Hoje, dia 02 de fevereiro, o jornalismo brasileiro e mundial perdeu uma das suas maiores profissionais. Glória Maria transformou o mercado jornalístico, abrindo portas e sendo inspiração para diversos profissionais e, principalmente, para mulheres pretas. Ela foi a primeira repórter negra da TV brasileira, ainda em 1971, época em que os profissionais não apareciam em vídeo, mas também foi Glória Maria a responsável por fazer o primeiro link ao vivo na TV, isso já em 1976.
A carreira da Glória Maria foi marcada por pioneirismo e grandes reportagens, mas a sua presença pública ia muito além disso, ela fez parte dos dias dos brasileiros, foi inspiração em escolas de jornalismo e permitiu que mulheres e meninas pretas sonhassem chegar onde ela chegou.
Glória Maria também esteve na primeira transmissão em HD da TV brasileira, no Fantástico em 2007, mas sua presença no programa jornalístico não foi bem aceita por muitas pessoas. Durante entrevista para a revista Trip, em 2011, afirmou: "para muita gente, era uma agressão eu estar lá. Como uma mulher negra podia estar apresentando um programa que é símbolo de glamour, de mulheres lindas? Teve gente que disse que eu apresentava O Fantástico por causa do movimento negro”.
Outro marco na carreira de Glória Maria foram as entrevistas realizadas com grandes celebridades, como Freddie Mercury, Elton John, Mick Jagger e Michael Jackson - ela foi, inclusive, a única jornalista que conseguiu conversar com o rei do pop no dia da gravação do clipe "They Don't Care About Us" no Rio de Janeiro. Somando a sua trajetória, ela também esteve presente em diversos momentos marcantes da história mundial, como como o atentado ao Rio Centro (em 1981), a Guerra das Malvinas (em 1982), o Rock in Rio I (em 1985), as Olimpíadas de Los Angeles (em 1984), a chacina da Candelária (em 1990) e vários outros.
Glória Maria viveu sem fronteiras, seja abrindo portas no mercado, saindo da órbita da Terra para experimentar a gravidade zero em 2007, visitando “mais ou menos” 156 países ou sendo a primeira mulher a usar a Lei Afonso Arinos contra a discriminação racial no Brasil, quando um gerente de um hotel de luxo não a deixou entrar pela porta da frente na década de 1970.
Hoje, celebramos a vida, história e todos os ensinamentos e oportunidades que Glória Maria deixou à nós, ao nosso país e ao mundo todo. Eu, Inaê, repórter que escreve essa matéria, fui uma das tantas meninas negras que cresceu vendo a Glória na TV e, mesmo que ela fosse a única por tanto tempo, me deu esperanças de que ali também era o meu lugar. Glória despertou em mim a admiração pelo jornalismo, por contar histórias, por conhecer novas pessoas e culturas e me fez ter a certeza de que mulheres pretas podem e irão chegar em lugares de poder e destaque.
