Empreender na moda definitivamente não é uma tarefa fácil. Ter seu próprio negócio exige muito planejamento, estudo e responsabilidade. No entanto, é super possível se você entender o mercado e investir em algo que acredita. E, dentro da indústria, uma das áreas que tem crescido muito nos últimos anos é a do second-hand, principalmente pela maior preocupação do consumidor com a sustentabilidade e a nostalgia que está em alta na moda, fazendo a procura por peças vintage aumentar.
E para falar um pouco sobre como é ser uma empreendedora e ter seu próprio brechó, conversamos com a Stheffany Wendy, CEO do I Need Brechó, que, desde 2015, dá um novo ciclo de vida para peças usadas, com uma curadoria bem fashionista. Vem conferir nosso papo:
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Primeiro, conta um pouco da sua trajetória profissional? Por que você decidiu abrir um brechó?
S.W.: Sempre fui apaixonada por moda e comprar em brechós sempre foi um hábito presente no meu ambiente familiar, por isso já garimpava meus próprios lookinhos desde a época da escola (e via todas as minhas amigas torcerem o nariz, afinal, comprar em brechó não era tão cool como é hoje em dia). Porém, na época, não via isso como uma oportunidade de negócio, mas sim algo que eu gostava de fazer para uso próprio. Trabalhei por muitos anos com desfiles no SPFW e depois como produtora de moda, e o I Need foi uma virada de chave, ele nasceu para realizar o meu sonho de conhecer Paris. Todo mundo gostava dos meus looks garimpados e pensei "por que não vender todas as minhas roupas para comprar uma passagem pra Paris?” Não sabia que daria tão certo! Hoje, além dele ter realizado esse grande sonho, também se tornou o meu sonho realizado.
Como é empreender na moda?
S.W.: Após nove anos, entendo que é um peso gigante. Quando você empreende sem investimento e conhecimento sobre como gerir uma empresa, acaba aprendendo tudo na cara e na coragem. Hoje, vejo que a caminhada é longa, mas também muito recompensadora quando você vê que o seu negócio se tornou um propósito muito além do que só “vender roupas”.
E como é o seu dia a dia como CEO de um brechó?
S.W.: Bem cheio! Como o I Need é loja física e online, eu preciso sempre estar fora garimpando para poder abastecer os dois estoques que têm curadorias diferentes. Tenho uma rotina de garimpos, conteúdos e também da parte mais burocrática da empresa. No dia a dia, sempre fica tudo muito corrido porque também gosto de estar na loja física para atender e ver o que meu público está buscando. É realmente um trabalhão! Me desdobro em duas? Sim, mas vem dando certo.
Como é o processo de curadoria das peças que você vende?
S.W.: Nosso processo é muito minucioso. Trabalhar com brechó é um trabalho mais difícil do que as pessoas imaginam. Sempre brinco que é uma caça ao tesouro, nunca sabemos o que iremos encontrar na hora do “garimpo”, às vezes podemos encontrar muitas peças e outras vezes não. O meu processo de curadoria leva em média de seis a oito horas analisando peça a peça, modelagem, tecidos e também informação de moda. Essa curadoria acontece em cidades próximas à SP e até mesmo fora do Brasil, além de também comprarmos roupas de clientes.
Qual o segredo para ter disponível sempre peças atuais, quando falamos em tendência, mesmo sendo peças vintage?
S.W.: Por ser formada em moda, sempre estou atenta a todos os desfiles e as tendências que surgem lá fora. Isso sempre me deixa um passo à frente na hora de fazer a curadoria, porque quando minha cliente busca algo que está em alta, já temos no I Need. E, claro que pela moda ser cíclica, tudo que vira tendência hoje já foi moda um dia, então é ainda mais incrível poder encontrar tudo isso no brechó e dar um novo ciclo de vida para aquilo que já existe, com uma peça autêntica da época.
O que é necessário para ter seu próprio negócio de moda em termos de estudo e pesquisa?
S.W.: Buscar conhecer a fundo seu público-alvo, analisar e estudar constantemente o mercado em que atua, seus concorrentes, aprender sobre marketing e estar sempre atento às novas tendências de moda.
Como fazer um negócio de moda crescer?
S.W.: Entender o mercado, estar atento aos hábitos de consumo do seu público e estar muito presente nas redes sociais. Costumo dizer que quem não é visto não é lembrado, então ter uma rotina e constância é mais que necessário.
Quais são os maiores desafios de empreender e especialmente ter um brechó?
S.W.: Empreender no Brasil é muito difícil, ainda mais quando falamos em brechó, que é um nicho que já tem uma “fama” de ser visto como roupa barata, então quebrar esse preconceito aqui é algo que vem sendo construído há anos. Mas, acredito que, hoje em dia, a internet e a nova geração que busca mais conhecimento sobre sustentabilidade estão à nosso favor e fazem com que os brechós possam ser vistos pelo “valor” do trabalho que fazem em prol da sustentabilidade e não somente pelo “preço”.
Qual conselho você daria para quem quer empreender na moda?
S.W.: Acho que a gente sempre pensa na criação e acaba esquecendo da parte burocrática, que lá na frente dá um trabalhão. Então, pesquisar muito em qual nicho você quer atuar e como atuar nele, mas também se atentar a abrir um CNPJ, começar uma reserva para a empresa e quando ver que o negócio está crescendo, buscar registar o nome da marca, e mão na massa!
E se for um brechó, tem algum conselho específico?
S.W.: Estudar o mercado de second-hand, fazer uma curadoria conforme seu público-alvo, ter uma identidade que te diferencie dos seus concorrentes, ser criativo e ter muita força pra garimpar. Afinal, quem trabalha com brechó não tem um estoque, então acaba sendo uma constante caça ao tesouro.
Para finalizar, uma dica para quem quer empreender na moda, é dar uma olhada no site do Sebrae. Por lá, tem todo tipo de dica para começar um negócio, inclusive cursos e materiais gratuitos sobre moda especificamente.
Esse é mais um dos nossos conteúdos sobre carreira de moda, que estão quinzenalmente aqui no no site. Em cada post, trazemos o ponto de vista de um profissional do mercado sobre a área que ele atua, com troca de dicas e experiências.