Dentro do podre de chique: um acervo cheio de informação de moda no Rio
Na antiga Fábrica Behring, no Rio de Janeiro, Antonio Schuback e Marina Franco abriram o Podre de Chique, um acervo de figurino e moda com espírito pop e vintage. Ele é o “podre”, ela é o “chique” — como brincam. Juntos, criaram um espaço que vai de peças raras a partir dos anos 20 a garimpos improváveis, como o casaco de couro azul favorito de Antonio, que ele achou em Venice Beach por 30 reais.

Antonio Schuback é um ícone do Rio. Com seus looks absolutamente incríveis e uma personalidade que não passa despercebida, ele é um personagem da nossa cidade. Além de tudo, é meu melhor amigo, o que faz com que essa visita ao acervo tenha sido ainda mais especial. Formado em design gráfico, Antonio é stylist, figurinista e produtor de conteúdo. Meio punk, meio tropical, meio clubber, meio vintage — e totalmente ele mesmo. É conhecido por seu repertório cheio de cor, humor e referências transformado em projetos autênticos.
Ao lado dele está Marina Franco, figurinista com muitos anos de experiência e um olhar afiadíssimo. Marina assina figurinos de filmes, séries, campanhas de moda e publicidade. Também é uma entusiasta da cultura vintage e de um consumo de moda mais consciente. Seu trabalho é movido por muitas paixões, e ela tem um rigor que só quem é realmente da moda entende.
Juntos, criaram o Podre de Chique: um acervo que traduz tanto referências quanto o olhar técnico, o rigor e o delírio, o pop e o vintage.

o começo: juntar forças, referências e roupas
A gente queria juntar forças porque o audiovisual exige uma carga de trabalho enorme. Temos uma visão estética parecida, mas com nuances: Antonio é mais pop e contemporâneo e Marina, a rainha do vintage chic.
Antonio, que veio da moda e passou a trabalhar com figurino de cinema há alguns anos, percebeu que as peças que guardava começaram a despertar o interesse de outros figurinistas. "Foi um clique. Percebi que dava pra transformar isso em acervo", conta.

do caos ao catálogo
No Rio, acervos são conhecidos por seu bom conteúdo, mas nem sempre pela organização. O Podre de Chique quebra essa lógica com um olhar afiado e uma boa dose de humor. ‘’Acervo é sim um lugar de muita roupa guardada, mas que não precisa ser uma bagunça’' diz Antonio.
O espaço tem tudo catalogado por cor, peça, raridade e memória. Tem cheiro bom, tem identidade visual e uma estética toda própria.
Marina ajeita cada peça nas araras. Ajusta o cabide de forma certa, a posição certa e eu anoto mentalmente para repetir em casa. Ela tem um olhar exigente e impecável. As peças dela são absurdas. Vintage de verdade, com marcas que nem existem mais. Tudo tem história, contexto e cuidado.
Já Antonio, um pouco mais desapegado nessa parte, funciona como o contraponto perfeito. O tom irônico entre os dois é constante e delicioso de observar. Um acervo que funciona como dupla.

as peças favoritas
O acervo não é sobre preço, e sim sobre raridade. "O que a gente valoriza são as peças que não se encontram mais — como uma calça jeans dos anos 90 com lavagem impossível de achar hoje", explica Antonio.
Ao perguntar a ele sobre a peça favorita, não houve dúvida: "esse casaco azul de couro que encontrei em Venice Beach por 30 reais. Não tem a ver com dinheiro, mas com o achado".
Tem também Balenciaga, peças de família e uma seleção de itens dos anos 20 em diante. No cinema, eles contam, o erro imperdoável é errar pra frente, e não pra trás e eu amei saber dessa informação.
um acervo como psicanálise
Marina diz que o acervo reflete as neuroses e apegos dos dois. "Eu me mudei há seis meses e ainda tenho caixas em casa. Tem peça que eu lembro de usar aos 19 anos, tem roupa que era da minha avó. É psicanalítico."
Há até uma peça com história familiar. "Tem uma calça no acervo que meus pais usaram no primeiro encontro", conta, rindo. "De alguma forma, organizar esse passado, tirá-lo de casa e dar a ele um novo contexto parece libertador."
e o futuro do podre de chique?
Quando pergunto os próximos passos, Marina brinca que seu sonho é ter uma lavanderia, um espaço para envelhecimento de peças e, quem sabe, até um museu.
Ela mesma ri da ideia, claro. Mas o mais curioso é que, do jeito que eles são talentosos, metódicos e cheios de referências, se um dia esse museu virar realidade, vai ser babado.
