Quem define o que é estiloso ou cafona?

por Karen Merilyn

Já reparou que temos a tendência de julgar o que as outras pessoas vestem como estiloso ou cafona? Às vezes, pode até ser automático e, mesmo não expondo, pensamos de forma quase maldosa. Isso acontece porque, coletivamente, somos acostumados a avaliar esteticamente as roupas dos outros de acordo com nossos gostos pessoais. Mas, acredite, não é por acaso que algo é visto como feio ou bonito por um grande grupo de pessoas. Há uma série de fatores que influenciam nisso.

Hoje, as redes sociais têm um grande peso nesse julgamento. Muitas vezes, o que é considerado cool tem mais a ver com quem usa e onde, do que, de fato, com o item. Além disso, o "coolness" também pode estar relacionado a quantas pessoas têm acesso àquilo. Já pensou nisso?

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Foto: Kia Marie (Reprodução/Instagram)


Muito tem sido discutido sobre a rapidez com que as tendências vêm e vão na era do TikTok. Parece que, assim como os vídeos rápidos ganharam popularidade, esse curto ciclo também se tornou comum. No entanto, acho que esse comportamento também pode ter a ver com outra coisa: as pessoas estão tendo acesso muito mais rápido ao que vira tendência.

Para explicar o que quero dizer, vamos contextualizar: antes, a maioria das tendências surgia de lugares e pessoas com ampla visibilidade — como desfiles, novelas, filmes, etc. — e se difundia entre a população de forma gradual. Agora, isso mudou. Qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, tecnicamente pode ser responsável por "criar" uma tendência. Mas o que vemos acontecer é quase que mais do mesmo: um certo tipo de pessoa precisa usar algo para que seja considerado estiloso; caso contrário, vira cafona, ultrapassado e até "vulgar".

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Foto: Paola e Pamela Ameyibor (Reprodução/Instagram)

Um exemplo bem recente que temos é o brazilcore, uma estética comum no dia a dia das periferias de todo o país, mas que só foi vista como cool quando influencers de fora do país, que se encaixam em um padrão de beleza específico, a adotaram.

O streetwear, que hoje é um dos estilos mais populares na moda, era extremamente marginalizado antes de as grifes o incorporarem às suas coleções. Há inúmeros itens dentro da moda e beleza que só se tornam estilosos quando pessoas com o corpo "certo" e a aparência "certa" os usam e "transformam" isso em algo estiloso. Mas, no momento em que pessoas marginalizadas de alguma forma os usam, é considerado errado.

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Foto: @ruesworldd (Reprodução/Instagram)

Outro ponto importante é que sempre que algo se torna extremamente popular, ele é visto como ultrapassado. Uma vez que muitas pessoas têm acesso a uma tendência que até então era exclusiva a um grupo que pode comprar qualquer coisa, o papel se inverte e ela passa a ser considerada saturada e fora de moda.

Como eu disse, a rapidez com que um item sai de moda também pode estar relacionada a isso. Hoje é muito mais fácil para quase qualquer pessoa comprar uma peça em alta, porque as lojas de departamento, por exemplo, têm sido muito mais rápidas em lançar suas versões do que é considerado estiloso no momento. Mas aí, todo mundo quer mudar para a próxima tendência, porque perde a graça se todo mundo pode usar.

E como acontece em todas as áreas, é sempre o mesmo tipo de corpo, de aparência, que parece não ter direito a usar algo "estiloso". Se você parar para pensar, o nosso julgamento nunca é direcionado à peça em si, mas sempre a quem está usando.

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Foto: @lucycblack_ (Reprodução/Instagram)

Em um mundo onde peças de roupas que parecem estar sujas são consideradas o ápice do cool, tudo que é preto, periférico ou popular continua sendo visto como algo que não é digno de ser chamado de moda. Quem define o que pode ser estiloso, elegante, bonito e o que não é?

A verdade é que a moda é uma expressão, uma extensão da nossa personalidade. Não cabe a nós fazer julgamentos de valor sobre as combinações que os outros fazem, as peças que escolhem vestir ou as estampas que acham mais bonitas. Porque, sejamos sinceras, ao fazermos isso, estamos na verdade sendo preconceituosas.

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