Como as marcas brasileiras têm se destacado no hype da cultura da corrida
Já reparou como a cultura da corrida tomou conta das redes sociais e tem influenciado o estilo de vida de muita gente? Essa nova relação com a prática esportiva ganhou força principalmente no pós-pandemia, impulsionada pelo aumento do interesse por bem-estar e autocuidado. E não se trata apenas de uma simples trend: esse movimento tem impactado o mercado como um todo.
O destaque agora vai para as marcas esportivas que acompanham as novas necessidades do público. Mas se engana quem pensa que basta oferecer produtos focados em performance ou design inovador. O consumidor tem buscado uma combinação específica de funcionalidade e estética, sem deixar de lado uma comunicação autêntica e verdadeira.
Diante desse cenário, analisamos o crescimento da cultura da corrida no Brasil para entender como o setor de produtos esportivos tem se adaptado a esse novo momento — e o que podemos esperar do futuro.
a popularização da cultura da corrida no Brasil
A corrida se tornou uma verdadeira febre no mercado brasileiro. Segundo uma pesquisa da Olympikus em parceria com a Box1824, mais de 13 milhões de brasileiros praticam corrida — hoje o quarto esporte mais popular do país, atrás apenas da caminhada, musculação e futebol.
Além disso, mais de 2.800 eventos de corrida de rua foram realizados no Brasil em 2024, segundo levantamento da Associação Brasileira de Organizadores de Corridas de Rua e Esportes Outdoor.
Outro dado que reforça essa popularização é do Relatório Anual de Tendências de Esportes do Strava: a corrida foi o esporte mais praticado no Brasil em 2024, e o país é o segundo no mundo com maior número de atletas na plataforma, somando mais de 19 milhões de usuários.
Esses números mostram não só o avanço de uma tendência cultural e de consumo, mas também o enorme potencial de crescimento desse segmento para as marcas esportivas.

o destaque de marcas brasileiras em meio ao hype da corrida
Em uma indústria historicamente dominada por gigantes internacionais, essa tendência cultural e de mercado também movimentou o cenário brasileiro. Marcas nacionais, que antes não eram tão bem vistas pelo público — que costumava preferir nomes estrangeiros — agora estão entre as favoritas, provando que o Brasil também tem grande potencial no universo da corrida.
O diferencial está na combinação de tecnologia, design e, claro, no diálogo com o consumidor. Enquanto muitas empresas focam apenas em atletas e priorizam lançamentos técnicos voltados a uma “elite” do esporte, marcas brasileiras têm apostado no corredor real e na multifuncionalidade de seus produtos.
Alguns exemplos relevantes quando o assunto é corrida na indústria nacional são a Olympikus, a Bad Running, a Rainha e a Track&Field. Ambas souberam aproveitar a mudança no mercado e usar o timing, a comunicação e a inovação a seu favor.
o case Bad Running
Lançada oficialmente em dezembro de 2024, a Bad Running percebeu um gap no mercado quando o assunto são os corredores reais e já nasceu no digital, com um tom descolado e uma pegada fashionista. A marca não coloca o esporte no centro das atenções, mas como parte de uma experiência completa — que não envolve apenas correr. Com o slogan “RUNNERS BY ACCIDENT”, ela abraça o público que não está interessado em pace ou competições, mas que corre por diversão, para conhecer gente nova e, claro, com estilo.
A partir daí, a marca conquistou seu nicho e desenvolveu uma comunicação super cool e conceitual. O Instagram da Bad Running fala mais sobre cultura e comportamento do que apenas sobre produtos, o que ajuda a criar identificação com quem está começando a correr ou busca se expressar através do movimento.
o rebranding da Olympikus
Por outro lado, temos a gigante Olympikus, que se tornou uma verdadeira febre entre corredores, profissionais ou não. Com o lançamento da família Corre e a percepção de que o público busca multifuncionalidade na hora de escolher um tênis para correr, a marca criou um produto que agrada a todos os perfis — e ainda aposta em um design interessante, que funciona tanto para o dia a dia quanto para quem coloca o estilo como prioridade.
Outro ponto importante que fez a Olympikus conquistar de vez o mercado foi se posicionar como uma marca 100% brasileira e transformar isso em motivo de orgulho. Em um segmento dominado por estrangeiras, marcas nacionais que entendem o consumidor local saem na frente.
Além disso, ao evidenciar a potência brasileira em tecnologia e provar que é possível criar um bom produto com preço acessível, a Olympikus se destacou. A marca conta com o maior parque fabril de calçados esportivos da América Latina, o que garante controle de qualidade, inovação e escala.
A combinação de lançamentos com tecnologia nacional, como o Corre Grafeno, o design marcante e até collabs com outras marcas para versões casuais, somada à presença em corridas de todos os tipos no Brasil — da Maratona Internacional de Porto Alegre à experiência imersiva do Bota Pra Correr — tornou a Olympikus uma das marcas mais queridas da atualidade, com uma comunidade forte e fiel.
Os resultados acompanham o movimento: a Vulcabras, controladora da marca, registrou lucro líquido de R$ 106,1 milhões no primeiro trimestre deste ano — um crescimento de 9,5% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo o Valor Econômico. Trata-se do melhor primeiro trimestre da história da companhia.
Rainha e o foco no corredor iniciante
Com 90 anos de história, a Rainha, outra marca esportiva super tradicional do Brasil, hoje foca no corredor iniciante. Unindo leveza e preços mais acessíveis, ela reforça a versatilidade de seus modelos, conectando a corrida ao cotidiano.
A marca, que possui um grande histórico e chegou a vender 700.000 pares por mês nos anos 80, no auge da cultura aeróbica, hoje foca no lifestyle e running, aproveitando a autoridade no segmento para relançar modelos clássicos.
Assim como outras empresas nacionais do segmento, a Rainha entendeu a necessidade do público por calçados versáteis e práticos quando o assunto é corrida e também aposta em designs que funcionam para o esporte e no dia a dia.
o crescimento da Track&Field
Maior marca brasileira de esporte no setor de vestuário, a Track & Field mantém um ritmo forte de crescimento. Só em 2024, a empresa alcançou a marca de R$1,4 bilhão em vendas, o que representa 18,5% de crescimento em relação ao ano anterior, segundo informações divulgadas pela Fashion Network.
Além da linha Running, pensada especialmente para corredores e que oferece tecnologia especial para esse tipo de atividade física, a marca investe ainda em corridas de rua através do Track&Field Run Series, um circuito que realiza diversas provas em diferentes cidades do Brasil, voltadas tanto para profissionais, quanto para amadores.
Apesar de não ser nova, essa integração entre os produtos e a experiência da corrida têm se tornado cada vez mais popular entre as marcas, que promovem não só a compra, mas toda a experiência que torna a comunicação mais real e imersiva, trazendo o consumidor para o lifestyle da corrida.
Aimo e o foco na estética clean
A Aimo é outro exemplo de união entre criatividade e performance. A marca tem como proposta unir estética clean, funcionalidade e tecidos de alta qualidade para quem está inserido na cultura da corrida. Além disso, a promoção de corridas de rua gratuitas e a criação da Casa Aimo — um espaço físico alinhado com o propósito da marca — foram algumas estratégias que deram muito certo.
High Minded e o slow fashion na corrida
Já a High Minded tem uma pegada cool e o foco em proporcionar uma “experiência de corrida multicultural". Ela é uma marca de slow fashion que une qualidade e acessibilidade no vestuário para corredores que buscam performance com estilo e preço justo. A estética é minimalista e urbana.
O diferencial da marca é que as coleções são lançadas a cada três meses, sempre com uma pegada descolada e até bem-humorada. Por conta disso, ela possui uma comunidade pequena, mas fiel — e possui a autenticidade que o corredor comum busca.
Running Land e o espaço para corredores
Além das marcas, espaços voltados para corredores também têm ganhado relevância. Um dos principais exemplos é a Running Land, criada pela Norte Marketing Esportivo com um investimento de R$ 55 milhões.
O espaço de 1.200 m² fica em frente ao Parque Ibirapuera, em São Paulo, e reúne loja de artigos esportivos, centro de fisioterapia e ortopedia, café, estúdio de treino, rooftop para eventos e um espaço para retirada de kits. Em 2024, a Running Land também inaugurou uma unidade no Rio de Janeiro.
A ideia é oferecer uma experiência completa ao corredor, do iniciante ao profissional, com produtos, serviços e comunidade — e a expectativa da empresa é atingir R$ 700 milhões em faturamento até 2027.

o que esperar do futuro no mercado de corrida?
Segundo a Allied Market Research, o mercado global de running deve ultrapassar os US$ 95 bilhões até 2027. No Brasil, a expectativa é de um crescimento anual de 11,94% até 2029, conforme dados da Statista. Já o mercado de corridas de rua deve crescer 25% até o fim de 2025, segundo Daniel Krutman, CEO da Ticket Sports.
Quando correr se torna mais que competição, mas também sinônimo de bem-estar, encontros e até de estilo, e o consumidor busca cada vez mais produtos que o acompanhem dos 10k ao look de trabalho, ganham espaço as marcas que apostam em fazer diferente e ouvir o consumidor. E, nesse cenário, a indústria nacional se mostra uma potência real.
