Entrevistamos Arianne Phillips, figurinista de Coringa: Delírio a Dois
Coringa: Delírio a Dois mal entrou em cartaz e por todos os lados a única coisa que se falou sobre o filme é o desgosto dos fãs do universo da DC sobre o formato e a narrativa do filme. De fato, a expectativa do público que acompanha aos quadrinhos desde sempre, assim como daqueles que se encantaram com o primeiro filme estrelando Joaquin Phoenix impactou a resposta à a essa produção. No entanto, se você conseguir abrir mão de como você acha que o filme deveria ter sido, há muito o que se aproveitar da produção, começando pelo figurino — que é o nosso assunto desta pauta.
Assim como Lady Gaga, a figurinista Arianne Phillips foi uma nova adição em Coringa: Delírio a Dois. Conhecida por ter assinado os figurinos de alguns dos maiores filmes das últimas décadas como “Era uma vez em Hollywood”, “Johnny e June”, “Garota Interrompida”, “Animais Norturnos” , este dirigido por Tom Ford. Além disso, ela também fez o figurino de peças da Broadway e de vários vídeos e tours da Madonna. Essa forte conexão com a música certamente a ajudou a compor os aspectos visuais desde quase “dark-musical” , estrelando uma das maiores estrelas do pop.
Em nossa entrevista exclusiva com Arianne, ela brinca que entrar na produção foi como ser a garota nova da escola. A maioria dos profissionais de design de produção, cenário e cinematografia, já tinham participado do primeiro filme e colaboraram para que ela conseguisse criar a estética esperada pelo diretor Todd Phillips. “Eu fui realmente bem recebida pelos colegas. E ter essa fundação que eles criaram para o primeiro filme foi extremamente importante, porque se trata de uma evolução da estória. Uma continuação exata de onde o primeiro filme deixou”, comenta, “o nome do filme literalmente significa loucura a dois. Poder navegar dentro deste conceito foi muito divertido”.
Contudo, sua principal tarefa - ou pelo menos a que o público estaria ainda mais atento para - era a introdução de uma personagem feminina incrível, a Lee Quinzel interpretada por “Lady Gaga, mas eu me refiro a ela como Stephani”. “É claro que eu já conhecia o seu trabalho, por isso estava extremamente animada para trabalhar com ela como ficaria com qualquer outro grande ator ou artista”, destaca, “por mais que eu ame Lady Gaga, ela nunca entrou em cena. A Stephani Germanotta que apareceu, aberta e uma atriz extremamente generosa”. Arianne nunca teve a sensação de estar trabalhando com a persona Lady Gaga.
Sua presença na cultura popular é tão icônica, que só podemos imaginar o desafio de a transformá-la em uma personagem tão celebrada dos quadrinhos. “Há um incrível arco de personagem do momento que conhecemos a Lee Quinzel ao ponto em que ela se desenvolve à sua persona de Harley Quinn ou Arlequina no final do filme”, comenta, “e a gente realmente explorou a personagem. Nós duas queríamos que ela trouxesse essa coisa de uma vida própria, inteligência e um senso de feminismo e força”. O plano de fundo destas características está na ideia do filme se passar em uma Gotham que lembra a Nova York, “dura e suja, com aquela energia do punk rock do início dos anos 1980”.
Assim como a figurinista, Lady Gaga era também uma nova garota na escola, o que fez com que a colaboração das duas fosse ainda mais única com outros atores, “um dos benefícios de trabalhar com Stefani, é que ela entende e respeita como o figurino, cabelo e maquiagem ajudam a construir um personagem. Acho que isso é a cereja do bolo que ela traz por ter dirigido seus vídeos e criando o seu próprio look. Já trabalhei com muita gente talentosa, mas ela trouxe essa camada extra de inteligência ao vestiário”. As duas faziam o que elas chamam de maratona de figurino, onde provavam diferentes looks junto a equipe e depois levavam o resultado ao diretor. O toque final do look de Lady Gaga foi uma pitada de infantilidade “queríamos vesti-la quase como uma menina para mostrar a sua incapacidade de crescer dentro da própria fantasia dela”.
E por mais que a meia-calça usada por Lee na última cena tenha me gerado até arrepios pela genialidade da suave referência à evolução de sua personagem dos quadrinhos, o que mais deu orgulho a Arianne foram os uniformes de Arkham, a penitenciária - sim, aquele detalhe que pode até ter passado despercebido no olhar fashionista. Mas, foi a parte mais desafiadora, não só pelo número de peças, afinal entre os presos e os guardas são 500 uniformes, mas também pelo envelhecimento necessário.
O contraste desta Gotham cinza com as coloridas cenas de fantasia que remetem clássicos da televisão americana como do programa da Cher, permitiu que Arianne usasse “muito dos meus músculos criativos que normalmente não consigo usar em um só filme”. E claro, trabalhar com Joaquin Phoenix novamente foi a cereja no bolo. Os dois já haviam colaborado no filme Johnny and June, “ele é daqueles atores que aparece um em cada geração. Uma pessoa incrivelmente gentil”, comenta a figurinista.
Arianne admite que apesar de querer levar muitas coisas do figurino, tudo que ela desenhou e desenvolveu para o filme pertence à Warner Brothers. Mas para não dizer que ninguém roubou nada, “para dar de presente no final das filmagens, fiz um pequeno travesseiro para cada um dos atores com o tecido de seus figurinos. Para a Lady Gaga fiz um vermelho, com o tecido da jaqueta que ela usou no final. Fiz para todos, um presente de agradecimento. Então, acho que podemos dizer que eu roubei um pouco do tecido”, ri.
Coringa: Delírio a Dois está em cartaz nos cinemas. Nossa dica? Assista sem expectativas e tire suas próprias conclusões. Você pode se surpreender.