Fim do efeito Fenty Beauty? Onde está a diversidade nas marcas de beleza?

por Inaê Ribeiro

Em 2017, o lançamento da Fenty Beauty revolucionou o mercado de beleza. A diversidade de tons de base oferecida pela marca foi algo inédito, gerando um burburinho mundial, já que, até então, a variedade de cores disponíveis era extremamente limitada. Pela primeira vez, pessoas albinas e de pele retinta puderam encontrar o tom ideal para suas peles, com 40 opções de tonalidades (hoje são 50).

Essa diversidade forçou marcas como Dior e CoverGirl (marca norte americana) a expandirem suas gamas de cores. O impacto da marca de Rihanna foi além de um ajuste de contas: representou o início de uma mudança significativa no mercado global, promovendo uma maior aceitação e discussões sobre diversidade, o que ficou conhecido como o "efeito Fenty Beauty".

No entanto, essa mudança não parece ter sido duradoura. Poucos anos depois, o cenário parece estar retrocedendo, com muitas marcas lançando produtos voltados majoritariamente para peles claras ou promovidos como "universais", mas que, na prática, não atendem às peles mais escuras.

Mulher sorridente com cabelos longos ondulados e louros. Usa blusa branca, joias delicadas, e relógio prateado. Maquiagem destaca brilho labial e olhos marcados. Estilo moderno e sofisticado com ênfase na simplicidade e elegância. Fenty Beauty
Foto: @golloria (Reprodução/ Instagram)


a importância de golloria george no mercado da beleza

Infelizmente, muitas marcas apenas aumentaram suas opções de tons de maneira superficial, sem realizar testes suficientes para garantir que os subtons das peles mais escuras fossem atendidos. Essa percepção surge depois de uma análise do mercado e do aumento de denúncias nas redes sociais, muitas delas destacadas pela influenciadora sul-sudanesa Golloria George, uma importante voz na luta por mais diversidade nas marcas de beleza. 

A jornada de Golloria começou em 2022, quando visitou uma farmácia e percebeu que o tom mais escuro disponível ainda era muito claro para sua pele. O vídeo que postou relatando a experiência viralizou, atingindo 20 milhões de visualizações, chamando atenção para a falta de inclusão.  “Percebi que as pessoas ainda querem muito ver esse tipo de conteúdo. A falta de inclusão de tons era quase ensurdecedora”, disse Golloria em uma entrevista ao The Business of Beauty. 

Desde então, a influenciadora tem criado conteúdos testando produtos na sua pele retinta, mostrando o que funciona e o que não. Um exemplo foi o lançamento da base Date Night Skin Tint Serum da Youthforia, que se tornou um escândalo após a expansão de suas cores não atender adequadamente tons mais escuros. Golloria, ao testar o produto, percebeu que a tonalidade mais escura era preta, um erro ofensivo e desrespeitoso. “Quando eu coloquei no meu rosto, eu sabia que isso não funcionaria para mim, ou para qualquer outra pessoa que fosse mais escura do que eu, porque [o tom da base] era literalmente preto”, disse em entrevista ao Unbothered.

Recentemente, a influenciadora destacou problemas nos blushes da YSL, que, apesar de serem anunciados como "universais", em suas seis tonalidades não funcionavam para peles retintas. As campanhas publicitárias apresentavam fotos de pessoas negras, criando uma falsa impressão de inclusão, claramente manipuladas por tratamento de imagem. Outro caso envolveu a marca Rhode, de Hailey Bieber, cujos blushes também não eram adequados para peles escuras. Após a repercussão, Hailey entrou em contato com Golloria e desenvolveu novos tons, que agora funcionam na pele retinta.

Jovem aplicando batom nude, usando jaqueta cinza esportiva sobre regata branca, unhas pintadas de roxo e anéis chamativos. Cabelo cacheado e penteado com trança frontal. Estilo casual e moderno. Fenty Beauty
Foto: Fenty Beauty (Reprodução/ Instagram)

o racismo nas marcas

Atualmente, podemos dizer que a influenciadora caminha ao lado do "efeito Fenty Beauty", lutando para que marcas e consumidores reconheçam a importância da diversidade. No entanto, infelizmente, essa mensagem ainda enfrenta resistência. Os comentários nos vídeos de Golloria estão repletos de racismo, críticas, e até mesmo alegações de “racismo reverso”.

O que deveria ser um padrão nas marcas de beleza, algo discutido há anos, ainda é visto como inviável para muitos. A beleza deveria ser sobre empoderamento, conexão com nosso poder, essência e identidade, mas pessoas negras continuam enfrentando a falta de espaço no setor. Ainda precisam lidar com bases de tons inapropriados ou produtos que claramente não foram pensados para elas.

beleza deveria ser sobre empoderamento, conexão com nosso poder, essência e identidade, mas pessoas negras continuam enfrentando a falta de espaço no setor

Modelo aplica gloss labial usando espelho. Veste trench coat cinza metálico e camiseta de gola alta, destacando tendências de moda urbana e estética futurista. maquiagem com destaque para delineado e brilho. Fenty Beauty
Foto: SouKeyna Diouf (Reprodução/ Instagram)

É absurdo que essa realidade ainda persista. Mais absurdo ainda é que influenciadoras como Golloria, que buscam mudar o mercado e abrir espaço para mais diversidade, precisem lidar com comentários racistas e críticas tão pesadas que as forçam a se afastar das redes sociais.

Embora seja compreensível que produzir uma ampla gama de tons envolva custos elevados, isso não justifica a falta de pesquisa e atenção às necessidades de peles diversas. A transparência é essencial, evitando campanhas enganosas e promovendo uma inclusão verdadeira no mercado de beleza.

Duas mulheres sorrindo com penteados estilizados. Moda casual com uma usando blusa branca de alças finas, tendência em trançados, e a outra com cabelo liso e longo, vestido azul e colares delicados. Estilo clean e acessórios sutis. Fenty Beauty
Foto: @_justemela_ e @golloria (Reprodução/ Instagram)

pessoas negras são ignoradas há anos no mercado de beleza, o que se torna ainda mais evidente no setor de luxo

No fundo, essa questão tem uma raiz comum: o racismo, seja ele estrutural ou direto. As pessoas negras são ignoradas há anos no mercado de beleza, o que se torna ainda mais evidente no setor de luxo, como no exemplo da Prada Beauty, que lançou 33 tons de base, dos quais apenas 10 foram classificados como "escuros". O problema, portanto, não é falta de recursos, mas a visão equivocada de que pessoas negras não são consumidoras ou não têm acesso ao luxo.

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