psíquicos, hormonais, comportamentais, uso de medicamentos e por aí vai. É aí que mora a complexidade do desejo sexual. Ele é dinâmico, influenciado por diferentes fatores e singular para cada mulher. Por isso a importância de sempre ter um profissional de confiança e que você tenha liberdade para falar sobre a sua sexualidade.