Como a nostalgia trouxe de volta as bandas dos anos 90 e 2000

por Sofia Chel

Muitas pessoas se perguntam por que a nostalgia está tão em alta. Parte disso surge de fatores emocionais e culturais. A pandemia deixou a população mais suscetível à ansiedade e depressão. Só no primeiro ano houve aumento de 25% nos casos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Quando a mente busca conforto, ela tende a recuperar lembranças de períodos associados a estabilidade e alegria.

É analisando esse cenário que as bandas dos anos 90 e 2000 que fizeram sucesso naquela época começam a voltar aos holofotes, seja em reuniões icônicas ou em turnês inéditas após longos hiatos. O melhor e mais recente exemplo é Oasis. Após 15 anos separados e longe dos palcos, eles anunciaram turnê para 2025 e reacenderam o entusiasmo da legião de fãs que acompanha a banda desde os anos 90. Esse retorno ativa memórias coletivas e conecta quem viveu a fase de ouro do grupo com quem conheceu seus clássicos nos streamings e nas redes sociais.

Na sequência, fizemos uma análise detalhada sobre o que impulsiona esse movimento. Você vai entender como o retorno de artistas que marcaram gerações ganhou força, como os streamings influenciam a redescoberta dessas bandas, de que forma as redes sociais amplificam a nostalgia e por que esses nomes continuam relevantes mesmo anos após o auge.

Dois homens posam com expressão séria usando jaquetas pretas, uma de nylon brilhante e outra jeans, estilo típico de bandas
Foto: Oasis (Reprodução/Divulgação)


o retorno de bandas que fizeram sucesso nos 90 e 2000

A volta de bandas que fizeram sucesso nos anos 90 e 2000 mostra como a nostalgia influencia o mercado da música. O retorno do Oasis após 15 anos longe dos palcos citado acima confirma essa força. Cerca de 14 milhões de pessoas disputaram 1,4 milhão de ingressos para as primeiras datas no Reino Unido e na Irlanda. A expectativa de ganhos ultrapassa 1 bilhão de libras, superando as projeções da turnê "Eras de Taylor Swift" no país. 

Outro retorno muito aguardado é o do AC/DC. A turnê "Power Up" marca a volta de Brian Johnson aos palcos após nove anos afastado por questões de saúde. O grupo já faturou mais de 69 milhões de dólares na Europa e segue com demanda alta em todos os países. A banda também quebrou recordes de venda na Austrália, com mais de 370 mil ingressos esgotados em um único dia na Ticketek.

Banda dos anos 90 com estilo rocker clássico em preto e azul, camiseta básica, jeans e atitude confiante, guitarrista ergue
Foto: AC/DC (Reprodução/Divulgação)

O The Cure também manteve seu espaço nessa onda de nostalgia e retomou apresentações disputadas na Europa e nos Estados Unidos. A banda registrou a maior bilheteria de sua história recente, com mais de 37 milhões de dólares arrecadados, e mantém alto engajamento nas plataformas digitais. Já as Spice Girls seguem entre os nomes mais aguardados. As especulações sobre um reencontro em 2026 ganham força, ano que marca os 30 anos da formação do grupo, com Victoria Beckham considerada pela primeira vez como possível participante.

Entre as bandas que marcaram os anos 2000, o movimento é tão expressivo quanto. O RBD protagonizou uma das turnês mais concorridas da América Latina, com dezenas de shows de casa cheia e forte mobilização de fãs. O Paramore retomou as atividades após o hiato iniciado em 2018 e lotou as apresentações no Brasil, reforçando a ligação emocional de uma geração inteira com a banda. O NX Zero voltou aos palcos e realizou 53 shows no Brasil, muitos deles com fãs viajando longas distâncias para acompanhar a turnê. McFly retomou as turnês após enfrentar dois adiamentos durante a pandemia, e os Jonas Brothers seguiram sua trajetória com shows e novos trabalhos, incluindo documentário recente no Paramount Plus, mostrando como esse padrão de retomadas se espalha por diferentes mercados.

Integrantes de bandas dos anos 90 posam juntos com roupas vibrantes, corsets, paetês e cortes ousados em clima de celebração
Foto: RBD (Reprodução/Divulgação)

o papel dos streamings na redescoberta dessas bandas

O papel dos streamings foi fundamental para a redescoberta de bandas que fizeram sucesso no passado. As plataformas democratizaram o acesso a álbuns completos, singles e colocaram músicas antigas no mesmo espaço que os lançamentos. Isso aproximou diferentes gerações de maneira direta. Quem viveu o auge dessas bandas lembra que consumir música não era nada simples. A descoberta vinha do rádio, das novelas, dos filmes, de conversas e, para quem não tinha dinheiro para investir em LPs, fitas ou CDs, a saída muitas vezes era recorrer à pirataria. Quem nasceu depois encontrou esses artistas por playlists automáticas, trilhas de filmes e séries, músicas que viralizaram nas redes sociais e recomendações do algoritmo.

Trio com estilo inspirado em bandas dos anos 90 usa jaquetas em preto, branco e azul, camiseta regata e calça marrom,
Foto: Jonas Brothers (Reprodução/Getty Images)

o impacto das redes sociais na popularização da nostalgia

É inegável que as redes sociais também popularizaram a nostalgia e colocaram músicas antigas de volta em circulação. Quando uma música viraliza, ela retorna às paradas dos streamings e alcança um público que não acompanhou a banda em seu auge. Isso acontece com frequência no TikTok, onde conteúdos curtos reacendem memórias e estimulam descobertas de maneira rápida e contínua.

A título de curiosidade, a hashtag nostalgia ultrapassa 22 bilhões de visualizações no TikTok, enquanto as buscas por anos 90 cresceram 160 por cento no Google nos últimos cinco anos. No Spotify, playlists que usam a palavra nostalgia aumentaram 145 por cento em três anos. Esse crescimento segue um padrão muito claro. Os algoritmos das plataformas priorizam tempo de consumo, interação profunda e identificação emocional. Conteúdos que resgatam músicas, cenas e referências do passado despertam reconhecimento imediato, geram engajamento natural e criam comunidades que se conectam pela mesma memória afetiva.

Músicos de bandas dos anos 90 exibem estilo marcante com roupas pretas brilhantes e vestido branco rendado, clima vibrante e
Foto: Robert Smith e Olivia Rodrigo (Reprodução/Divulgação)

por que as bandas dos anos 90 e 2000 continuam seguem relevantes

A pergunta que não quer calar é como essas bandas seguem tão relevantes até hoje. Em um mundo dominado por conteúdos rápidos, superficiais e cada vez mais produzidos com apoio de IA, o público busca autenticidade. Esses artistas carregam repertórios fortes, vozes marcantes e obras que mobilizam multidões. Muitos álbuns daquela época tinham narrativas completas e densas, construídas faixa a faixa, em contraste com vídeos de poucos segundos no TikTok.

A necessidade de pertencimento também é decisiva. Essas bandas criaram comunidades que atravessaram gerações. A memória afetiva funciona como âncora emocional e resgata momentos marcantes da adolescência, desde shows vistos na TV até CDs guardados com cuidado. Esse vínculo se fortalece quando surge a chance de reviver tudo ao vivo.

Grupo masculino posa junto com roupas típicas de bandas dos anos 90, incluindo suéteres listrados, jaqueta amarela
Foto: Backstreet boys (Reprodução/Getty Images)

O fator econômico ganhou peso nos últimos anos. Quem era adolescente nos anos 90 e 2000 não tinha dinheiro para investir em shows, álbuns e produtos oficiais. Hoje, essas mesmas pessoas são adultas, têm autonomia financeira e conseguem pagar por experiências que antes eram inacessíveis. Isso explica o sucesso das turnês de reunião e a disposição do público em viajar, comprar ingressos caros e acompanhar seus ídolos.

Por fim, o ciclo dos vinte anos ajuda a entender essa retomada. A cultura costuma revisitar referências de duas décadas anteriores. Esse movimento aparece na música, na moda e no comportamento. Ele recoloca no debate artistas que ficaram afastados por um período, mas nunca deixaram a memória coletiva. A soma desses fatores explica o resgate das bandas que marcaram e continuam marcando gerações.