Os últimos anos foram marcados por grandes estreias cinematográficas: do fenômeno Barbie à adaptação de Wicked e à aguardada sequência de O Diabo Veste Prada, não faltam lançamentos que se transformam em verdadeiros sucessos de bilheteria. Ao mesmo tempo, as redes sociais vêm alterando profundamente a forma como vivemos essas histórias. O acesso quase ilimitado ao backstage faz com que, muitas vezes, a magia do cinema se perca antes mesmo da estreia.

Pode reparar: quantas fotos da Margot Robbie caracterizada de Barbie você viu antes mesmo do filme ter data prevista de estreia? O conjunto rosa com laço no pescoço e chapéu western viraram fantasia de Halloween e Carnaval muito antes do lançamento oficial. A cena dos patins, por exemplo, parecia um déjà-vu nas telas de cinema, de tanto que foi vista na timeline durante as gravações.
Algo parecido está acontecendo agora com O Diabo Veste Prada 2: todos os dias vemos novas fotos, novas cenas e, é claro, novos looks de Andy, Miranda e Emily, enquanto as gravações do longa acontecem em Nova York. Já temos imagens do Met Gala, gravado no Museu de História Natural, e até acesso ao tema, "Spring Florals", uma referência direta à fala icônica do primeiro filme.
Se por um lado, temos uma legião de fãs que mal podem esperar para acompanhar a continuação de um filme tão emblemático para todas as amantes de moda — o que gera curiosidade, especulação e desejo por cada passo dos atores; por outro, há uma grande saturação. O que parece é que já assistimos ao filme, já sabemos o que vai acontecer, já vivemos a fase de amar ou odiar cada look e isso, infelizmente, estraga um pouco a magia.
Não me leve a mal, spoilers, revistas e paparazzis sempre existiram. Eles, inclusive, são parte importante da divulgação e, consequentemente, do sucesso de um filme. Criar expectativa e gerar buzz em torno de um longa é essencial. No entanto, com a velocidade que recebemos as informações na internet, não sobra espaço para imaginar nada, porque já temos acesso a tudo.
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As consequências disso nem sempre são tão boas. Com Barbie, por exemplo, houve um verdadeiro fenômeno cultural em torno da estética do filme: salas de cinema lotadas, muita roupa rosa, produtos licenciados. No entanto, o roteiro não pareceu agradar quem esperava uma história mágica, feliz e desconectada da realidade — por mais que a própria boneca tenha sempre sido uma representante de seu tempo.

Quando temos tanto material sobre um filme antes da hora, o resultado vai ser sempre a frustração de grande parte do público. Isso porque, em vez de irmos ao cinema abertos ao que podemos assistir, vamos com a história pronta na cabeça. O que estraga a experiência é esse desencontro entre a proposta real do roteiro e a narrativa criada a partir de fragmentos espalhados nas redes.
No fim, todo mundo perde: o público, que queria se surpreender; e os criadores, que não têm como prever o que o imaginário coletivo já construiu. Por mais tentador (e até inevitável) que seja acompanhar cada detalhe dos bastidores, é triste pensar que a magia da surpresa, essencial ao cinema, está se perdendo aos poucos.
