A relação da moda com o movimento LGBT

por Giulia Coronato

A moda é, e sempre foi, um reflexo dos tempos, ela nos mantêm informados e conectados de tudo o que acontece, em todos os setores, indústrias e mercados. Ela é uma ferramenta de comunicação, que vai muito além de tendências, peças e glamour. Moda é política, é movimento social e é posicionamento, e por isso, a sua ligação com o movimento LGBT é praticamente eterna e inquebrável, principalmente quando falamos de moda no coletivo. 

Desde os princípios, o movimento LGBT teve a moda como a sua grande aliada, não só no quesito de empregabilidade de pessoas queer, como também na representatividade, e claro, na visibilidade. Ao mesmo tempo que a moda acompanha, ela dita os próximos passos e já é esperado a indústria estar sempre um passo a frente em tendências de comportamento e reestruturações sociais. 

A relação de pessoas queer com a moda é frequente e íntima. Logo, é recíproca e possui uma energia de troca, já que, muitas vezes, o público LGBTQIA+ vai cobrar um rompimento de paradigmas que as passarelas têm o prazer em atender. E vice versa!

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Foto: Burberry (Reprodução/Vogue Runaway)


A partir do meio do século passado, com a criação da maioria das grandes casas de luxo que conhecemos, já tínhamos à frente dessas marcas, homens homossexuais, vivendo livremente e abertamente - na medida do possível - sua sexualidade. O que era completamente inaceitável para a época. Logo, não era raro termos criações inovadoras e chocantes dentro dessas marcas, que acompanhavam a mente dos participantes do movimento LGBT, como o terno para mulheres, criado por Yves Saint Laurent em 1966 e muitos outros!

A partir de então, a ligação entre moda e LGBTQIA+ foi só se intensificando. A minoria queer da sociedade encontrava na moda uma liberdade de expressão que não existia - e provavelmente ainda não existe - em nenhuma outra indústria. Uma liberdade que representava o fim de opressão quase eterna. Durante muitas décadas, pessoas LGBTS tiveram sua sexualidade oprimida, e na moda, ela era finalmente celebrada.

A partir daí tivemos diversos movimentos que fizeram da moda e do movimento LGBT, um só. Como o disco durante a década de 70, o voguing, a revolução sexual do mundo da moda, liderada por Madonna, nos anos 80 e mais recentemente, a ascensão da cultura drag. Assim como a moda genderless, que também surgiu das necessidades e questões sobre gênero e sociedade propostas pelo movimento LGBT.

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Foto: Opening Ceremony (Reprodução)

durante muitas décadas, pessoas LGBTS tiveram sua sexualidade oprimida, e na moda, ela era finalmente celebrada.

Quando saímos do âmbito coletivo, e falamos do individual, a importância e a força da ligação entre moda e movimento, é ainda maior e mais impactante. As roupas que usamos são uma extensão de nossa personalidade, e são uma ferramenta indispensável na hora de moldar e articular nossa identidade - e também restringi-la - especialmente para aqueles cujas identidades são constantemente marginalizadas ou ameaçadas. Foi algo que o tema do Met Gala de 2019 e a exposição do Costume Institute, Camp: Notes on Fashion, pegou, tomando o famoso ensaio de Susan Sontag de 1964 como ponto de partida. As raízes de Camp estão firmemente ancoradas na cultura gay.

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Foto: Jacquemus (Reprodução)

Nossa identidade é a compreensão de quem somos, com o que nos identificamos e como as estruturas sociais nos afetam. E a moda também tem uma relação de longa data com a identidade social e pessoal, sendo uma das expressões mais visíveis dela. A maneira como nos vestimos comunica aos outros como nos retratamos e quem somos, muito antes de nos apresentarmos ou abrirmos a boca. 

E em uma sociedade onde ser queer é além de julgado, perigoso - o Brasil continua sendo o país que mais mata transexuais no mundo - as roupas, a maquiagem e a moda, ajudam a definir quem somos e como queremos nos apresentar aos outros. É por essa e outras razões que a moda e o movimento LGBT estão tão interligados, nessa conexão íntima, profunda e eternamente promissora. 

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