Como eu aprendi a estar sozinha e apreciar minha própria companhia

por Giulia Coronato

Eu sempre fui uma pessoa que julgou como insuportável o ato de estar sozinha, o silêncio, a falta de contato com o outro e tudo o que envolvia estar em minha própria companhia não me agradava e me soava até assustador. Passei anos da minha vida - a maior parte - necessitando estar rodeada de pessoas, não conseguia ir jantar sozinha, ir às compras sozinha e até para ir ao supermercado eu convidava uma amiga para se juntar a mim. E quando eu estava só, precisava de barulho, de vozes, era inconcebível a noção de pegar um metrô sem fone de ouvido, sair para correr sem uma música alta ou até tomar banho sem ter um podcast de plano de fundo.

De um tempo pra cá, principalmente a partir do início da pandemia, me vi completamente refém da minha incapacidade de estar sozinha ao mesmo tempo que me vi no momento mais só de toda a minha vida e comecei a notar o quanto isso já me colocou em ciladas, comecei a me questionar por que eu tinha tanto medo de encarar a mim mesma, e por que não só como indivíduo, mas como sociedade, vemos a solitude como algo tão negativo e desesperador? Quando na verdade, ela pode ser extremamente prazerosa e benéfica. 

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Foto: Giulia Coronato (Reprodução/Instagram)


Crescemos rodeados de filmes, séries e livros que nos falam que estar sozinha é sinônimo de fracassar e que ter alguém do nosso lado é métrica de uma vida adulta bem sucedida. Se pararmos para pensar no início de nossa vida, quando somos crianças, nossa própria companhia nos bastava. Brincar, falar e se divertir sozinho é factível e prazeroso para uma criança, mas conforme crescemos necessitados de mais e de outros. É claro que não estou aqui para falar que devemos nos isolar e viver sozinhos como ermitões pelo resto da eternidade, muito pelo contrário, o ser humano é um ser social, que constrói sua identidade na relação com o outro, mas o meu ponto é que a solidão vista como algo ruim, vista como um fracasso, é puramente uma construção social, é algo que nos foi dito por tanto tempo e que acabamos acreditando e constantemente lutando contra o estado de solitude.

Quando penso no background da minha história, vejo o quanto o medo de estar sozinha na verdade só me colocou em situações onde eu mais sentia solidão. Durante anos, eu preferia estar infeliz em um relacionamento do que estar só, negava diversas das minhas vontades e dos meus limites por medo do outro ir embora, e eu terminar sozinha. Me joguei em aplicativos de relacionamento logo após um término, porque queria encurtar ao máximo aquele período de solidão, aceitei convites de festas que não queria ir só para não passar um sábado a noite em casa comigo mesma. E dentro desses cenários, rodeada de pessoas, eu ainda me sentia só, porque a solidão não está ligada à presença física do outro. É claro que estar sozinha também pode envolver um sentimento de solidão, mas o que quero dizer é que estar à dois, ou rodeada de pessoas não te priva disso, e muitas vezes a gente só busca o outro para fugir de nós mesmos. Entender isso foi o começo para eu finalmente perder o medo de estar comigo mesma. 

estar acompanhada ou rodeada de pessoas não te priva da solidão, e muitas vezes a gente só busca o outro para fugir de nós mesmos.

Foi só quando dei uma chance para mim mesma e quebrei o gelo do auto-convívio que eu entendi o porque estar sozinha era tão difícil. Lidar com nossos medos, pensamentos, dores e questões é muito mais trabalhoso e desgastante do que lidar com o outro, mas ao mesmo tempo muito mais necessário. E eu, que sempre me julguei como uma pessoa que desprezava estar sozinha, percebi que "a cura" para minha solidão, era na verdade a solitude, e quanto mais eu ficava solo e mais eu aprendia a apreciar minha própria companhia, menos solidão eu sentia. 

É claro que não foi do dia para a noite que eu comecei a apreciar a solitude, assim como tudo na vida e na construção da nossa inteligência emocional, levou tempo e esforço. Tive que aprender a ouvir e controlar meus pensamentos, a não buscar estímulos externos quando estou sozinha, seja de uma pessoa ou do meu celular, comecei a meditar, me desafiei a sair para uma rápida caminhada pela manhã sem fones de ouvido, comecei a conversar comigo mesma, em alto e bom som, e daí que vou parecer maluca? Mas, o conselho mais importante que quero te dar a fim de melhorar seu convívio consigo mesma, é criar hábitos solos. Como por exemplo, a leitura. Não existe uma atividade mais só do que ler um livro! A prática do yoga ou da meditação, onde você precisa focar em si mesmo, também me ajudaram, assim como começar um diário, ou somente sair para dar uma volta no bairro sem celular. Quanto mais incluirmos em nossa rotina práticas e hobbies que fazemos sozinhas, mas iremos nos acostumar com a noção de estar só e menos iremos sentir solidão quando estivermos em nossa própria companhia. 

Hoje, eu adoro estar sozinha, fazer minhas próprias coisas e curtir a mim mesma. Ainda fico um pouco insegura quando vou a um restaurante sem companhias, ou quando esqueço meus fones de ouvido em casa, e a ideia de viajar sozinha ainda me apavora. Mas tudo bem! Já percorri um longo caminho, e ainda há muito mais a ser percorrido, nessa jornada de solitude e amor próprio.

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