Chegamos em mais uma edição da nossa série que tem como objetivo compartilhar acontecimentos marcantes, momentos inesquecíveis, personagens relevantes e curiosidades a respeito de fatos que fazem parte da história da moda. No mês de Agosto, a eleita para ser pauta da nossa #StealTheClass é a mítica Tiffany & Co.
A caixinha de azul característico que carrega sonhos e é sinônimo de romance, já que suas alianças icônicas são as mais desejadas para selar histórias de amor. O lugar favorito para tomar café da manhã de Holly Golightly, a inesquecível personagem de Audrey Hepburn em "Bonequinha De Luxo”, as colaborações com artistas espetaculares como Jean Schlumberger e Elsa Peretti, os diamantes de beleza - e valor- inacreditáveis.
Com seu conhecido legado, ela vive momento de transição já que no início de 2021, passou a fazer parte do portfólio do grupo LVMH, na maior aquisição já realizada na história do mercado de luxo. A marca com quase 200 anos de vida enfrenta o desafio de se modernizar, sem perder seu allure atemporal. Mas o caminho foi longo para chegar até aqui e é essa história brilhante, cheia de inovação, excelência e designs inspiradores que a gente conta a seguir.
_o início
Fundada por Charles Lewis Tiffany e J.B. Young, na Nova Iorque de 1837, com investimento inicial de 1000 dólares, a Tiffany & Young foi concebida como uma espécie de papelaria e loja de artigos de decoração para casa e escritório com foco em objetos raros e diferenciados. A loja, localizada na Broadway, rapidamente se tornou conhecida pelo bom gosto e virou ponto de referência da alta sociedade. Porém, foi na década de 1850, quando Charles assumiu o negócio sozinho e começou a imprimir sua visão audaciosa, que a história da então rebatizada Tiffany, tomou forma. A essa altura, sua fama já atraia uma clientela ilustre e exigente, como Abraham Lincoln, que em 1862 foi pessoalmente comprar um conjunto de pérolas para sua esposa Anna Todd.
Incansável em sua busca para fornecer produtos de cada vez mais qualidade e aprimorar sua oferta, Charles começou a trabalhar com prata de lei, inclusive recebendo prêmio de "qualidade em prata" na Exposição Universal de Paris, feira mais importante do período. O reconhecimento alçou a joalheria ao panteão das mais importantes do mundo, a primeira americana a conquistar o feito, se equiparando com nomes internacionais e ganhando fama global. Em 1868, a Tiffany & Co passou a fabricar joias em ouro.
O fundador apresentou e redefiniu a noção de luxo nos EUA. Introduzindo joias requintadas e inéditas, consolidando sua visão ambiciosa e vanguardista.
_o rei do diamante
Fascinado por pedras preciosas e gênio do marketing, logo percebeu que não estava sozinho em seu encantamento. Charles não poupava esforços para aumentar sua coleção e adicionar mais riquezas ao acervo da Tiffany. A primeira grande tacada foi em 1878, quando adquiriu o diamante Tiffany, cujo preço é considerado inestimável, e em 1887, ao comprar, em um leilão na França, um terço das joias da coroa francesa.
A joalheria foi a primeira a ter um gemólogo em seu time, Dr. Kunz foi figura fundamental descobrindo e introduzindo pedras em cores exóticas e raras, entre elas, a Tanzanita, a Kunzita e a Morganita. Além de ter tido papel central para fomentar as pedras preciosas made in USA, ajudando a popularizar pérolas, safiras e turmalinas de origem norte-americana.
Com o falecimento de Tiffany em 1902, quem assumiu o business foi seu filho Louis. Se o pai possuía tino impagável para marketing, Louis tinha talento nato para design e se tornou o primeiro diretor criativo da marca. No embalo do movimento art nouveau, que vivia auge na época, começou a criar joias inspiradas na poesia da natureza e pouco convencionais, sem contar no seu espetacular trabalho com vitrais, resultando nas icônicas lâmpadas Tiffany, objeto de design celebrado até hoje.
_os códigos atemporais
Design elegante e trabalho artesanal impecável, o processo de avaliação das gemas assim como a construção de cada peça é rigoroso. E pode ser observado em tudo que recebe o selo Tiffany & Co. Por exemplo, os funcionários recebem treinamento específico para aprender a amarrar o laço de cetim da icônica caixa azul.
Essencialmente americana, a marca foi responsável por renovar "o grande selo dos Estados Unidos", que estampa até hoje as notas de 1 dólar. Entre os presidentes, além de Lincoln, Roosevelt comprou a aliança de noivado para sua futura esposa, Eleanor Roosevelt, na Tiffany & Co e o casal JFK e Jackie Kennedy eram clientes fiéis. Nos esportes, assinam há décadas, os troféus das duas competições mais importantes do país: do Super Bowl e da NBA.
Excelência criativa e inovação são termos chave que regem a filosofia da grife inspiradas pelo fundador.
_as marcas registradas
Impossível não começar pelo azul Tiffany. Não se sabe exatamente o motivo pelo qual Charles elegeu a cor como símbolo, o primeiro registro foi em 1945 quando a marca lançou o chamado The Blue Book, descrito como um "Catálogo de coisas úteis e extravagantes" confeccionado no tom. Entre as possíveis teorias, a popularidade das joias com pedra turquesa na Europa do século XIX, presente inclusive nas lembrancinhas de casamento favoritas das noivas vitorianas, broches em formato de pomba adornadas pela pedra. Outra alternativa coloca no centro Eugênia de Montijo, esposa de Napoleão Bonaparte, que era o equivalente a uma influencer/fashion icon da época com seus looks admirados e copiados. Reza a lenda que Charles viu uma pintura da Imperatriz usando um vestido na cor e o fato resultou na escolha do azul característico: Glamoroso, elegante e levemente exótico. Independente dos motivos, a cor é sinônimo de marca sendo inclusive patenteada e com cor própria na Pantone, a 1837 blue.
Outro item indissociável é a caixinha azul com fita de cetim branca, que foi introduzida em 1886 e se tornou tão icônica que a própria se tornou objeto de desejo, mas a regra é clara, você só poderá ter uma caso adquira algum produto da Tiffany & Co, não interessa quanto esteja disposto a pagar, ela não pode ser vendida separadamente. Hoje em dia, alguns pontos do mundo contam com o Tiffany Blue Box, todo inspirado no universo da grife, como a flagship de NY e a loja de departamentos Harrods, em Londres.
_o diamante tiffany
Em amarelo canário, 128 quilates e cortado em impressionantes 90 facetas para ressaltar o tom radiante e destacar ainda mais seu brilho espetacular, foi comprado pelo fundador em 1878 e só foi usado em público 4x. Audrey Hepburn foi a primeira e mais recentemente Lady Gaga na cerimônia do Oscar e Beyoncé em sua primeira campanha como embaixadora da marca. No restante do tempo, pode ser conferido ao vivo na loja da Quinta Avenida, onde fica em exibição permanente.
_a aliança de noivado
A cravação Tiffany & Co, lançada em 1887, é a mais clássica e foi a responsável por introduzir a ideia de alianças com solitários. Inovação da época, tornou-se o modelo mais desejado por noivas desde então. O design permite que o diamante fique completamente exposto dando a impressão que o brilhante flutua no anel.
_os objetos de decoração
Apesar da marca ser comumente lembrada pelas joias, os objetos para casa são tão importantes e icônicos quanto. As lâmpadas Tiffany e seus vitrais de tirar o fôlego e as louças são hit absoluto há décadas. O mix de produtos também inclui relógios, acessórios de couro, óculos e até fragrâncias.
_a flagship mundial
Aberta em 1940, localizada na quinta avenida em Nova Iorque, ajudou a sedimentar o status da Tiffany & Co. A loja, continua no mesmo lugar e suas vitrines fantásticas, tradição iniciada pelo fundador ainda no século retrasado, chamam atenção por sua beleza.
_breakfast at tiffany's
Baseado no livro homônimo de Truman Capote e estrelado por Audrey Hepburn, o longa "Bonequinha de luxo", foi fundamental para alçar a marca à posição singular que ocupa no imaginário popular. Em um dos diálogos do filme, a protagonista, que gostava de tomar café da manhã olhando para a vitrine acompanhada de um croissant e um café, afirma que "Nada de ruim acontece a você na Tifffany". O filme foi o primeiro autorizado a gravar nas dependências da flagship de Manhattan e após seu lançamento se tornou um clássico instantâneo e transformou o local em um dos principais pontos turísticos da cidade.
Audrey e sua Holly Golightly, tornaram-se musas da marca e a estrela manteve uma relação próxima com a grife durante toda sua vida.
_tiffany e colaborações
Parte importantíssima do legado, o trabalho autoral de nomes lendários das artes ajudou a escrever a história da Tiffany
_jean schlumberge
O francês começou sua carreira nos anos 20 fazendo botões e bijus para Elsa Schiaparelli e passou a assinar uma linha para Tiffany nos anos 50. Seus designs criativos e exuberantes agradaram em cheio nomes como Jackie Kennedy e Elizabeth Taylor. Inspirado nas formas irregulares do universo, ele tinha apreço especial por flora e fauna, com destaque para criaturas do fundo do mar. Coloridas e maximalistas, a técnica de esmaltação era sua favorita e foi reintroduzida na joalheria através de seus designs. Entre seus itens mais famosos, o broche "Bird on a rock" e as pulseiras multicoloridas de esmaltação Pailonée, favoritas de Jacqueline Kennedy.
_elsa peretti
Considerada por muitos a maior designer de joias do século XX, a italiana Elsa começou sua bem-sucedida carreira como modelo em Barcelona, até se mudar para Nova Iorque no fim dos anos 60, trabalhando com nomes como Helmut Newton e o Halston, que virou um de seus melhores amigos e também primeiro colaborador no métier, já que em 1969 ela passou a assinar joias para suas coleções, criando inclusive o frasco da primeira fragrância do badalado estilista. Em 1974, Peretti iniciou sua parceria com a Tiffany & Co, entre suas marcas registradas, shapes orgânicos e sensuais, transbordando originalidade.
Cuidadosamente construídos, ela dizia que não era artista e sim artesã, suas peças eram anatômicas, táteis e inspiradoras, capazes de invocar emoções, lágrimas, corações, animais como serpente e escorpião moldam alguns de seus lançamentos que possuíam caráter quase mágico e remetiam à amuletos . Simplificadas, reduzidas ao essencial, formas orgânicas a fascinavam. O talento de Elsa inaugurou uma nova era na joalheria. Entre suas principais contribuições, os designs em prata de lei, a linha open heart, a bone cuff, o trabalho em mesh, como o provocante sutiã feito no material e a linha Diamonds by the yard, trazendo minimalismo refinado, redefinindo o conceito de brilhantes e revolucionado o mercado de luxo com seu olhar arrebatador e escultural.
_paloma picasso
A designer, filha de Pablo Picasso, ficou conhecida por sua criatividade e fragrâncias que fazem sucesso até hoje. Na parceria com a Tiffany & Co, alguns destaques, em particular o uso de cores vibrantes e a primeira coleção batizada de "Graffitii" e inspirada na cena artística Nova-iorquina do início dos 80s.
Tantos anos de história e tradição, resultaram em um respeito inabalável, a grife manteve seu caráter atemporal - a Tiffany é sem dúvidas o lugar para ir se você quer comprar a aliança de casamento dos sonhos -, mas foi perdendo o frescor, apesar de inúmeras tentativas de se modernizar, encontrando dificuldade em acompanhar as mudanças dos tempos e aos poucos deixou de ser referência de estilo.
Em 2021, um novo fôlego e promessa de reviravolta com o anúncio que o grupo LVMH, conglomerado de luxo comandado pelo homem mais rico do mundo, Bernard Arnault, adquiriu a Tiffany & Co. por 16 bilhões de dólares, o maior negócio já registrado no segmento. Para inaugurar a nova fase, o anúncio de Alexandre Arnault no comando criativo foi o que mais chamou atenção.
_not your mother's tiffany
Um dos herdeiros do grupo, Alex Arnault foi responsável por reviver a marca Rimowa, conhecida por suas bagagens de luxo. A estratégia, calcada em parcerias com nomes como Dior, Off-White e Supreme, edições limitadas e customização, fez com que a marca, em pouco mais de 4 anos, fosse elevada à status desejável, catapultando as vendas e a reputação através de branding e marketing perfeitamente planejados. A esperança é que Arnault consiga repetir a dose agora na nova marca do grupo. Sua primeira campanha, já causou polêmica, com o slogan "Não é a Tiffany da sua mãe", modelos aparecem vestidas com looks casuais de jeans e camiseta complementados por joias, bem cool e nonchalante em tentativa de se distanciar do ar conservador pelo qual ficou conhecida nos últimos anos.
O objetivo é criar uma conexão com a geração mais jovem, modernizando a imagem, mas também a mensagem, indo além da estética, e prestando atenção especial e genuína a tópicos urgentes como diversidade e sustentabilidade. Preservando códigos e prestígio, valorizando sua história, mas traduzidas para o século 21.
Millenial, aos 29 anos, o diretor criativo utiliza o Instagram para conversar com o público e perguntar quais mudanças seus seguidores gostariam de ver na marca, talvez tenha vindo daí a escolha dos novos embaixadores. Favoritos da geração Z, como Anya Taylor-Joy e Rosé, do grupo BlackPink. figuram entre os escolhidos.
Esse mês, um anúncio sacudiu o mercado de luxo, noticiando o mais recente e significativo contrato com o casal mais poderoso da música, Beyoncé e Jay-Z. As primeiras fotos oficiais dos novos embaixadores foram divulgadas e fazem parte da campanha "About Love", tornando Beyoncé a quarta mulher da história e a primeira mulher negra a usar o diamante Tiffany em público. Acompanhada do marido, ele usando broche de design clássico dos anos 60 de Jean Schlumberger, é a primeira vez que os Carters posam juntos em uma campanha publicitária.
Cheia de referências à história da marca, ela aparece cantando uma versão de "Moon River", canção que Audrey Hepburn canta em "Bonequinha de Luxo", além disso, Bey usa um vestido preto Givenchy, assinado por Matthew Williams, atual diretor criativo da maison, outra referência ao filme, já que o look da personagem, o lendário vestido preto, foi desenhado por Hubert De Givenchy. Ineditismo continua, já que divide a cena com a dupla, um quadro raro de Jean Michel Basquiat, parte de uma coleção privada, a pintura, intitulada "Equals Pi", nunca havia sido fotografada e o azul utilizado na obra é praticamente idêntico ao da marca.
_quer mais?
Para assistir: "Bonequinha de luxo" (1961)
Para ler: "Windows at Tiffany & Co." da editora Assouline.
Para seguir: @tiffanyandco, conta oficial
@alexandrearnault, a conta pessoal do atual diretor criativo.
@elsaperetti.official para conhecer mais da obra da genial designer, falecida em 2021.