Assumir a direção criativa da Alexander McQueen, com todo o peso do legado espetacular do fundador que partiu cedo demais e substituindo sua braço direita (e uma das únicas mulheres à frente de uma grande marca de luxo), Sarah Burton, nunca seria tarefa fácil. No entanto, alguém precisava fazê-lo e o eleito foi o irlandês Seán McGirr. Anunciado em dezembro, seu debut acabou de ocorrer na Paris Fashion Week e dividiu opiniões.
O preview divulgado antes do desfile, com tartan e a icônica caveira, símbolo da marca, pareciam apontar para um caminho autorreferente, mas na prática, se o espírito punk e provocativo de Lee McQueen estava presente na vibe, os traços de design ainda parecem muito impactados pelo ex-chefe de McGirr, JW Anderson.
Ao contrário do que muitos comentaram, vários elementos característicos da marca apareceram; o que não compareceu foi aquele elemento de desconforto e deslumbramento que era indissociável de McQueen. Com ponto de partida na coleção "The Birds" apresentada pelo fundador em 1995, Seán passeou por diversos pontos relevantes do repertório original da casa: desconstrução, ombros marcados e protuberantes, alfaiataria. Os tricôs volumosos vieram diretamente do desfile de inverno de 1999.
Apesar de tudo isso, perdeu-se o romance e caiu-se no lugar-comum. Dá para argumentar que a atitude provocativa do estilista pode ser encontrada justamente na coragem de ir na contramão do esperado. A questão é que, na versão atual, o visual parece milimetricamente planejado para causar reação ou viralizar, enquanto para McQueen era natural e, por isso, tão fascinante.
Comercialmente competente, é provável que sua interpretação de blazers acinturados e jeans com amarração tenha boa aceitação, mas faltou emoção na execução.
Não se questiona o talento de McGirr, mas sim se ele se encaixa na McQueen. Ao mesmo tempo, é preciso evoluir. Lee McQueen era único, e ninguém conseguirá reproduzir exatamente o que ele fazia. Talvez o melhor curso de ação seja mesmo seguir radicalmente adiante. Uma das grandes críticas à indústria da moda é a volatilidade. Como os diretores criativos não têm a chance de construir sua visão ao longo do tempo, sendo substituídos após uma ou duas temporadas. Por esse motivo, Seán merece o benefício da dúvida, mas vai precisar mergulhar mais fundo para mostrar que faz sentido no novo posto.
