Ao refletir sobre meu estilo pessoal, percebi que não sou nem um pouco original — e, honestamente, está tudo certo. Acredito que todos nós somos um mix de referências que absorvemos e convivemos diariamente. Nem sempre é uma superestrela que define nosso estilo; às vezes, são as roupas daquela tia ou a amiga criativa que sabe usar os melhores acessórios, trazendo inspirações inesperadas.
Para muitos, encontrar o estilo pessoal envolve um processo de experimentação, testando diferentes influências e inspirações até chegar a uma estética que reflita autenticamente quem somos. É um caminho que revela não só gostos, mas também valores e nossa visão de mundo.
No entanto, esse é um tema complexo demais para ser abordado por uma pessoa só. Posso compartilhar minhas perspectivas e vivências — e vou fazer isso. Mas, para um panorama ainda mais amplo, convoquei quatro look stealers para nos contarem sobre suas jornadas de estilo pessoal.
@giuliacoronato
Apesar de ser formada em moda e de trabalhar na indústria há muitos anos, considero que levei bastante tempo para construir meu estilo pessoal. Digo construir, porque acredito que é um processo de construção contínua, e não uma simples descoberta. Quando comecei no mercado, sentia uma enorme pressão para me encaixar e acompanhar todas as tendências. Eu queria ter tudo o que estivesse em alta, o que resultou em uma dívida no banco e um guarda-roupa Frankenstein, que não tinha nada a ver comigo.
Com o tempo, e através de muitos anos de terapia e autoconhecimento, aprendi a filtrar o que realmente fazia sentido para mim. Aos poucos, fui construindo um gosto pessoal e montando um armário que realmente me representa. Ter um estilo pessoal, embora possa parecer difícil, é nada mais do que se conhecer o suficiente para saber o que você ama e prioriza. É sobre usar o que faz você se sentir bem.
Com a maturidade e o aprofundamento no autoconhecimento, encontrei um estilo que funciona para mim. Na época da faculdade, eu me forçava a ser mais colorida e estampada porque achava lindo nos outros e super criativo. Mas, na prática, eu me sentia desconfortável, uma verdadeira “palhaça”. Me aceitar e entender essa limitação foi libertador! Hoje sei que me sinto bem com cores neutras e, quando quero um look mais fashionista ou criativo, ouso na modelagem ou no material, mantendo uma paleta sóbria.
A maternidade também teve um impacto direto no meu estilo. Ser mãe transforma tudo, inclusive a forma como nos enxergamos e nos vestimos. Depois que minha filha nasceu, comecei a me desconectar de algumas peças do meu guarda-roupa, como as minissaias. Sempre amei o comprimento mini, mas, pela praticidade e conforto, ele acabou perdendo um pouco de relevância para mim.
Hoje, se tivesse que definir meu estilo, diria que é minimalista with a twist! Não me considero 100% original, até porque acredito que somos uma soma das pessoas, lugares, arte e conteúdos que consumimos. O estilo de várias pessoas me inspira diariamente: adoro o estilo da Hailey Bieber, do Harry Styles, da Alexa Chung, da Emma Chamberlain, das minhas amigas e de muitos outros que cruzam meu caminho e me inspiram.
@belasuzuki
Não estou dizendo que sou uma pessoa evoluída e imune às tendências atuais. Na verdade, hoje é ainda mais difícil resistir às novidades. Dez anos atrás, não tínhamos o TikTok para alimentar o desejo constante por peças novas, e o marketing de influência era completamente diferente. A diferença é que agora eu tenho mais discernimento para avaliar: será que preciso dessa tendência, ou é só a minha mente me pregando uma peça?
Esse processo de definir o estilo pessoal pode envolver referências como ícones da moda, épocas históricas e cores favoritas, e até funcionar como uma forma de autodescoberta e resistência cultural. Ele exige paciência, tempo e o próprio ritmo.
Na construção do meu estilo, também me inspiro nas mulheres que vejo diariamente ao construir pautas para o Steal The Look. Eu me identifico com o estilo de Hailey Bieber, Kendall Jenner e, claro, tenho uma pitada das roupas vintage do meu pai. Sou um pouco de tudo e de todos — sem pretensões de originalidade, mas com muita praticidade. Meu guarda-roupa neutro e clássico, com um toque moderno (sim, me rendi às bermudas esportivas), me faz sentir bem.
@karenmerilyn
Eu costumo dizer que me visto como uma apresentadora de programa infantil, porque amo tudo que é colorido, divertido, brilhoso e até lúdico. Claro que isso gera olhares por todos os lados e por isso eu precisei aprender a lição mais importante enquanto mergulhava cada vez mais no que eu gosto: se meu estilo é uma expressão de quem eu sou, quem tem que amar sou eu, não os outros.
Foram muitos anos até eu começar a me vestir com consciência do que eu gosto, do que funciona para minha realidade e do que me faz feliz. Isso é extremamente importante para mim, porque nada me traz um bem-estar maior do que estar vestindo algo que seja 100% a minha cara, mesmo que para as outras pessoas eu esteja parecendo excêntrica demais.
Para isso, minhas referências são diversas e compostas por mulheres ou personagens que não têm medo das cores, afinal, a vida é muito curta para ceder ao minimalismo. Então, me inspiro em pessoas como Erykah Badu, Tracee Ellis Ross e personagens icônicos como a Raven e as Três Espiãs Demais.
Apesar disso, sei que é impossível ser 100% única, pois somos todos cercadas de referências do nosso tempo. O que tento fazer é não usar tendências apenas copiando o que está em alta, mas dando o meu toque pessoal. Se outra pessoa teve a mesma ideia, que ótimo! Significa que encontrei alguém que tem um gosto parecido com o meu e vai me inspirar de várias formas.
Por fim, acredito muito que um estilo autêntico é aquele que te deixa feliz, que é a tradução da sua essência para o mundo e não necessariamente algo que ninguém usou antes.
@chelssofia
Eu lembro que, este ano, surgiu uma estética apelidada de grandpacore. Quando vi, dei um belo de um grito: "Finalmente! Encontrei um estilo que me descreve dos pés à cabeça." Mas, antes disso, um breve contexto. Eu, Sofia, sempre fui apaixonada por história, e uma das minhas memórias mais afetivas da infância é a minha tia, sentada aos pés da cama, contando histórias antes de dormir. Essa paixão também se refletia nas nossas visitas a sebos e brechós de móveis usados, onde garimpávamos peças únicas que também contavam histórias, mas de uma maneira diferente.
Vindo do interior, eu sentia que as opções ao meu redor eram limitadas, bem diferente de uma grande capital como São Paulo. Apesar de ser tímida, sempre tive a vontade de ser diferente e "notada". Tudo o que pudesse contar histórias me encantava — desde os objetos em casa até as roupas que eu vestia. Hoje, mantenho os bons hábitos que aprendi desde pequena. Ir à feira de antiguidades do Bixiga todo domingo virou um compromisso, assim como visitar brechós em São Paulo — e pelo mundo.
Nosso estilo pessoal diz muito sobre nossa essência e influências, e isso muitas vezes começa em casa. Meu namorado, por exemplo, é fascinado por esportes, e com o tempo aprendi a gostar e acompanhar também. Agora, sinto que meu guarda-roupa reflete isso — as paixões que compartilhamos. Eu me visto como um senhor de 60 anos: dad shoes, chave de casa no passante da calça (um charme!), tricôs e camisas estampadas, com a gola aparecendo. Minha paleta de cores é mais neutra, já que, embora eu ame cores, elas parecem não combinar tanto com meu tom de pele.
Adoro peças de alfaiataria e tricôs, especialmente se forem vintage, como um bom e velho sobretudo ou jaquetas de couro. Para dar um toque de sportwear, misturo camisas de time vintage e tênis chuteira, sempre com meias altíssimas. E, em contraponto a essa estética mais "masculina", gosto de usar acessórios ultrafemininos, como big scrunchies, presilhas ou lenços no cabelo.
Sem sombra de dúvidas, como vocês podem perceber, minha maior influência vem da minha tia, do meu namorado, e claro, de outras pessoas que eu amo acompanhar, como Sofia Coelho, Rita Montezuma, Maria do Carmo Queiroga e muitas outras garotas estilosíssimas. Falando de celebridades, sou apaixonada pelo estilo de Harry Styles — poderíamos facilmente dividir o mesmo guarda-roupa — e também pelo de Agostinho Carrara (sim, eu coloco os dois no mesmo patamar de referência). Apesar de básicas, eu adoro também o estilo das gêmeas Olsen desde sempre. E por falar em irmãs, sou obcecada por Bella e Gigi Hadid, e não poderia esquecer da Hailey. Ah, e claro, minha designer favorita da vida: Vivienne Westwood.
Quanto às minhas peças favoritas do momento, o destaque vai para minha jaqueta de couro estonada, que procurei por meses até encontrar o que buscava e ENCONTREI, garimpado por 250$. Golas bonecas são um super charme, assim como qualquer outra gola diferentona, que tira qualquer produção básica do óbvio. Tênis com uma pegada vintage e esportiva são outra obsessão. E, claro, muitos acessórios de cabelo gigantes!
@maispramay
Defino meu estilo como uma fusão de streetwear com signos da periferia. Gosto de peças que traduzem atitude e autenticidade: camisas de time, tênis casuais com um toque esportivo, saias e calças cargo, além de camisas oversized. Adoro também contrastar peças mais leves e volumosas, como saias midi amplas, com elementos utilitários repletos de bolsos e zíperes, que trazem um toque fashionista para qualquer ocasião. Nos acessórios, sempre dou um toque romântico, um detalhe que reflete bem a minha personalidade, como brincos e lenços que trazem leveza ao visual.
Minha maior inspiração vem do estilo da minha mãe nos anos 90 e 2000. Tenho lembranças dos looks dela, e acredito que esse meu lado romântico veio muito dela, que hoje adapto ao meu próprio visual. Também misturo a estética do hip hop, influenciada pelos clipes que eu assistia na época da MTV e da Mix TV.
Acredito que ninguém é 100% original, afinal, todos bebemos de diferentes fontes ao longo da vida. Mas sempre me esforço para imprimir um pouco de quem eu sou no meu estilo. Sou única, mesmo sendo formada por muitas referências.