Disruptores endócrinos: entenda o que pode estar afetando seu bem-estar

por Dra. Luísa Comerlato

Por muito tempo, imaginamos que as maiores ameaças à nossa saúde vinham apenas de hábitos evidentes: má alimentação, sedentarismo, tabagismo, falta de sono. Mas existe um agente silencioso, discreto e, infelizmente, muito mais presente no nosso dia a dia: os disruptores endócrinos.

o que são disruptores endócrinos

Essas substâncias químicas, encontradas em plásticos, cosméticos, pesticidas, fragrâncias sintéticas e até em embalagens de alimentos, têm a capacidade de interferir no delicado sistema hormonal que regula praticamente tudo no nosso corpo: metabolismo, fertilidade, saúde mental, ganho de peso.

Tecnicamente, os disruptores endócrinos são compostos capazes de interferir na produção, liberação, transporte, metabolismo ou eliminação de hormônios, alterando o funcionamento do sistema endócrino.

Sala aconchegante com laptop, velas acesas e pessoa relaxando na cadeira.tratamento contra disruptores endócrinos não é visível.
Foto: @lizarudkevich (Reprodução/Instagram)


Eles podem agir imitando hormônios naturais, bloqueando receptores ou modificando a sensibilidade dos tecidos a esses sinais químicos. Prejudicando o adequado funcionamento de hormônios como estrogênio, testosterona, insulina, glândula tireóide entre outros. 

Isso resulta em uma desordem bioquímica que pode contribuir para:

  • Ganho de gordura corporal, especialmente abdominal;
  • Alterações na fertilidade feminina e masculina;
  • Puberdade precoce em crianças;
  • Resistência insulínica e risco aumentado para diabetes tipo 2;
  • Disfunção tireoidiana;
  • Maior predisposição a alguns tipos de câncer hormônio-dependentes.

Se fosse possível mapeá-los a olho nu, descobriríamos que eles se escondem em objetos e produtos de uso diário: na garrafinha de água plástica esquecida no carro ao sol, no batom que você usa todos os dias, no perfume “assinatura” que te acompanha há anos, na panela antiaderente desgastada e até no recibo do supermercado.

Eles não estão restritos a um único hábito ou produto — estão espalhados pelo nosso cotidiano, criando uma exposição constante e cumulativa.

Jovem de olhos fechados, com fones de ouvido, em roupa de treino azul sob sombras de árvores.
Foto: Elena Stavinoha (Reprodução/Pinterest)

Existem maneiras de reduzir a exposição aos disruptores endócrinos, sem “viver em uma bolha”, com ajustes simples no nosso dia a dia: 

  • Prefira alimentos frescos, evitando ultraprocessados embalados em plástico;
  • Use garrafas e potes de vidro, principalmente para líquidos quentes;
  • Opte por cosméticos e produtos de higiene sem fragrância artificial e livres de parabenos e ftalatos;
  • Troque panelas antiaderentes antigas por cerâmica de boa qualidade;
  • Opte por alimentos orgânicos, sempre que possível e lave frutas e verduras para reduzir resíduos de agrotóxicos.

Normalizamos aquecer comida no pote plástico no micro-ondas, borrifar perfume sintético todas as manhãs e beber água armazenada por dias em garrafas de plástico. Porém, a ciência já sabe que esse “normal” pode ter um custo alto para a sua saúde.

E é aqui que a Medicina do Estilo de Vida entra como aliada: não apenas para orientar sobre alimentação e atividade física, mas também para ajudar a identificar e reduzir exposições invisíveis que afetam o equilíbrio hormonal, prevenindo doenças e promovendo uma saúde mais sustentável ao longo da vida.