Pode perguntar a todos que você conhece na casa dos 20 anos o que acham de fazer 30 anos. Tenho certeza de que a maioria das pessoas vai dizer que tem medo. Essa idade é muito emblemática socialmente. Ter 30 é quase um atestado de velhice, como se você se tornasse, definitivamente, muito adulto. É hora de ser casada, com filhos, ter um emprego estável, uma casa própria. Chega de sonhos ‘bobos’, de se vestir ‘como adolescente’. Agora é para ser séria, sóbria, neutra.
Acho que toda essa questão em torno dos 30 anos é o que deixa tanta gente apavorada. Parece que, magicamente, você tem a obrigação de se tornar uma pessoa completamente diferente ao completar três décadas de vida. E o que ganhamos com essa crença é ansiedade, frustração, terror.
Lembro claramente que minha mãe tinha muito medo de fazer 30 anos. Ela não queria de jeito nenhum chegar a essa idade porque não queria ser ‘velha’. Para contextualizar, nessa época ela já tinha três filhas, sendo que eu, a mais velha, já tinha 14 anos. Ela trabalhava desde cedo, já tinha casado e se divorciado, pagava as próprias contas, sustentava a família, mas, incrivelmente, o que a faria se sentir velha era completar três décadas de existência.
Eu, pelo contrário, tenho uma vida quase oposta à da minha mãe. Aos 28, ainda não me casei oficialmente, não estou nem perto de ter um filho, trabalho e pago minhas contas, mas o máximo que sustento é meu gato. E, mesmo assim, também morro de medo dos 30. Parece que não importa em que ponto da vida você esteja, essa idade é sempre o maior pesadelo, a pior coisa que pode acontecer.
Todos da minha geração também têm um grande referencial da idade: o clássico dos anos 2000 estrelado por Jennifer Garner, ‘De Repente 30’. E, apesar da lição do filme sobre o que é ou não sucesso, ele ainda acaba nos deixando essa visão de que é nessa idade que as coisas vão se resolver. Quando Jenna volta aos 13 anos e faz tudo diferente, os 30 ainda representam o momento em que ela se casa e se muda para a casa dos seus sonhos.
Acho que essa grande referência que temos desde muito novos pode ser parte do problema que temos hoje: jovens com mais de 25 anos se sentindo frustrados, fracassados, pensando que, ao chegarem aos 30, é melhor nem tentar conseguir o que almejavam, porque será tarde demais. É como se essa fosse a idade limite para obter sucesso e, depois disso, as coisas só pioram.
Se você não tem tudo o que sonhou aos 30 — a viagem, a casa, o carro, o emprego, o dinheiro — parece que você falhou com a sociedade e consigo mesmo. É uma pressão imensa que faz com que a chegada a essa idade seja mais motivo de tristeza do que celebração.
Esses dias, vi um vídeo no TikTok da Esthela, onde ela questiona por que somos muito jovens para morrer, mas muito velhos para viver. Ela explicou que teve duas amigas que morreram pouco antes dos 30 e que, toda vez que falava sobre isso, as pessoas lamentavam a partida precoce, dizendo que elas tinham a vida toda pela frente. No entanto, ela, com a mesma idade, se sentia velha para fazer certas coisas. Isso fez com que ela tivesse outro olhar para essa percepção da sociedade sobre a idade certa para cada coisa.
Isso também me fez refletir muito sobre esse medo de fazer 30. Por que, sinceramente, qual é a pressa? Por que ficamos nessa corrida imaginária até uma linha de chegada que nunca alcançamos?
Acho que os 30 parecem uma idade mais séria, em que nos tornamos ‘adultos de verdade’, e por isso deveríamos ser mais contidos, mais estáveis, mais bem resolvidos. Mas quem está assim hoje? Seja com 20, 30, 40, 50 anos, sempre teremos questões, problemas, coisas a resolver. O que muda é o conhecimento que acumulamos com os anos para enfrentar cada desafio.
Outro ponto importante é que cada um tem seu próprio tempo. Seja por questões raciais, socioeconômicas ou de gênero, por exemplo, não dá para comparar. Se a linha de partida é, infelizmente, tão diferente para cada um, se uns têm privilégios e outros não, se as oportunidades são feitas para um certo tipo de pessoa, não dá para esperar que todos sejam bem-sucedidos antes dos 30, o que quer que isso signifique.
Precisamos entender algo que é óbvio: a idade não define quanto sucesso você ainda pode ter. Ter 30 anos é como ter 28 ou 29. A diferença é que você terá mais experiência de vida.
Por isso, o foco deve ser em ser uma pessoa melhor, não desistir do que você quer de verdade, aprender tudo o que puder, viver o máximo de experiências possíveis e colecionar memórias, porque é isso que vale a pena. Ao chegar aos 30 anos, sua vida não acabou; pelo contrário, está só começando.