Casamento e regime de bens: O que você precisa saber antes de dizer “sim”?

Falar de dinheiro e regime de bens no relacionamento ainda é um tabu para muitos casais. Segundo dados da plataforma Meu Compromisso e da CNDL/SPC/Banco Central, 66% dos casais não conversam sobre finanças e, de acordo com levantamento do Serasa (2023), apenas 45% sabem o salário do parceiro.

Esse é um comportamento que precisa mudar, especialmente se você quiser fortalecer a sua relação. Uma pesquisa do Serasa apontou que 60% dos casais que planejam as finanças juntos dizem sentir mais segurança e estabilidade no relacionamento.

A conversa sobre dinheiro tem que envolver desde a gestão de gastos até mesmo o regime de bens do casamento, e esse foi um dos temas centrais do episódio mais recente do “O que tem na sua carteira?”, uma parceria entre Steal The Look e B3. A convidada da semana foi Patricia Kaddissi, uma das maiores advogadas do Brasil, atuante na área da família e sucessões, formada pela USP, pós-graduada pela universidade francesa Sorbonne e integrante da Comissão de Estudos de Direito de Família do IASP (Instituto dos Advogados de São Paulo).

Patricia Kaddissi, uma das maiores advogadas do Brasil, atuante na área da família e sucessões fala sobre regime de bens.
Foto: Patricia Kaddissi (Divulgação/O que tem na sua carteira?)


Durante a conversa, Patricia abordou temas que raramente ganham espaço no debate público, mas que são fundamentais — especialmente para as mulheres. Ela falou sobre regime de bens no casamento, sucessão familiar, divórcio, divisão de patrimônio e pensão, tanto para os filhos quanto para a mulher. E destacou um ponto importante: ao contrário do que muitos ainda pensam, a pensão para a ex-esposa não é vitalícia.

A pensão para os filhos até os 18 anos é indiscutível. Já no caso da mulher, a situação é diferente: é preciso comprovar a necessidade. Muitas vezes, durante o casamento, em comum acordo, a mulher deixa de trabalhar e, anos depois, ao enfrentar um divórcio, surge a dúvida sobre esse direito. O que pouca gente sabe é que a pensão não é vitalícia, nem garantida por longo prazo. O entendimento do judiciário é que, se ela for maior de idade, capaz, saudável e estiver há 10 ou 15 anos fora do mercado, terá direito, no máximo, a três anos de pensão. Depois desse período, deverá prover o próprio sustento.

A decisão sobre o regime de bens precisa ser feita antes mesmo do “sim”. Afinal, o casamento vai muito além do amor e da cumplicidade: ele também envolve planejamento financeiro e patrimonial a longo prazo. É essa escolha que define como os bens do casal serão administrados durante a união e, em caso de separação ou falecimento, como serão partilhados.

Comunhão parcial de bens
É o regime mais comum. Nele, tudo o que for adquirido durante o casamento é dividido igualmente, enquanto os bens que cada um já possuía antes permanecem individuais. É indicado para casais que desejam proteger o patrimônio construído antes da união.

Comunhão universal de bens
Hoje em desuso, esse regime determina que todos os bens — adquiridos antes ou durante o casamento — passam a ser do casal, assim como as dívidas. Por isso, exige alto nível de confiança e planejamento.

Separação total de bens
Nesse modelo, cada cônjuge mantém seus bens e dívidas de forma independente, sem partilha automática em caso de separação. É mais comum entre pessoas que já possuem um patrimônio significativo ou que desejam manter autonomia financeira.

Mais do que uma formalidade, a escolha do regime de bens é uma decisão estratégica que pode evitar conflitos futuros e garantir segurança para ambos. Conversar abertamente sobre patrimônio, expectativas e planos financeiros antes do casamento é fundamental para alinhar interesses e proteger o casal em diferentes cenários da vida. Afinal, planejar também é uma forma de cuidar do amor.