Como Água para Chocolate: um presente do México para o mundo

por Miriam Spritzer

Como Água para Chocolate, o famoso romance de Laura Esquivel, chega ao catálogo da HBO em um formato de série e entrega tudo e mais um pouco. Com o pano de fundo da Revolução Mexicana no início do século XX, a trama acompanha a história de Tita, uma jovem que ao se ver impedida de casar com o amor de sua vida, encontra na culinária uma forma de expressar seus sentimentos e desenvolver seus talentos. A estória é marcada por 12 receitas tradicionais mexicanas, que representavam uma para cada mês de um ano em sua vida e de seu país. E em seus pratos que seus desejos e paixões se revelam e, claro, acabam impactando tudo e todos a sua volta. Ingredientes perfeitos para uma série de sucesso para encantar todos os sentidos. 

Tivemos a oportunidade de falar com a Ana Lorena Pérez Ríos, diretora da série e Amanda Cárcamo, a figurinista para saber um pouco mais como foi construir esse universo mágico realista do México rural de Como Água para Chocolate.

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Como Água para Chocolate
Foto: Como Água para Chocolate (HBO)


Quais elementos você queria se certificar que estariam perfeitos na série, uma vez que o romance já é um clássico e a expectativa do público é alta? 

Ana Lorena: Eu e o Julian de Tavira, que é o outro diretor da série, decidimos que a gente não iria brigar com a imaginação do público. Não há nada mais poderoso do que a tua própria mente produz e isso vem da literatura. O que nos prendemos foi na emoção que é produzida quando a gente lê o livro. A relação com a comida, por exemplo. Ou que sensação que essa relação humana de cinco mulheres na cozinha com um histórico complicado provoca no público. Quando você foca na emoção e não na imagem que pode está na cabeça de alguém, é muito mais fácil de poder explorar a nossa própria versão dessa trama. Por isso tivemos que fazer uma abstração destes universos emocionais. 

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Pessoas em trajes antigos sentadas a uma mesa ao ar livre, envoltas em atmosfera como
Foto: Como Água para Chocolate (HBO)

O contexto histórico em que a trama acontece é pouco conhecido mundialmente. Como vocês lidam com a responsabilidade de trazer essa parte da história do México para um público mundial?

Ana Lorena: A senhora Cárcamo. A gente começa com essa parte visual dela, que desenhou os figurinos para que os personagens tivessem vida.

Amanda: Mais do que uma história de amor e da força das mulheres, tem essa questão da luta de entender o que era esse México em plena revolução. Quem eram estes grupos, como se vestiam e se representavam de formas diferentes. Era importante acertar como eles vestiam as mantas, por exemplo, e quais eram as texturas que usavam. Por que são coisas históricas que temos imagens. Não é como uma era medieval que as referências são em pinturas, aqui temos fotografias. Por isso queria ter muito respeito para demonstrar essas lutas e crueldade de uma parte da nossa história que estava fundada em diferenças, mesmo que seja uma história que o foco está no romance e nas emoções. 

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Como Água para Chocolate
Foto: Como Água para Chocolate (HBO)

E como foi a construção do figurino das personagens principais do romance?

Amanda: Tivemos muito cuidado com as cores. Não é uma coisa de “usei o amarelo porque quero", o amarelo tem que ir aqui para ir ao lado do azul que cria um efeito específico. Pode até parecer que estávamos usando tudo de forma aleatória, mas cada irmã tinha uma panela de cor para que tudo se complementasse.

Você falou da textura das roupas, como foi a busca para encontrar os materiais para o figurino? Pois muita coisa já não existe mais. 

Amanda: Tivemos que ir atrás de algumas manobras. Visitamos muitas lojas de roupas tradicionais que poderiam ter peças da época ou similares à época e também outras foram produzidas para a série. Mas os materiais, tínhamos que jogar com o que havia disponível e pegamos os tecidos que seriam os mais próximos visualmente aos da época.

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Como Água para Chocolate
Foto: Como Água para Chocolate (HBO)

O que vocês descobriram deste período ou até do romance que vocês não sabiam antes?

Ana Lorena: Para mim, algo que eu nunca tinha pensado era como se vivia no interior das casas. Me parece que dados sobre a história das batalhas e posturas sociais são muito mais fáceis de encontrar, mas o que acontecia com aqueles seres humanos que não saíram de suas casas não. O que passava no seu cotidiano? Como era o dia a dia de quem não participou do conflito ativamente. Uma foto dos revolucionários que a Amanda me mostrou e lembrou que falamos muito sobre os sapatos, um diferente do outro. Eu me dei conta a partir daí das pequenas coisas que construíram com essa revolução, tanto internamente nas famílias como externamente, que vem de uma mentalidade de dizer “vou lutar com o que tenho". Eles iam com o que encontravam no caminho para sobreviver. A ideia era mais importante do que a forma que estou “armado". Isso foi o mais forte para mim. 

Amanda: Muito o que a Lo (Ana Lorena) disse, este cuidado dos detalhes. Essa coisa de alguém que saia de casa de um jeito, no meio do caminho encontrava uma bota e então vestia ela. Muita gente nem vai notar isso quando assistir a série, mas saibam que colocamos estes detalhes lá. Cuidamos muito das botas, os botões e os cintos, que às vezes não tinham nenhum e outras vestiam quatro cintos, porque podia precisar. Mas me surpreendi também com a vida destas mulheres. Que viviam este papel da sociedade que tinham que bordar enquanto outras não comiam e como se ajudavam. Porque apesar da diferença social, havia uma sororidade que sempre existiu.

Ana Lorena: Uma coisa muito importante, o expectador pode notar todos estes detalhes que a Amanda falou. Se você assistir uma segunda vez, ou prestar atenção, vai poder notar tudo isso. 

E a pergunta que não poderia faltar: ficaram (roubaram) com algo do set ou do figurino?

Ana Lorena: Amanda me mata se eu faço isso. 

Amanda: Fotos maravilhosas. Imagens na cabeça, nada mais. 

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