Consumo consciente: a alta na procura por roupas de segunda mão

por The Look Stealers

Não é segredo para ninguém que o Brasil é um dos maiores consumidores de moda mundiais, inclusive moda de luxo. Mas temos notado que um certo segmento desse amplo  mercado se destaca, sendo mais específicas, estamos falando do aumento significativo do consumo de roupas de segunda mão. Provavelmente a primeira coisa que deve ter vindo a sua mente são os ‘populares’ brechós, que têm ganhado fama nos últimos anos, mas temos que dizer que esses negócios são só uma das fatias desse mercado.

Mas aí surge o questionamento: por que consumidores têm passado a buscar por mais roupas de segunda mão ao invés das novinhas em folha? Ao olhar de modo geral, pode parecer não fazer muito sentido, mas se nos aprofundarmos, vamos notar que conceitos como sustentabilidade - hoje muito ligada ao surgimento dos ditos humanos éticos -, e a nova onda e ascensão da tendência das peças vintage, por exemplo, notamos que esse movimento, crescente, faz todo sentido. Te convidamos a ficar por aqui, pois hoje vamos entender um pouco mais sobre essa ‘nova’ demanda, também movido por preceitos de consumo consciente. Vem ver:

Zoé Hotuqui - look vintage brechó - roupas de segunda mão - Verão 2022 - brechó - https://stealthelook.com.br
Foto: Zoé Hotuqui (Reprodução/Instagram)


De uns anos para cá, especialmente durante o auge pandêmico, o mercado de roupas de segunda mão viu seus números crescerem substancialmente, como nunca tinham visto antes, e diferente do que se pode imaginar, não só as compras aumentaram, mas também a venda. Ao contrário do varejo comum, que sofreu uma forte recessão, levando a grandes impactos e crises, o mercado de resale aumentou exponencialmente sua demanda, para se ter uma ideia, em 2019, o segmento cresceu em média 21 vezes mais rápido que o mercado de moda como um todo. Podemos dizer que o momento em que estamos vivendo hoje tem grande influência nisso tudo, pois ao mesmo tempo que estamos buscando por liberdade e esperança, também passamos a recorrer a nostalgia e aconchego dos velhos tempos, como forma de escapar da realidade - no melhor sentido da palavra. O retorno popular da estética Y2K e suas peças vistas como datadas, ou a recorrente escolha por peças vintage e de acervo em tapetes vermelhos, são alguns exemplos.

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Foto: TROC (Reprodução/Instagram)

Apesar de parecer um conceito novo, o segmento de roupas de segunda mão vem tentando despontar há muitos anos. No início, de maneira mais tímida, o modelo de negócio mais conhecido de resale eram os brechós, os quais antes eram vistos como maus olhos, por se acreditar que ofereciam produtos de qualidade ruim ou duvidosa. Com o passar do tempo essa ideia foi ficando para trás, - e você provavelmente já teve ou conhece alguém que abriu um brechó - sendo que atualmente muitos desses estabelecimentos possuem grande renome. Um estudo divulgado pelo Sebrae em 2019, por exemplo, mostra que do ano de 2005 até 2010, o número de brechós aumentou em surpreendentes 219%.  Conceitos como consumo consciente e moda sustentável ganharam força e a compra e venda de roupas usadas passou a ser tão relevante quanto a produção de itens novos. Indo além, especialistas e estudiosos da área acreditam que essa fatia poderá salvar o mercado da moda, já que essa é uma forte tendência de consumo para o futuro.

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Foto: The Real Real (Reprodução/Instagram)

Uma prova disso é a alta no surgimento de empresas e startups focadas nesta área do varejo de moda de segunda mão. Um estudo realizado pelo Sebrae aponta que, de 2020 para 2021, foram criadas cerca de 2 mil empresas nesse segmento, que representam em média um aumento de 48,5% no comércio desses produtos. Agora, chegando à ponta do consumidor, no ano de 2018, uma análise apontou que mais de 56 milhões de mulheres passaram a consumir roupas de segunda mão, nos EUA. Enquanto um relatório de 2021 da gigante do mercado de revenda, ThredUp, revela que 42% das pessoas da geração Z e Millennials consumiram itens de moda resale, e 76% desses consumidores pretendem continuar consumindo tais produtos nos próximos anos. O mercado de moda de luxo também acompanhou o crescimento nesse segmento, com nomes como Stella McCartney, Gucci e Burberry, que em 2017, por exemplo, depois de sofrer com duras críticas, tanto por parte dos consumidores, quanto de ativistas e especialistas, a marca, que antes incinerava seu seus produtos sobressalentes, reviu seus processos e fechou parceria com o site The Real Real, onde incentivava seus clientes a revender os itens da grife - em troca, ironicamente, tinham descontos nas compras de peças novas. Mas não para por aí, já que esse é um mercado cheio de possibilidades, no ano passado a The Real Real lançou um projeto de upcycling, que contava com uma coleção com participação de grandes nomes da indústria, como Balenciaga e Jacquesmus.

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Foto: The Real Real (Reprodução/Instagram)

Um fato importante a ser abordado é que a alta no consumo de roupas de segunda mão não acontece somente pelo fato da crescente tomada de consciência dos consumidores, ou pela preocupação com o meio ambiente e o futuro do planeta. Isso também se deve pelas consequências geradas pela atual crise econômica que estamos enfrentando e as dificuldades financeiras que recaíram sobre a população, as quais começaram a buscar novas alternativas de compra. Outro grande ponto, se não um dos principais, que regem essa mudança nos hábitos de consumo é a internet. Por ficar mais tempo em casa, por conta das restrições sociais impostas pelos órgãos de saúde, o consumidor passou a se aventurar mais pelo comércio digital. Como consequentemente começou a perder o medo de comprar online, abrindo caminho para o surgimento de novos e-commerces, ou re-commerces - como são chamadas as lojas virtuais de revenda e compra.

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Foto: Ana Luiza McLaren e Tie Lima|Enjoei (Reprodução)

Empresas brasileiras, como um dos pioneiros em revenda no Brasil, Enjoei.com, fundada em 2009, por Ana Luiza McLaren, tem feito muito sucesso com um olhar inovador para esse mercado. Como uma das maneiras de atrair um público fiel para sua plataforma, o site promove, como uma de suas estratégias, bazares e lojinhas virtuais com celebridade e influencers - as quais possuem verdadeiras legiões de fãs e seguidores -, que anunciam peças de seus acervos pessoais, por preços acessíveis. Além disso, a plataforma tem outros atrativos, como a facilidade de compra e venda dos itens, catálogo com mais de 2 milhões de produtos variados , incluindo marcas famosas, como Schutz, Zara, Farm e Adidas. Por aqui, mais uma vez voltamos a bater na tecla do despertar para um consumo consciente pelo humano ético, trazido pelos tempos de isolamento e pandemia, onde as pessoas repassaram suas prioridades, isso não só de vestuário, mas também alimentação, saúde e assim por diante, e a busca de preços baixos e mais próximos da realidade como impulsionadoras desse mercado.

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Foto: TROC (Reprodução/Instagram)

Com uma linguagem moderna, fashionista e uma curadoria inteligente, a Troc é mais um exemplo de sucesso no mercado de roupas de segunda mão. Fundada por Luanna Toniolo, em 2016 e recentemente adquirida pelo grupo Arezzo&Co, em 2020, que, além de ver o potencial da moda circular e de segunda mão no país, somou uma grande aliada para a logística reversa de seus produtos. A plataforma, que conta com direção criativa do estilista Dudu Bertholini, tem a moda sustentável e a reeducação do consumo como alguns de seus principais pilares de criação. Para se ter uma ideia, em seu site a Troc apresenta uma espécie de prestação de contas sobre seu impacto no meio ambiente, com dados que vão de quantidade de litros de água economizados pelo mercado de moda circular - cerca de 732,5 milhões de litros -, redução na produção de lixo têxtil - 134 toneladas -, até a diminuição da emissão de CO² na atmosfera - 937,8 toneladas.

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Foto: Fiorella Mattheis|Gringa (Reprodução/Instagram)

Justamente por consumirmos tanta moda e marcas, empreendedores brasileiros também viram no mercado de moda de segunda mão de luxo uma grande oportunidade de negócio. Não é segredo para ninguém que muitos de nós sonhamos em ter e usar um item grifado, e a plataforma de re-commerce, Gringa surgiu com esse intuito, intermediar, revender e consignar acessórios de grandes casas de alta moda mundiais. A startup foi fundada em 2020, pela atriz e empresária Fiorella Mattheis, depois que a mesma começou a repensar seus próprios hábitos de consumo de produtos de luxo second hand. Recentemente a empresa foi comprada pela Enjoei, plataforma líder no segmento resale que citamos acima, aumentando seu leque de mercado. Um dos principais intuitos da Gringa é promover a economia circular desmistificando a ideia de ser um produto ‘usado’ ser ultrapassado ou sem qualidade. Atualmente, a plataforma tem uma base clientes sólida, já que depois que um produto entra no site, demora em média de dois a três meses para ser vendido.

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