O que “O Diabo veste Prada” nos ensina sobre estilo e antropologia?

por Andreza Ramos

O filme "O Diabo Veste Prada" é um clássico fashion que nos apresenta looks bonitos, discussões importantes sobre as relações na moda, uma pitada de jornada da heroína e um tico de… antropologia? Bom, foi exatamente isso que você leu. 

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Foto: O Diabo Veste Prada (Divulgação)


Para começar nossa conversa, quero relembrar a trajetória de Andy em “O Diabo Veste Prada”. Ela é uma recém-contratada assistente de uma revista que caiu no universo da moda com pouca (ou nenhuma) introdução sobre a área. Andy tinha um estilo pessoal casual e sem grandes emoções que, como sabemos, mudou completamente durante a trama.

Agora, em cena, Miranda Priestly, uma editora-chefe respeitada e temida na mesma medida, que, ao contrário de Andy, tem um estilo de se vestir dramático e volumoso ao mesmo tempo que é elegante e refinado. Quando o assunto é imagem, Miranda não abre mão de uma narrativa visual de poder, dominando qualquer ambiente.

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Foto: O Diabo Veste Prada (Divulgação)

Um pouco mais adiante, quando Andy decide que realmente quer este trabalho e a confiança de Miranda, acontece um dos arcos de personagem mais amados de todos os tempos. Andy muda completamente de estilo, tornando-se mais moderna, refinada e atenta aos detalhes. Mas será que já não vimos esses adjetivos, esses looks em algum lugar? Não são familiares para nós?

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Foto: O Diabo Veste Prada (Divulgação)

E é exatamente isso que você está pensando. Andy usa a linguagem visual, as roupas, para estabelecer, ainda que simbolicamente, uma relação de paridade e reconhecimento com Miranda. Sabe quando, também nos filmes, os homens vão falar de negócios em campos de golfe (quando muitos deles nem gostam ou sequer sabem jogar)? Eles fazem isso para serem lidos como iguais, para criar símbolos compartilhados aumentando a estima pelo outro. Andy tenta entrar no "campo de golfe" junto com Miranda, e a antropologia chama isso de "Imitação Prestigiosa".

A "Imitação Prestigiosa" ocorre quando a construção cultural de um corpo (imagem, gestual e comportamental) é feita com base nas imagens "dominantes" de um espaço ou cultura. É basicamente uma imitação, muitas vezes acontecendo no âmbito do inconsciente, que fazemos de pessoas amadas, potentes ou temidas.

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Foto: O Diabo Veste Prada (Divulgação)

Andy queria tanto construir um espaço simbólico de valor em Miranda que repetia na própria imagem os elementos de linguagem que Miranda usava, para ser validada e lida como igualmente competente. Os volumes, tons terrosos, alto contrastes, os acessórios.

Embora pareça distante, assim como em “O Diabo Veste Prada”, o fato é que nós já fomos a Andy de alguém. Neste momento, o inconsciente enxerga nossa imagem como um mecanismo de sobrevivência e, sem perceber, passamos a elencar o que é bonito ou feio, estiloso ou brega, não conforme a informação estética de cada objeto, mas pela pessoa que apresenta esses elementos a nós. Vou repetir porque, eu sei, parece surreal, mas nosso cérebro enxerga nosso vestir como uma ferramenta de sobrevivência. A moda não é insana?

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Foto: O Diabo Veste Prada (Divulgação)

Por fim, sejamos sinceras, por mais bem resolvida que você seja, é praticamente impossível separar da nossa construção pessoal o que é "nosso" e o que é fruto da relação com o outro. Por isso, deixo um conselho importante para mim e para você: na medida do possível, escolha bem suas Mirandas. Ser consciente do que você consome (em todos os sentidos) te torna mais consciente do que você veste.

quem é a autora?

Meu nome é Andreza Ramos, sou consultora de estilo e comunicadora de moda, na eterna (e gratificante) função de tornar o nosso vestir mais gostoso, disruptivo, estratégico e intencional. Amo criar looks criativos, mas também estou atenta aos sinais sociais, culturais e história da moda.

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