Analisando as últimas semanas de moda, é interessante observar que em algumas capitais, havia uma certa diversidade nas passarelas. No entanto, é preciso frisar que não, ainda não chegamos lá. O caminho ainda está a passos lentos, e isso levanta uma discussão interessante. Estamos andando na direção do progresso no mundo da moda, porque isso é extremamente necessário, ou, porque a nova geração pressiona de forma instigante a mudança?
De acordo com uma pesquisa do portal InStyle, dos 75 desfiles oficiais da New York Fashion Week, apenas 15 possuem uma etiqueta que vai acima do tamanho 50 — ou seja, o XXL para eles. Além disso, não são todas as roupas das coleções apresentadas que vão até uma numeração maior. Portanto, às vezes, nem o que é mostrado nas passarelas corresponde à realidade, e as grifes acabam por não atender a maioria das pessoas.
No entanto, comparando com apenas dois anos atrás — onde dependíamos de alguns poucos nomes como Ashley Graham ou Paloma Elsesser —, ver novos rostos, cores, corpos e gêneros, nos traz mais esperança de que, algum dia, veremos uma verdadeira e significativa diversidade nas passarelas:
Mesmo com a crescente discussão e inclusão nas passarelas, capas de revista e até mesmo nos bastidores, pouco se fala sobre uma parcela da população que ainda é esquecida nesse debate: as pessoas com deficiência. Apesar de alguns passos dados, ainda existe uma escassez enorme de estilos de roupas adaptáveis, oportunidades e visibilidade para pessoas portadoras de deficiência.
No entanto, uma iniciativa em Londres, busca mudar esse cenário. Fundada por Faduma Farah, em parceria com a Oxford Fashion Studio, uma competição com seis designers pré-selecionados resultou na primeira coleção de moda criada especialmente para cadeirantes. A estilista, Harriet Eccleston, apresentou seu desfile na semana de moda de Londres em setembro do ano passado, na Devonshire Square.
De acordo com um relatório de 2011 da Organização Mundial da Saúde, as pessoas com deficiência representam cerca de 15% da população, cerca de um bilhão de pessoas. Será que esse número já não era o suficiente para começarmos a falar mais sobre como a moda é injusta para esse grupo? — em especial, a alta-costura.
A modelo Aaron Rose Philip — que apareceu na última coleção da Collina Strada e desfilou usando um look Moschino personalizado no dia da Pride Parade em 2021 —, também vem conquistando um espaço enorme no mundo da moda ao longo desses últimos dois anos. Em entrevista para a Vogue norte-americana, Jeremy Scott afirmou que “ela não está apenas quebrando barreiras para si mesma — ela está trabalhando para fazer isso para muitos outros também.”
Mulheres mais velhas também estão na gama de pessoas que precisam de mais atenção quando o assunto é diversidade nas passarelas, afinal, a moda não tem idade, ou pelo menos, não deveria ter. Iris Apfel é a prova viva de que nunca se está “velha demais” para se divertir com o que o universo fashion tem a oferecer — e ela tem 100 anos.
Em Paris, Valentino se destacou por incluir modelos mais velhas em seus desfiles — ready-to-wear e alta-costura também —, porém, ainda é difícil encontrar uma variedade etária. Geralmente, são apresentadas apenas uma ou duas modelos mais maduras nas passarelas. É preciso levar em conta que, as mulheres após os 50, 60 ou 70 anos, também se interessam por roupas estilosas. Isso sem mencionar que essa é a geração com maior poder de compra.
Depois de anos acostumadas a ver os desfiles da Victoria 's Secret e o seu padrão exigente, e quase inatingível, de corpo ideal, Rihanna chegou com um presente para todos aqueles que sonhavam com um momento similar ao das famosas angels. A empresária não poupou esforços para que todos se sentissem bem-vindos e confiantes, usando lingeries bem sensuais, ousadas e poderosas.
O já tradicional desfile anual da Savage X Fenty é um vislumbre do verdadeiro significado de diversidade nas passarelas, já que ele conta com pessoas com todos os biotipos, diferentes etnias e gêneros, criando uma sensação de pertencimento muito grande. Além, claro, de gerar muita identificação e representatividade, algo importantíssimo quando falamos em moda.
Christian Siriano é uma das pouquíssimas grifes a atender o mercado plus size com roupas acima da numeração 56. O designer, quase sempre, fez questão de apresentar um pouco de diversidade nas passarelas, e suas coleções contam com peças realmente bonitas e estilosas — que é outra grande falha no mercado da moda.
Porém, não podemos negar que, a medida em que a diversidade nas passarelas abre portas para mudanças e para uma nova geração de modelos - que estão conquistando o seu espaço e quebrando barreiras -, às vezes, o ambiente dos bastidores ainda pode ser um um tanto quanto hostil, já que diante de alguns olhares alheios, essas modelos ‘não se encaixam naquele lugar’. Em entrevista à Vogue, a modelo Grace Brown disse que “as pessoas simplesmente te descartam porque você é uma garota maior. Eles sentem que você não merece estar ali ou não é digno de estar na mesma sala que eles”.
Em dezembro de 2021, a Chromat, uma marca de bodywear, desfilou na semana de moda de Nova York e deu um show de diversidade. A escolha do local também foi um bônus. Os modelos se apresentaram na Jason Riis Park Beach, em Nova York, também é conhecida como “a praia do povo”, já que desde a década de 40, a comunidade LGBTQIA+ usa esse espaço como um lar livre de preconceitos.
Em uma entrevista ao portal Byrdie, a diretora criativa da marca, Becca McCharen, afirmou: “com esta coleção, estamos desafiando essas noções de como os corpos trans devem se apresentar, estamos abrindo espaço e opções para cada pessoa se mostrar de uma maneira que se sinta confortável e fiel a si mesma.”
Bom, a verdade é que ainda há um longo trabalho a ser feito em relação a diversidade nas passarelas, ainda existem muitas mudanças que precisam ocorrer nos próximos anos. É preciso identificar quem está se unindo à luta pela diversidade apenas por conveniência — o que acontece com muita frequência —, e quem, de fato, está empenhado em ser utópico, “mudar o mundo” e como as pessoas se enxergam.
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