Como a história do ciclismo impactou a emancipação das mulheres

por Sofia Chel

Não há como falar sobre a história do ciclismo sem mencionar a mudança de rota revolucionária na luta das mulheres por igualdade de direitos. Tudo começa em 1870, com o surgimento da primeira bicicleta totalmente de metal, a Penny Farthing. Antes disso, as bicicletas eram tipicamente feitas de madeira e outros materiais menos duráveis e funcionais. Esse modelo se destacava por sua roda dianteira extremamente grande em comparação com a traseira, pois os fabricantes acreditavam que quanto maior a roda, mais longe se poderia viajar com a rotação dos pedais. Os homens, os principais e únicos consumidores, compravam bicicletas com rodas tão grandes quanto suas pernas permitissem. Já para as mulheres, com seus vestidos e saias volumosas, a bicicleta ainda era uma realidade distante.

Foi no início da década de 1880 que John Kemp Starley desenvolveu a Safety Bicycle, um modelo muito mais seguro e estável, que reduzia o risco de quedas e era fácil de usar, sem precisar ser um acrobata. A partir desse momento, as mulheres começaram a pedalar, sentindo pela primeira vez o vento no rosto e a liberdade sobre duas rodas. Não se engane que acabou por aqui, isso é apenas a pontinha do iceberg. Continue lendo para entender mais sobre a relação entre o ciclismo e a emancipação das mulheres.

Imagem de cinco mulheres andando de bicicleta, vestidas com blusas de mangas compridas e saias longas, tendências de moda do início do século XX. Trajes formais e cabelos presos são destacados. Estilo vintage evidenciado pelo vestuário conservador.
Foto: Grupo de mulheres e suas bicicletas, 1901. (Reprodução/World Bike Girl)


o esporte

o que é o ciclismo?

Para iniciarmos oficialmente o assunto nada mais justo do que começar pelo "o que é o ciclismo". Essa modalidade pode ser praticada de forma recreativa ou em competições, seja individualmente ou em equipe. As atividades variam de corridas intensas de um ponto a outro no menor tempo possível a diferentes manobras em terrenos distintos. Além de ser um excelente exercício físico, a bicicleta também é um meio de locomoção milenar.

Imagem de época de um ciclista ao lado de um biciclo de roda grande. O homem veste roupa justa de ciclismo, típica do século XIX, composta por camisa e calção de material leve, destacando o uso de boné e bigode. Estilo vintage e esportivo.
Foto: Penny Farthing (Reprodução/Pinterest)

qual a origem do ciclismo?

A história do ciclismo começa no início do século XIX, mais precisamente em 1817, o inventor alemão Karl Drais desenvolveu os primeiros veículos de duas rodas movidos por força humana, criando a Draisiana. Esta "máquina de correr", literalmente, era feita de madeira e impulsionada com os pés no chão, sendo o primeiro indício do que estava por vir.

Em 1860, os franceses Pierre Michaux e Pierre Lallement revolucionaram o design ao adicionar pedais à roda dianteira, criando o velocípede, popularmente conhecido como "Bone Shaker" ou, em tradução livre, "Agitador de Ossos", devido ao seu desconforto extremo. Logo na sequência, em 1870, surgiu a Penny Farthing, a bicicleta de roda alta desenvolvida pelos britânicos James Starley e Eugene Meyer. Em 1885, John Kemp Starley introduziu a Safety Bicycle, tradicional até hoje.

Desde então, o ciclismo cresceu tanto a ponto de se tornar um esporte olímpico e um meio de transporte amplamente utilizado.

Ciclistas competindo em prova de BMX, vestidos com uniformes de ciclismo de alta performance e capacetes de proteção. O uso de cores vibrantes e designs aerodinâmicos reflete tendências modernas de moda esportiva, focando na funcionalidade e estilo.
Foto: Ciclismo BMX Racing Feminino nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. (Reprodução/COB)

quais são as modalidades do ciclismo?

O ciclismo pode ser dividido em cinco diferentes e principais modalidades nas Olimpíadas: BMX, BMX Freestyle, Mountain Bike, Ciclismo de Estrada e Ciclismo de Pista. Aqui vão as descrições breves de cada uma delas. 

1. BMX Racing: Corrida em pistas de terra com obstáculos; vence o primeiro a cruzar a linha de chegada.

2. BMX Freestyle: Manobras acrobáticas em pistas ou espaços urbanos; o vence pela avaliação dos juízes em análise de performance. 

3. Mountain Bike: Competições off-road em circuitos de 4 a 6 km; vence o primeiro a completar as várias voltas estipuladas e cruzar a linha de chegada o vencedor.

4. Ciclismo de Estrada: Provas de longa distância em estradas pavimentadas; vence o primeiro a cruzar a linha de chegada com menor tempo.

5. Ciclismo de Pista: Provas em velódromos; vence o ciclista com menor tempo ou maior pontuação, dependendo da disciplina.

Atletas brasileiros competindo no ciclismo dos Jogos Olímpicos 2024. Estilos esportivos incluem uniformes aerodinâmicos, capacetes de alta tecnologia e roupas resistentes, destacando as tendências de funcionalidade e performance no esporte.
Foto: Paola Reis, Bala Loka, Grace Brown e Pauline Ferrand-Prévot (Reprodução/Steal The Look)

Jogos Olímpicos 2024

Em clima de Jogos Olímpicos, vale destacar a australiana Grace Brown, que conquistou sua primeira medalha de ouro no contrarrelógio no ciclismo de estrada individual. Assim como Chloé Dygert, dos Estados Unidos, que garantiu sua terceira medalha olímpica, recebendo bronze. E Pauline Ferrand-Prévot, a ciclista francesa, que brilhou ao conquistar sua primeira medalha de ouro.

Falando no Brasil, foram classificados seis ciclistas para as Olimpíadas de 2024 em Paris: Gustavo Batista, Paôla Reis, Ana Vitória Magalhães, Vinícius Rangel, Raiza Goulão e Ulan Galinski. Dentre eles, os destaques foram Gustavo Bala Loka, que ficou em sexto lugar no BMX Freestyle, fez história e virou meme na internet, e Paola Reis, como a única brasileira no BMX Racing.

Duas mulheres com bicicletas vestem trajes da moda vitoriana, típicos do final do século XIX, com chapéus ornamentados, blusas de mangas puff e saias longas. O estilo reflete a elegância e o conservadorismo da época. Fundo de natureza.
Foto: Mulheres no Ciclismo, 1890 (Reprodução/Go by Bike)

o feminismo

história do ciclismo e o feminismo, afinal qual a ligação?

Foi graças a John Kemp Starley, inventor da Safety Bicycle em 1885, que as mulheres começaram a utilizar a bicicleta como meio de transporte. O design mais moderno e funcional dessa bicicleta permitiu maior acessibilidade e segurança para ciclistas, impulsionando uma mudança significativa na vida de todas nós.

Com esse modelo, as mulheres passaram a pedalar, circular mais livremente e ocupar espaços públicos, tendo a chance de ver e serem vistas, muitas vezes reunindo-se sem a presença de homens.

Mulheres sufragistas vestindo roupas típicas do início do século XX, como saias longas, blusas de gola alta, casacos com botões e chapéus adornados, seguram um cartaz durante uma manifestação. Homens e crianças ao fundo também apresentam trajes da época.
Foto: Mulheres lutando à favor do direito do voto em Londres, no início do século XX. (Reprodução/Getty Images)

A liberdade proporcionada pelo pedal levou as mulheres a mudarem suas percepções e a desafiarem as crenças masculinas da época, que diziam que o movimento era indecente e até poderia causar infertilidade. Essa autonomia gerava desconforto em uma sociedade conservadora, começando pelo vestuário, que era extremamente desconfortável, limitava os movimentos e não permitia que uma mesma peça transitasse no guarda-roupa de ambos os gêneros. Mal imaginariam que isso seria uma pedalada em direção à luta pelo sufrágio.

Nos anos de 1882 a 1884, as ciclistas adotaram uma nova roupa para a prática do esporte: uma calça mais curta chamada Bloomer, nos Estados Unidos. E é aqui que a bicicleta se torna um símbolo de luta e ativismo.

Litografia de mulher do século XIX vestindo blusa de mangas bufantes e saia volumosa com sobreposição de calça. Completa o visual com chapéu de aba larga. Representa tendências vitorianas com foco em elegância e recato. Cena em jardim exuberante.
Foto: Modelo de calça “blommer” usado no final do século XIX por mulheres que desejavam praticar esportes. (Reprodução/Arte que acontece)

a primeira peça bifurcada da história usada por mulheres

A calça Bloomer foi a primeira peça bifurcada usada por mulheres em espaços públicos, até então limitadas a vestidos e saias. Criada por Elizabeth Smith Miller e Fabrizia Flynn, a peça ganhou popularidade através da advogada e ativista dos direitos das mulheres, Amelia Bloomer — cujo nome foi dado em homenagem a ela. Essa calça foi lançada em 1850 para proporcionar liberdade de movimento às mulheres, sendo um marco na história da moda e do esporte. Permitindo não só movimentos físicos, mas também políticos, a calça Bloomer deu origem ao primeiro sportswear feminino.

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Mulher negra sorrindo, usando cabelos trançados longos e volumosos, vestido laranja vibrante, e brincos prateados grandes. Moda casual urbana, com foco em cores vivas e acessórios chamativos, posando sobre uma bicicleta verde em um ambiente noturno.
Foto: Jamile Santana, coordenadora de mobilidade da Rede de Mobilização Coletiva Afro Ciclo (Reprodução/ITDP)

Às grandes mulheres revolucionárias do passado, do presente e do futuro, me despeço com uma citação de Susan Brownell Anthony, a norte-americana considerada uma das figuras mais importantes na história das reformas sociais:

vou dizer o que eu penso sobre as bicicletas. Eu acho que elas fizeram mais pela emancipação das mulheres do que qualquer outra coisa do mundo.” 

A história do ciclismo influenciou profundamente não apenas a reforma do vestuário, mas também proporcionou uma nova liberdade para as mulheres, impulsionando transformações sociais duradouras e revolucionárias.

O esporte tem o potencial de mudar vidas e alterar rotas. O ciclismo é apenas um exemplo. Qual modalidade transformou a sua? 

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