Pode parecer que não, mas ter cabelos coloridos ainda é uma grande questão, principalmente depois dos 30. Ainda estamos num momento em que envelhecer é visto como uma limitação, principalmente quando se trata da aparência. E Maíra Medeiros — influencer de 39 anos que é rainha das mechas multicoloridas — sabe disso como ninguém. “O problema fica muito pior quando as pessoas começam a te achar muito velha para uma coisa”, contou. Muitas mulheres acabam desistindo de fazer uma mudança que elas querem por falta de coragem, medo dos julgamentos e até por não saber como cuidar dos fios.
Maíra tem uma história longa com cabelos coloridos. Ela pinta o cabelo há 24 anos e, como costuma dizer, passou mais tempo com cabelo tingido do que natural. A relação com cabelo colorido começou por causa de referências de desenhos e o gosto por tudo que era chamativo e divertido. “Desde muito criança, eu era muito fissurada por desenhos animados que os personagens tinham cabelo colorido e tudo. Mal eu sabia que para o resto da vida ia ser assim”.
Nós batemos um papo com ela sobre essa relação com o cabelo ao longo dos anos, etarismo e como lidar com o julgamento alheio. Além disso, Maíra Medeiros compartilhou dicas importantíssimas para quem quer seguir esse caminho. Vem ver:
STL: As pessoas falam muito que cabelos coloridos são coisa de adolescente. Como lidar com esses comentários?
M.M.: As pessoas confundem muito as cores com a infantilização do look. E eu não vejo a cor como uma coisa infantil, eu vejo a cor como uma coisa divertida, que traz a vibração alegre que eu quero na minha vida.
Não interessa a fase que a gente esteja, alguém vai falar que aquilo não é apropriado para o momento. No meu caso, que pinto há muito tempo o cabelo, eu sinto uma coisa gritante em neon que se chama etarismo. O problema fica muito pior quando as pessoas começam a te achar muito velha para uma coisa, sabe? Lá para os meus 37 anos, mais ou menos, eu senti que veio esse movimento de muita gente questionar o cabelo colorido, mas a grande realidade é que as pessoas criam suas expectativas sobre idade e depositam em nós.
Eu sei que o meu cabelo colorido não influencia em absolutamente nada na minha maneira de viver e eu entendo também que aquelas pessoas têm ali visões da vida, que acham que é uma grande discrepância você ser um ser humano de 40 anos e não abrir mão das coisas que você sempre gostou para ser um adulto. E não embarcar nessa onda do hate que é difícil, porque às vezes te desestabiliza. Aí às vezes você começa a se questionar, mas é muito importante você ter segurança de quem você é. Não é uma coisa fácil, não é uma coisa que eu tenho todos os dias, porque para eu ter essa minha segurança eu preciso recorrer muitas vezes a pessoas que me conhecem há muito tempo, minha mãe, meu marido, meus amigos de antes da internet… Elas estão ali para te dar segurança, para você entender que essas pessoas querem te atingir de alguma maneira com comentários dos piores possíveis.
Como você sente a diferença em relação ao cabelo da Maíra aos 15 anos, aos 25, 35 a de agora aos 39?
M.M.: Nos meus 15 anos era ‘eu preciso fazer tudo que eu posso fazer porque em determinado momento eu vou ter que virar outra pessoa que não sou eu. Eu tenho que correr atrás porque em algum momento a vida vai me cobrar de ser outra pessoa’. Então foi um lance que eu estava tentando me encontrar com aquilo que eu tinha à minha disposição.
Meu estilo entre os meus 18 e 25 anos era lapidado [por causa do trabalho]. Então o cabelo era meio escondido, eram umas mechas que eu conseguia prender e esconder. E aí se eu sentia mais segurança no emprego que eu estava, ia fazendo uma mechinha maior e já começava a aparecer.
Na década seguinte foi o meu momento. Eu vi o meu cabelo colorido amadurecer, o meu estilo amadurecendo também, que é uma coisa meio divertida, eu gosto de coisas estranhas no look. Então, com 35 anos eu percebo que essa minha energia ela foi só ganhando uma outra lapidação.
Hoje, eu tenho 39, vou fazer 40 ano que vem. E daí com 40 anos é mais um reforço de que eu continuo sendo quem eu sempre fui, os meus gostos fluíram nesse mesmo caminho sempre. A real é que quando você tem os seus gostos e você não abre mão deles, aquilo não é uma fase. As suas fases vão se adaptando [a eles].
Qual conselho você daria então para essa Maíra adolescente que estava começando essa jornada de cabelos coloridos e nem tinha ideia de que durar tanto tempo?
M.M.: Eu acho que o conselho que eu daria para a Maíra de 15 anos, é: ‘não acredite que é só uma fase, não tenha vergonha de ir a fundo nos seus gostos, de procurar referências. Não diminua sua estética, nem as coisas que você acha bonitas.’
E depois de tanta história, o que é cabelo para você hoje?
M.M.: Nosso cabelo é aquilo que a gente mais consegue modificar e que sempre vai nascer do mesmo jeito. Eu vejo o meu cabelo como uma forma de me expressar sem precisar falar muito. Para mim, ele é um marcador de fases e ele sempre me dá a chance de recomeçar, porque todo dia ele está crescendo um pedacinho. Então, de repente, se uma fase não é tão boa, o meu cabelo me lembra que tem coisa nova vindo e eu posso recomeçar do zero.
Agora falando sobre as cores, como você as escolhe?
M.M.: Antes, quando tínhamos poucos recursos para cabelo colorido, a minha escolha da cor era o que eu tinha ali. Inclusive, meus primeiros cabelos com mais de uma cor foram na necessidade, de não ter uma cor e aí completar com outra. Quando eu fui tendo outras cores, eu gostava muito de misturar e fazer tons novos.
Aí conforme foi passando o tempo e eu fui fazendo muitos cabelos que eu queria, a necessidade de ser mais criativa começou a vir. Então, às vezes eu ia no salão e falava ‘faça o que você quiser’, porque eu também acho que o profissional tem muito da criatividade dele.
A partir do momento que eu fui colocando muitas cores no cabelo, eu precisei começar a seguir o círculo cromático, porque é a melhor maneira de você conseguir mudar suas cores mantendo a saúde do cabelo. Hoje, com 39 anos, o meu cabelo é outro, a quantidade de cabelo que nasce na minha cabeça é diferente de quando eu tinha 18 anos, por exemplo. Então, eu preciso preservar mais a saúde do fio. Então, a paleta de cores eu escolho de acordo com o que ainda resta no meu cabelo.
Qual é sua cor de cabelo favorita até hoje?
M.M.: Eu tenho muitos cabelos favoritos, eu tenho alguns cabelos que foram mais legais... Gosto muito de tons pastel, de cor clara, mas eu tenho períodos que gosto muito de cabelos vibrantes, então são muitos cabelos que eu gosto muito. Eu acho que eu não tenho como escolher a minha cor favorita, mas eu tenho como escolher a cor que eu mais gosto de usar, porque é a mais versátil, que é o roxo, porque dali eu posso depois decidir se eu quero um cabelo quente, aí eu vou para o rosa ou se eu quero um cabelo frio, daí eu vou para o azul.
Quais dicas você dá para quem também está pensando em ter cabelos coloridos?
M.M.: Se você é uma pessoa que está querendo pintar o cabelo de colorido, a primeira coisa é ir num salão de cabeleireiro fazer um teste de mecha para entender como seu cabelo se comporta com a descoloração. Essa é a dica número um! A partir dali, todo o seu futuro como colorida será traçado. Sem você fazer um teste de mecha, você não consegue saber o fundo de clareamento do seu cabelo, se você vai conseguir colocar cor clara ou escura e você vai danificar o cabelo para fazer a cor que você quer.
Depois do teste de mecha, tem que passar 15, 20 dias aí tratando o cabelo, deixando ele bem forte para entrar a descoloração.
Durante a descoloração, eu acho que é muito importante encontrar um profissional que você já tenha visto trabalhos anteriores. E se você for se aventurar em casa, saber que você pode não alcançar o seu objetivo, alguma coisa ali pode dar errado no meio do caminho também. Tem que ter isso na cabeça.
E existem muitos produtos que ajudam a preservar o fio durante a descoloração. Eu tenho usado um produto chamado Metal Detox. É um spray que você passa antes da descoloração e é muito bom.
No pós, aí minha filha, senta que lá vem história, porque agora a gata já está com as cutículas todas abertas. Eu vou dar aqui três dicas: um pré shampoo para você usar antes de lavar — eu gosto muito do Olaplex 3, que tem proteína que regenera o fio e é maravilhoso; a segunda coisa é acidificação, porque às vezes o cabelo está sem brilho, opaco, aí acidifica que ele fica tudo; e a terceira coisa é paciência.
Acho que para além dos tratamentos, é necessário ter paciência para entender que você precisa de um cronograma capilar, que não é tipo tratar uma semana e nunca mais. Se você fizer uma [descoloração] global, você tem que tratar esse cabelo como se fosse um bebê, né? Então tem que ter paciência para isso e as pessoas às vezes querem ter cabelo colorido, mas elas não querem tratar.
E como lidar com o cabelo quando ele quebra ou tem um corte químico, por exemplo?
M.M.: A primeira coisa é você entender que o seu cabelo não vai ficar do jeito que ele estava antes de você ter uma química mal sucedida que abalou as estruturas do seu cabelo. Não vai ser a mesma coisa, ele não vai ficar como antes. Então a primeira parte é parar de buscar uma coisa inalcançável no cabelo.
E aí você tem que entender que vai ter que remanejar tudo o que está fazendo no seu cabelo para poder melhorar aquilo de alguma maneira. Aí além dos tratamentos, você precisa entender quais ferramentas tem para usar. Existem penteados e acessórios também para usar no cabelo que disfarça, presilha, lenço. Infelizmente é um momento que ninguém gosta de falar, porque é um momento que não tem o que fazer a não ser tratar e esperar.
E uma coisa que também eu acho indispensável é, por mais que você tenha tido um corte químico e que parte do seu cabelo não estão no mesmo tamanho, eu acho que você deve ir no cabeleireiro para ele fazer um corte. Meu cabelo teve uma melhora de 100% assim. Toda vez que eu tinha corte químico, eu fazia o oposto. Dessa vez, eu cortei e a sensação que eu tive é que eu nunca tinha tido o corte químico porque ela encaixou muito bem as mechas.
E por último, é aceitar aquele momento e falar ‘vou ter que trabalhar com que eu tenho, vamos atrás de recursos’. Às vezes falta isso pra gente lidar melhor.
Qual o segredo para a tinta durar mais?
M.M.: Não é querendo me gabar, mas isso foi uma coisa que eu pensei muito na hora de desenvolver a minha linha de tintas. Eu não aguentava tinta de cabelo colorida que soltava a cor por tudo. E daí na hora que eu fui fazer a minha linha de cores, eu resolvi fazer uma máscara que servisse para quem quer manter o cabelo por muito tempo colorido e para quem quer que saia rápido. Então, ela tem muito pigmento e se você quiser fazer um rosa claro ou um roxo claro, por exemplo, você dilui ela num creme branco ou diluidor.
Mas independente disso, tem algumas coisas que eu gosto de fazer. Primeiro programar as lavagens de cabelo. Quando você é colorido, se lava o cabelo todo dia ele fica mais ressecado, porque tá com cabelo descolorido a cor vai embora o tempo todo.
Além disso, os produtos que você vai usar na hora de lavar o cabelo também vão influenciar em tudo. Eu gosto muito de shampoo sem sulfato, para mim é o que tira menos a cor. E comprar os produtos que são especializados também, eu acho que uma coisa que mantém muito o cabelo.
Para finalizar, selecionamos os produtos que a Maíra indicou durante nosso papo e, é claro, algumas máscaras pigmentantes da coleção dela para quem quiser entrar no time das coloridas também.