O que aprendi fazendo minha primeira viagem internacional depois dos 30
Escrevo esse texto com os olhos marejados. Tenho 31 anos e, por muito tempo, vivi achando que existia uma linha de chegada invisível para realizar as coisas — principalmente os sonhos grandes. Entrar na faculdade, construir uma carreira, fazer uma viagem internacional… tudo parecia ter que acontecer antes dos 30. E quando não rolava, a sensação era de fracasso, de estar atrasada.
Sou uma mulher preta, periférica, filha de família nordestina. As oportunidades nunca vieram fácil. Só entrei na faculdade aos 24, depois de muitas tentativas, e me formei durante a pandemia. Era uma das mais velhas da turma. Inclusive, falo mais sobre essa época no meu episódio do The Look Stealers, o podcast do STL.

Viajar para fora sempre foi um sonho. Mas, por muitos anos, parecia distante demais. Caro demais. Longe demais da minha realidade. E, de algum jeito, parecia até errado desejar isso. Como se sonhar com o mundo sendo da favela fosse querer demais.
Quando completei 30, entendi que a vida não acaba nessa idade. Pelo contrário: algumas certezas começam a se firmar. A gente passa a confiar mais em si, nos próprios gostos, nos limites, no que faz sentido de verdade.

E o que eu achei que não fosse possível, aconteceu: fiz minha primeira viagem internacional. O destino foi Bariloche. Vi a neve pela primeira vez, fiz aula de esqui, me apaixonei pelas provoletas e medialunas. Mas essa viagem não foi só sobre carimbar um passaporte. Foi sobre olhar pra trás e enxergar o quanto caminhei. Foi sobre dizer, com o corpo todo: “eu posso estar aqui”. Não porque me deixaram, mas porque eu construí meu caminho até esse lugar.

E ainda assim, nem tudo é simples. Durante a viagem, senti muitas coisas ao mesmo tempo: alegria, emoção, gratidão — mas também uma certa estranheza. Um lembrete silencioso de que aquele não era um lugar onde costumam esperar pessoas como eu, uma sensação difícil de descrever.

Por isso, sou grata ao meu trabalho, que me permitiu realizar um sonho que, segundo as estatísticas, não era pra mim. Mas sei que ocupar certos espaços ainda vem acompanhado de muitas outras questões — e tudo bem reconhecer isso também.
Se você também sente que está atrasada, apenas respire e foque nos seus objetivos. A vida não é uma linha reta e as conquistas não são competições. Está tudo bem viver as coisas no seu tempo.
