Lifting facial: o procedimento de Kris Jenner e a obsessão pela juventude eterna
De segredo guardado a sete chaves ao domínio dos feeds de celebridades, que hoje expõem abertamente seus procedimentos estéticos, o lifting facial deixou de ser tabu e se tornou o assunto do momento. Esse tipo de cirurgia voltou aos holofotes em 2025 quando Kris Jenner surgiu com um rosto surpreendentemente rejuvenescido, levantando debates sobre envelhecimento, autoestima e até sobre os limites do que a medicina pode oferecer.
Mas, afinal, quem pode realizar esse procedimento, quais são os riscos e por que ele desperta tanta especulação? Para responder a essas perguntas, conversamos com um cirurgião especialista e mergulhamos nos bastidores de um mercado que movimenta cifras milionárias e, mais do que nunca, reflete os dilemas da busca pela juventude eterna.
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o que é o lifting facial?
O lifting facial, também conhecido como face-lift, é um procedimento cirúrgico indicado para reduzir sinais de envelhecimento, como rugas profundas, flacidez da pele, queda dos tecidos e perda de definição no rosto e no pescoço. A técnica consiste na retirada do excesso de pele, no reposicionamento dos músculos faciais e na redistribuição dos tecidos, devolvendo firmeza e suavidade aos contornos.
O procedimento pode ser feito de diferentes formas, dependendo da necessidade e desejo de cada pessoa. O lifting completo é o mais tradicional e envolve todo o rosto e o pescoço, enquanto o mini lifting foca apenas em áreas específicas, como a região da mandíbula e do queixo, com recuperação mais rápida. Há também o lifting de pescoço, indicado para tratar a flacidez e a papada, e o lifting endoscópico, uma técnica menos invasiva que utiliza pequenas incisões e câmera para reposicionar tecidos. Fora do campo cirúrgico, os fios de sustentação ganharam espaço como alternativa temporária, já que reposicionam a pele e estimulam a produção de colágeno.
como ele deixou de ser segredo
Durante muito tempo, o lifting facial foi um segredo guardado a sete chaves pela alta sociedade. Hoje, a realidade é bem diferente: o procedimento deixou de ser motivo de especulação e passou a ser tratado de forma aberta, como mais um dos recursos estéticos da moda.
Celebridades como Kris Jenner e Barbara Corcoran trouxeram o tema para o feed, e o que antes era feito em silêncio agora circula livremente pela internet. No caso de Kris Jenner, o burburinho foi ainda maior quando, em maio de 2025, ela realizou um novo procedimento — o mesmo que já havia feito há 15 anos. Em entrevista para a Vogue Arabia, ela declarou: “Decidi fazer esse lifting porque quero ser a melhor versão de mim mesma, e isso me deixa feliz. Só porque você envelhece, não significa que você deva desistir de si mesma. Se você se sente confortável consigo mesma e quer envelhecer com elegância — ou seja, não quer fazer nada — então não faça nada. Mas, para mim, isso é envelhecer com elegância. É a minha versão.”
Na mesma entrevista, ela revelou ainda que o lifting foi realizado pelo renomado cirurgião Steven M. Levine, especialista em lifting facial e um dos nomes mais disputados de Nova York.

qual é o preço do face lift?
Embora Kris Jenner não tenha comentado sobre os valores de sua cirurgia, veículos como People e Business Insider estimam que procedimentos realizados pelo Dr. Steven M. Levine, em Nova York, custem a partir de US$ 45 mil (cerca de R$ 240 mil). Segundo o Wall Street Journal, os preços podem variar de US$ 3 mil, em países como Turquia, México e Brasil, até mais de US$ 300 mil em clínicas de prestígio nos Estados Unidos.
Essa diferença está ligada ao tipo de técnica, como o deep plane facelift, que exige maior tempo cirúrgico e alto nível de especialização, além de oferecer resultados mais naturais e duradouros. O renome do médico e a localização da clínica também influenciam, já que em centros como Nova York e Los Angeles o valor reflete não apenas a técnica, mas também exclusividade e status. As redes sociais reforçam esse fenômeno, elevando a demanda e os preços quando celebridades compartilham seus resultados.

Além dos honorários, entram ainda custos adicionais como anestesia, estrutura hospitalar, tempo de internação e cuidados no pós-operatório. Muitos pacientes optam por se recuperar em casa, mas há quem contrate enfermeiras em tempo integral, o que pode aumentar significativamente o investimento.
O cirurgião John Burns, de Dallas, alerta que um lifting exige anos de experiência e extrema precisão, mas um valor mais alto não garante os melhores resultados. Para ele, a decisão deve priorizar profissionais certificados e referências de resultados, evitando tanto promessas de baixo custo quanto preços inflados pela exclusividade.

o que dizem os médicos
Para esclarecer as principais dúvidas sobre o face-lift, convidamos a Dra. Larissa Sumodjo, Cirurgiã Plástica pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). A seguir, ela explica quem pode realizar o procedimento, quais são os riscos e o que esperar dos resultados.
STL: Para quem é indicado o procedimento?
Dra. Larissa Sumodjo: O lifting facial é indicado para homens e mulheres que se incomodam, principalmente, com a flacidez da pele do rosto e do pescoço resultante do envelhecimento. De modo geral, começamos a receber pacientes com esse tipo de queixa a partir dos 40 anos, mas com maior frequência a partir dos 50.
STL: Quem não deve fazer?
Dra. Larissa Sumodjo: Cirurgias estéticas devem ser consideradas em pessoas que não apresentam doenças crônicas descompensadas ou distúrbios de coagulação. Além disso, é preciso avaliar individualmente casos de pacientes fumantes que não conseguem suspender o cigarro temporariamente, assim como aqueles cujas expectativas vão além do que é possível alcançar com o procedimento.
STL: Quais são os riscos envolvidos?
Dra. Larissa Sumodjo: Existem alguns riscos locais associados a essa cirurgia, como sangramentos, infecções, cicatrizes inestéticas, assimetrias, necrose de pele, dormência temporária e, raramente, lesões nervosas. Fumantes têm maior risco de complicações como necrose de pele.
Qual é o tempo médio de recuperação?
Dra. Larissa Sumodjo: O período mais desconfortável varia de 10 a 15 dias, quando inchaço maior. A maioria das pessoas retorna a atividades leves após duas semanas. O resultado mais próximo ao definitivo começa a ser visível de 1 a 3 meses, e as cicatrizes amadurecem em até um ano.
STL: Quanto tempo duram os resultados em cada tipo de lifting facial?
Dra. Larissa Sumodjo: Isso depende de cada caso. O tipo de cirurgia realizada, a idade do paciente, as características e a qualidade da pele, o estilo de vida (como cuidados com a pele e alimentação) e fatores genéticos exercem influência. De qualquer forma, podemos dizer que o resultado pode se manter por cerca de 10 anos, sem que o paciente sinta necessidade de novas intervenções até uma idade mais avançada.
STL: O procedimento pode ser combinado com outras técnicas estéticas?
Dra. Larissa Sumodjo: Muitas vezes, o lifting é combinado com blefaroplastia (cirurgia das pálpebras), lifting de sobrancelha, lipoaspiração de papada, enxerto de gordura facial, peelings e lasers, a fim de potencializar os resultados. Embora seja menos comum, também é possível associá-lo a procedimentos em outras regiões do corpo, mas isso deve ser avaliado individualmente, considerando tempo cirúrgico, recuperação e segurança.

a juventude eterna como a nova obsessão
Filtros que suavizam a pele em segundos e timelines dominadas por celebridades e influenciadores que compartilham seus resultados transformaram a juventude em uma verdadeira moeda social. Esse movimento acaba uniformizando cada vez mais não só os rostos, mas também os desejos: mesmo dente, mesmo queixo definido, mesmo lábio preenchido. Tudo em nome de um ideal de beleza inalcançável.
Há quem deseje fazer parte disso para se sentir melhor consigo mesma ou apenas valorizar o que já tem de mais bonito — e não há problema algum nisso, cada um é livre para buscar sua melhor versão. A questão é que, junto com essa liberdade, existe também uma pressão silenciosa, difícil de ignorar. A cada temporada surgem novos procedimentos estéticos, novas promessas de transformação e novas técnicas que parecem nos dizer que nunca estamos boas o suficiente.
O custo dessa busca não é apenas financeiro, mas também emocional. Afinal, o que hoje é considerado padrão amanhã pode ser visto como ultrapassado, criando um ciclo infinito de atualizações no próprio corpo — tira boca, coloca boca, ajusta o queixo, redefine o nariz. Entender suas condições, respeitar seus limites e aceitar que envelhecer faz parte da vida talvez seja o maior ato de consciência em meio a essa corrida pela juventude eterna. Em um mundo que insiste em polir cada traço, deixar transparecer o natural pode ser, no fim, um gesto de resistência.
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