A pelúcia é a tendência inusitada que bombou na Copenhagen Fashion Week
Há pouco mais de um mês, eu tenho sido atingida por um conteúdo específico no TikTok: pessoas frequentando lojas da JellyCat. A marca produz pelúcias temáticas de comida, o que torna não apenas os produtos e as lojas adoráveis, mas a experiência toda muito fofa e com um apelo forte para o público adulto. Eu mesma já sonho em ter um croissant da JellyCat.
E por que eu estou te contando isso? Bom, porque a pelúcia se confirmou como uma tendência da Copenhagen Fashion Week. Loucura? Nem tanto.
Esses brinquedos, à primeira vista nada fashionistas, têm relação próxima não somente com a moda como também com movimentos culturais de arte e música. Um exemplo são os icônicos sofás e poltronas de pelúcia dos brasileiros irmãos Campana que se popularizaram mundo afora, viraram itens de colecionador e peças de museu, e já foram criadas diversas collabs, inclusive com a Fendi.
Outro fator impossível de ignorar é a presença das pelúcias na cultura clubber, que vive um grande despertar com a viralização do álbum "Brat" de Charli XCX e sua estética embebida no universo das raves e das boates.
Também é importante lembrar de movimentos visuais marcantes que sempre tiveram a pelúcia como elemento-chave, como o Kawaii. Uma das estéticas mais populares do Japão, criada nos anos 1970, o Kawaii é totalmente centrado na fofura, refletindo a inocência pura da infância e, ao mesmo tempo, uma vibe meio Lolita, o que pode ser visto como problemático. Não por acaso, a Hello Kitty surgiu na mesma época do nascimento do Kawaii e é um símbolo desse estilo.
Durante a semana de moda escandinava, a pelúcia surpreendeu como um dos elementos favoritos no street style e em algumas passarelas. Em colaboração com a influenciadora brasileira Livia, a (Di)vision explorou essa estética lúdica em sua coleção.
A moda, nesse contexto, se torna um meio de expressar a nostalgia e o desejo por momentos mais leves, depois de um longo período de auge do businesscore que nos fez questionar se a moda estava ficando careta. Adicionar uma pelúcia ao look é transformar o ato de se vestir em uma experiência divertida e pessoal. Em meio a um ciclo de notícias pesado, essa tendência traz uma dose necessária de escapismo e criatividade.
Mas é claro que essa não foi a primeira vez, nos últimos tempos, que avistamos a pelúcia como tendência - ou ensaio de. A popularidade desses acessórios fofos foi impulsionada por marcas como Miu Miu, que apresentou charms em sua coleção primavera-verão 2024, e por empreendimentos como o Bag Crap, que oferece uma curadoria super cool de chaveiros vintage.
Além disso, muitas celebridades, como Lily Allen e Dua Lipa, passaram a customizar as suas Hermès com penduricalhos.
No entanto, foi só agora na Copenhagen Fashion Week que essa onda se firmou com o uso de chaveiros de pelúcia em bolsas, trazendo personagens como Hello Kitty e Minnie Mouse para o mundo da moda.
Talvez você não se anime a sair de casa com um top ou um casaco maximalista, todo de pelúcia. Porém, quem sabe não arrisque um bichinho pendurado na bolsa? Ou até uma camiseta estampada com o seu personagem de desenho animado favorito da infância. O que fica mesmo de lição com essa tendência inusitada das pelúcias na moda é se divertir mais com os looks, como fizemos no auge do dopamine dressing.
É um escapismo fresco e nostálgico da austeridade que tomou conta das tendências nas últimas temporadas, mas será que pega? Ou ainda estamos vivendo muitas tensões no ar politicamente, economicamente e ambientalmente para deixar essa leveza pura e infantil nos levar?