Carreira de moda: desvendamos tudo sobre o que faz uma bordadeira

por Karen Merilyn

Como já mencionamos por aqui, a indústria da moda depende de milhões de pessoas de diversas áreas para funcionar. Uma delas está entre fios e agulhas, promovendo a arte e o trabalho manual em cada peça. Estamos falando das bordadeiras, profissionais que podem tanto fazer parte do processo criativo de uma roupa quanto ser responsáveis por executar a demanda de uma marca. Em todo caso, trata-se de um trabalho que exige dedicação, criatividade e muito amor.

Para contar um pouco sobre como é ser uma bordadeira, conversamos com Susana Brito. Desde 2018, ela trabalha com o Projeto Fio — um negócio social que capacita mulheres das comunidades da Maré e da Tijuquinha, no Rio de Janeiro, além de comercializar as peças feitas por elas. Esse trabalho possibilita a profissionalização e também a independência financeira das bordadeiras. Susana encontrou no bordado sua paixão e fonte de renda, e ela compartilhou conosco um pouco da sua história.

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Foto: Susana Brito (Reprodução)


Primeiro, conte-nos um pouco sobre sua trajetória profissional? Como você começou na área? 

S.B: Minha trajetória profissional foi bem inusitada porque eu vim de um período sem trabalhar fora. Eu tinha acabado de ter meu filho caçula, então fiquei quatro anos sem trabalhar fora, só em casa. E eu não tinha contato nenhum com esse bordado, tinha tido contato com outro tipo de bordado há muitos anos atrás por lazer, porque sempre gostei de trabalhos manuais. Então, em 2017, meus filhos participavam de um projeto de arte terapia para crianças e surgiu a oportunidade, com uma turma de mães, de fazer também. Eu entrei nessa turma e uma das ferramentas era o bordado como terapia. Eu me apaixonei, e como eu sou uma pessoa curiosa, adoro aprender coisas novas, comecei a pesquisar, fazer em casa e peguei o jeito. Foi nesse momento, em 2018, que eu conheci o Projeto Fio. Fizemos um teste e eu me encantei por aquele trabalho. Para mim, era muito especial porque começou a me dar uma fonte de renda. E era uma fonte de renda que era fixa, que todo mês eu pegava bordado e recebia. E estou lá até hoje! Estou desde 2018 vivendo do bordado. Hoje, eu sustento minha família com o bordado. 

Como é sua rotina de trabalho como bordadeira?

S.B: Tem um ponto de encontro na Tijuquinha, às quartas-feiras, onde as meninas trazem as peças, cada um escolhe o que quer bordar e pega a quantidade que quer bordar. Esse projeto deixa a gente bem à vontade para bordar o que é confortável, o que se sente bem bordando. 

Eu, que sempre fui muito acelerada para aprender, fui evoluindo e hoje em dia já não pego as peças assim. Trabalho três dias fixos no ateliê do projeto, participo do processo criativo, separo bordados e acabo bordando lá também, porque como eu virei pilotista, muitos dos pilotos eu faço no ateliê, por já estar lá. Fora isso, eu trago para casa e bordo também no meu tempo. 

Geralmente o espaço do ateliê é aberto para a bordadeira que se sentir confortável ir lá bordar. No meu caso, eu bordo mais em casa, a não ser quando é um piloto. 

Você participa do processo criativo ou recebe a demanda já pronta de como deve bordar uma peça? 

S.B: No começo eu pegava a peça já disponível, hoje em dia já sou uma pilotista, eu já consigo participar do processo criativo, eu consigo opinar, fazer teste, ver o ponto que funciona ou não. Então, eu participo sim desse processo criativo. Mas muitas ainda trabalham assim: recebem a demanda e bordam de acordo com aquilo. 

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Foto: Quadro (Reprodução)

O que é necessário, em termos de estudo, para se tornar uma bordadeira?

S.B: Eu acho que o principal para se tornar uma bordadeira, primeiro é que gostar de trabalhos manuais. Não é uma questão de habilidade, é questão de você gostar do que faz, então acho que o principal é isso. Estudo, profissionalização, a gente vai conseguindo, como teve várias mulheres que tinham um processo mais demorado, mas que no final conseguia bordar. Claro que quando você começa a bordar e é uma coisa que você gosta, você vai se aprofundando, você vai descobrindo técnicas novas, tipos de bordados diferentes, então a principal ferramenta para se tornar uma bordadeira é a curiosidade, a vontade de aprender, que é o que funcionou comigo. 

Quais as habilidades que você considera mais necessárias nesse trabalho manual e tão cheio de detalhes?

S.B: A habilidade mais necessária é o entusiasmo de querer sempre dar o seu melhor naquele trabalho. 

Como é ser bordadeira para você?

S.B: Eu encaro meu trabalho como uma arte, já tem bordadeira que encara como um trabalho qualquer que rende dinheiro. Eu vivo do bordado, mas para mim sempre é uma arte. Sempre que eu faço uma peça nova, quando eu olho o que eu fiz, digo “nossa, me superei”. Eu trabalho há muito tempo com isso e não perdi esse brilho, esse fascínio pelo bordado. 

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Foto: Projeto Fio (Reprodução)

Quais são os maiores desafios da profissão?

S.B: Eu, como muitas colegas minhas, tenho um trabalho fixo. Nós não temos um ateliê, temos um trabalho fixo para o Projeto Fio. Mas eu acho que o desafio maior de quem usa o bordado para viver, é conseguir trabalhos sempre, porque é difícil ser freelancer nesse ramo. Para quem não precisa como fonte de renda, ser freelancer é ótimo, porque é um extra quando aparece um trabalho, mas para quem precisa de uma renda para suprir a casa, o melhor é ter um trabalho fixo. Essa coisa de ficar esperando surgir algo, ou montar um ateliê e não conseguir trabalho é mais complicado. Hoje em dia, com a valorização do mercado, essa demanda está maior, mas o maior desafio continua sendo a inconstância, não conseguir trabalho sempre.

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Foto: Bordado (Reprodução)

Que conselho você daria para quem quer seguir a profissão? 

S.B: Para quem quer ser bordadeira profissional, o que eu aconselho é gostar muito do que faz, porque o trabalho, apesar de ser lindo, exige muita disciplina. É um trabalho que você geralmente faz de casa e se você não conseguir estabelecer aquele horário de trabalhar e descansar, você acaba trabalhando sem descanso. Então o principal é encarar o bordado como um trabalho e se dedicar. 

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Foto: Susana Brito (Reprodução)

Indica um livro que toda bordadeira deve ler? 

S.B: Eu sou uma pessoa muito curiosa, muito didática, mas eu não tive uma profissionalização com leitura. Eu gosto de ir a exposições de bordado, de ver trabalhos, de pesquisar coisas diferentes, de testar técnicas novas, mas eu nunca parei para ler um livro sobre o assunto. Então, um livro que eu posso indicar, que eu acho que faz todo o sentido com o bordado, apesar de não falar disso, é “A Vida Secreta das Árvores", de Peter Wohlleben. A gente conecta as plantas com o fio do bordado, porque a raiz das árvores nada mais é do que um fio que interliga tudo. E o bordado é isso, um fio que liga várias realidades, então é um livro que eu recomendo para quem encara o bordado como uma arte.

Por último, para quem quer se profissionalizar no bordado, além do Projeto Fio, há cursos em plataformas como a Domestika e a Maximus. Outra dica é procurar nos armarinhos e lojas de artesanato próximos a sua região, que geralmente oferecem esse tipo de aula. 

Esse foi mais um dos nossos conteúdos sobre carreira de moda, que sai por aqui quinzenalmente. Em cada matéria, conversamos com um profissional da indústria para compartilhar dicas e dar sua visão sobre a área. 

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