Falar sobre moda nacional é uma das coisas que mais amo. Eu acredito muito no poder transformador dessa indústria, do social até o momento do encantamento de quando vestimos algo que nos deixa mais feliz.
Apoiar os grandes criadores do país deveria ser uma obrigação. Estamos falando do que é nosso, do que fortalece toda a cadeia produtiva. Por isso, fico muito feliz em ter esse espaço para apresentar nossos talentos do feito no Brasil.
O entrevistado de hoje é o André Boffano da marca MODEM. Confira abaixo um pouco mais da trajetória deste grande criador da moda nacional.
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Quem é o André Boffano?
A.B: Me considero uma pessoa extremamente curiosa, não apenas com relação a moda, mas com todos os assuntos, principalmente relacionados às artes.
Morei durante alguns anos na França, onde durante a minha adolescência pude descobrir a moda como profissão. Estudei em uma escola de moda extremamente técnica e pude trabalhar em alguns lugares que foram cruciais para o meu amadurecimento profissional, antes de criar a MODEM em 2015.
O nome MODEM é inclusive inspirado no próprio aparelho para conectar a internet, pois capta ondas para gerar o sinal da internet. A ideia da MODEM é similar, captar as influências das artes plásticas e arquiteturas para criar uma identidade própria.
Quem é a MODEM e como a marca começou?
A.B: A MODEM é uma marca que existe desde 2015 e desde o princípio firmou um DNA muito próprio e único. O nome MODEM é inclusive inspirado no próprio aparelho para conectar a internet, pois capta ondas para gerar o sinal da internet. A ideia da MODEM é similar, captar as influências das artes plásticas e arquiteturas para criar uma identidade própria.
A ideia de ter uma marca, não surgiu por um desejo pessoal, mas sim por enxergar na época, um mercado muito pouco explorado, o mercado de peças de roupa interessantes e possíveis de serem usadas. Em 2015, como consumidor, eu via uma distância muito grande do que era apresentado em passarelas do SPFW e o que de fato existiria nas lojas. MODEM surgiu com o objetivo de criar peças com design pensado para diversas ocasiões, que fossem realmente usáveis, sem nunca deixar de serem interessantes.
Como é o processo de criação. E como equilibrar o conceitual com o comercial?
A.B: O processo criativo da MODEM se baseia em uma sequência, uma evolução que vem desde a primeira coleção em 2015. Códigos fortes como a assimetria, as curvas e recortes orgânicos, e uma identidade visual que mescla o urbano ao industrial, foram criados desde o início da marca e evoluem desde então.
Gosto também de criar através de moulage e muitas criações existem graças a comentários e necessidades dos próprios clientes, como por exemplo a blusa panneau, criada em tricô, uma peça pensada para cobrir os braços sem necessariamente ter mangas.
A MODEM sempre teve muito cuidado tanto no modo como é feito e por quem são feitos todos os processos que antecedem o produto final, respeitando, remunerando e dando condições ideais para que profissionais, em especial, costureiras sejam mais valorizadas.
Uma marca no mundo de hoje não faz apenas produtos, ela precisa ter responsabilidade e respeito pelas pessoas e pelo planeta. Como você trabalha todos esses pontos na MODEM?
A.B: Acredito nesta responsabilidade não apenas nos negócios, mas também no cotidiano da vida. Na MODEM, sempre tivemos muito cuidado em relação aos processos que antecedem o produto final, garantindo que sejam realizados de forma ética, respeitosa e com condições ideais para os profissionais envolvidos, especialmente as costureiras, que são valorizadas.
A responsabilidade ambiental na MODEM não é apenas uma estratégia de marketing; acredito que seja uma questão de bom senso pensar em formas menos impactantes de criar uma coleção de moda. Para mim, sustentabilidade vai além do uso de materiais certificados (não basta apenas ter selos de sustentabilidade se os materiais vêm da China), mas também envolve inteligência e coerência na criação, entendendo o que está sendo feito e como deve ser feito, sem a necessidade de repetir um processo várias vezes até chegar ao resultado desejado.
Como você enxerga o cenário atual da moda no Brasil? E quais os maiores desafios?
A.B: Vejo um cenário positivo em termos de valorização da moda nacional e também de uma maior compreensão e busca por produtos de qualidade. No entanto, percebo que o mercado ainda está muito restrito a um grupo seleto de pessoas e muitas vezes prioriza mais o dinheiro e o marketing do que a autenticidade e a criatividade.
Os maiores desafios, na minha opinião, continuam sendo os mesmos: a escassez de mão de obra qualificada, a dificuldade de acesso a novas matérias-primas e, é claro, o desafio de manter a autenticidade em um mercado muitas vezes dominado por tendências comerciais.
Suas criações já foram parar em publicações importantes como a Dazed, Vogue Brasil e Elle. Ter o apoio da mídia de moda fez/faz diferença na história da MODEM?
A.B: Sem dúvida, ter o apoio de grandes veículos de imprensa no início da história da MODEM foi fundamental. Foi um reconhecimento do nosso trabalho por outros profissionais da área e também uma fonte de incentivo.
No entanto, é importante entender que esse apoio não é, por si só, um certificado da qualidade do trabalho. É apenas uma parte do processo.
Os seus estilistas favoritos são?
A.B: A moda intelectual de Miuccia Prada sempre me interessou profundamente. Além dela, outros estilistas como John Galliano, Nicolas Ghesquière, Rei Kawakubo, Raf Simons, Rick Owens e Dries Van Noten desempenharam um papel fundamental em meu crescimento pessoal. Eles despertaram em mim uma vontade genuína de enxergar a moda de maneiras diversas e mais profundas, inserindo-a de formas inovadoras em minha vida.
Um momento decisivo para sua carreira?
A.B: Não vejo apenas um momento decisivo, mas sim vários momentos distintos que moldaram minha trajetória. O primeiro deles foi no início da marca, quando a mistura de força de vontade e loucura juvenil me levou a fazer coisas que talvez hoje não fosse capaz. Um exemplo desse período foi quando fui até a redação da revista Vogue Brasil com uma arara de peças para mostrar a marca.
Outro momento crucial foi quando fui convidado para assumir a direção criativa da marca BOBSTORE, onde passei quatro anos imerso em uma rotina intensa, repleta de aprendizados.
Atualmente, considero outro momento importante, no qual passei a enxergar meu trabalho de forma diferente e a valorizar mais meu tempo e minha qualidade de vida. Isso deu um novo sentido ao meu trabalho e à minha vida.
Quais os sonhos e os próximos passos da MODEM?
A.B: Os meus sonhos e os próximos passos da MODEM andam muito juntos. O sonho é conseguir fazer cada coleção com o potencial que eu sei que é possível, é quase sobre uma auto-satisfação. Os próximos passos seriam sobre a forma como o trabalho se transforma dentro da minha própria vida, são inúmeras possibilidades.
Onde encontramos a marca?
A.B: A marca pode ser encontrada em multimarcas selecionadas pelo Brasil, e online no e-commerce GALLERIST. Na cidade de São Paulo, a marca oferece um serviço de delivery ou atendimento no escritório da marca.