As atletas negras e seus cabelos nas Olimpíadas 2024

por Inaê Ribeiro

Se tem um assunto que reverberou durante as Olimpíadas 2024 foram os cabelos das atletas negras. Enquanto algumas exibiam tranças coloridas e elaboradas, outras tiveram que lidar com comentários sobre suas madeixas. Infelizmente, o fato de o cabelo afro ser alvo de discussões não é novidade. Há muitos anos, ele tem sido objeto de julgamentos, críticas e preconceitos, que estão profundamente ligados a dinâmicas culturais, sociais e políticas.

Para além disso, o cabelo para pessoas negras vai muito além dos fios em si; ele possui uma conexão profunda com a herança cultural. Por isso, muitas pessoas celebram seus cabelos, enxergando-os para além de um atributo físico. Seja com fios naturais, alisados ou adornados com tranças, o cabelo negro é carregado de história e significado.

Ciclista vestindo uniforme moderno com jersey branco e detalhes em verde e amarelo. Capacete colorido com design vibrante e óculos de proteção integrados completam o visual esportivo e arrojado.
Foto: Llori Sharpe (Reprodução/ Beth Duryea)


Se você perguntar a uma mulher negra sobre sua relação com o cabelo, certamente ela terá inúmeras histórias para contar. Algumas delas, infelizmente, estarão marcadas pelo racismo e traumas; outras, pelo processo de aprender a celebrar seus fios. A verdade é que o cabelo desempenha um papel muito importante na vida de todas elas.

O cabelo permeia nossa vida por completo, influenciando desde a infância até a rotina diária – afinal, nossos cuidados demandam mais tempo – e também a prática de esportes. De acordo com a pesquisa "The Good Hair Study", realizada em 2017, uma em cada três mulheres negras não participa de esportes por causa do cabelo, em comparação com uma em cada dez mulheres brancas. Isso se deve a diversos fatores, sendo o principal a falta de acesso aos esportes, além do fato de muitas precisarem se dedicar ao cuidado da família. Outro fator que se soma a esses desafios é o próprio cabelo.

No ciclismo, é preciso superar o desconforto do capacete; na natação, a touca, que muitas vezes não acomoda o cabelo afro. E se alguma atleta opta por alisar o cabelo, ela ainda precisa se preocupar com os fios estando perfeitamente no lugar, mesmo durante movimentos intensos, como foi o caso de Simone Biles nas Olimpíadas de 2024. Essa pressão não apenas afasta mulheres negras do esporte, mas também compromete sua segurança.

Ginasta em traje de competição prateado e cintilante, com mangas longas, decorado com detalhes brilhantes. Traje segue tendências de moda esportiva com forte influência do futurismo. A atleta usa bandagens nos pulsos, olimpíadas 2024
Foto: Gabby Douglas (Reprodução/ Getty Images)

Embora seja impactante, Simone não é a única a enfrentar comentários sobre seu cabelo. Durante as Olimpíadas de Londres, em 2012, a também ginasta norte-americana Gabby Douglas foi duramente criticada por seu cabelo não estar com as pontas seladas com cera ou gel. Na época, com apenas 16 anos, ela declarou em seu Instagram: "Eu fiz história e as pessoas estão focadas no meu cabelo? Posso ser careca ou ter cabelo curto; não importa." 

veste jaqueta esportiva azul com detalhes em branco e dourado. Estilo casual esportivo, tendência em uniformes de competições. Medalhas no pescoço complementam visual, trazendo um toque de prestígio e conquista. olimpíadas 2024
Foto: Simone Biles (Reprodução/ Getty Images)

Nas Olimpíadas 2024, Simone reforçou a mensagem em seu Instagram: "Se quiser comentar sobre o cabelo de mulheres negras... Apenas não faça". É exatamente nisso que acreditamos. Em vez de fazer comentários sobre um fio fora do lugar ou a finalização que não atende às suas expectativas, que tal lutarmos para tornar o esporte um lugar mais inclusivo?

Ginasta usa collant azul turquesa com detalhes brilhantes e bordados prateados, mangas 3/4 e gola alta. Look sofisticado e elegante, seguindo tendências de moda esportiva com brilho e cores vibrantes. olimpíadas 2024
Foto: Rebeca Andrade (Reprodução/ Getty Images)

Mas as Olimpíadas 2024 não foram feitas apenas de relatos tristes. Na edição de Paris, as atletas brilharam ao apostar em tranças coloridas, de diferentes tamanhos, espessuras e estilos. Ainda na ginástica, a brasileira Rebeca Andrade exibiu tranças longas com pontas loiras, que usava em um coque durante suas apresentações. No momento de subir ao pódio, ela as soltava em um volumoso rabo de cavalo de tirar o fôlego. 

Atleta vestida em traje esportivo azul e vermelho, com top cropped e shorts curtos, exibindo a bandeira dos EUA. O look destaca conforto e funcionalidade, ideal para competições. Tendência de moda esportiva,
olimpíadas 2024
Foto: Melissa Jefferson (Reprodução/ Getty Images)

A velocista Melissa Jefferson combinou seus dreads com um acessório de cabelo divertido para a final dos 100m das Olimpíadas 2024.

Jogadora de futebol com tranças longas e rosa faz cabeceio. Ela usa uniforme com camisa branca e número 5 nas costas, combinada com shorts azul. Estilo de cabelo vibrante e colorido destaca-se como tendência entre atletas. olimpíadas 2024
Foto: Trinity Rodman (Reprodução/ Instagram)

Já Trinity Rodman, do time de futebol dos EUA, apostou em tranças rosas, que, em um dos jogos, foram novamente trançadas. 

Atleta remando com uniforme colorido nas cores verde, amarelo e vermelho, e meias brancas de compressão. Cabelos com tranças multicoloridas, tendência vibrante e esportiva. Detalhe do barco com inscrições
Foto: Akoko Komlanvi (Reprodução/ Instagram)

Outro destaque das Olimpíadas 2024 foi Akoko Komlanvi, com tranças inspiradas nas cores da bandeira do Togo.

Atleta jamaicana vestindo uniforme esportivo com as cores verde, amarelo e preto. Usa acessórios como um relógio laranja e pulseiras. O cabelo está adornado com mechas verdes, seguindo a tendência de personalização de estilo em eventos esportivos.
Foto: Shelly-Ann Fraser-Pryce (Reprodução/ Instagram)

No final, é importante celebrar que esses visuais estão conquistando seu espaço e que as atletas ousaram e experimentaram nas Olimpíadas 2024. No entanto, é crucial que esse espaço seja garantido para todas. Afinal, lidar com esses desafios e críticas não é algo exclusivo das atletas; toda mulher negra carrega consigo um medo desumanizante e existencial, quase que enraizado em sua personalidade, resultado de mais de 400 anos de não ter um cabelo "bom o suficiente" ou de precisar calcular cada passo para que seus fios não a impeçam de realizar seus planos.

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