Os filtros do Instagram estão impactando negativamente nossa autoestima?

por Giulia Coronato

Os veículos de comunicação oprimem e controlam o corpo e a aparência das mulheres desde o seu surgimento, criando padrões de beleza totalmente inalcançáveis e escravizando mulheres desde o início de suas vidas, transformando nossos corpos em motivo de audiência e abrindo para debate uma assunto que deveria ser somente a respeito de nós.

Com a praticamente extinção da mídia impressa, todos os olhos se viraram para as redes sociais e hoje em dia é difícil consumirmos um conteúdo que esteja fora de um aplicativo no nosso smartphone. O Instagram é o quarto aplicativo mais baixado e usado no mundo e é também o mais imagético de todos eles. Nós constantemente selecionamos com cuidado o que queremos postar e qual parte de nossa vida queremos compartilhar com nossos seguidores, o filtro que passamos em nosso feed é delicado e preciso e assim como os padrões de beleza impostos pelas revistas há uma década atrás, inalcançáveis. 

Em contramão ao movimento body positive e a proibição de fotos extremamente editadas em revistas, surgiu a nova sensação das redes sociais, e em minha opinião, a nova forma de opressão da imagem da mulher pela sociedade: os filtros do Instagram

Os filtros do Instagram começaram como uma forma divertida e inofensiva de "se fantasiar", com orelinhas de cachorro, bigodes de gatinhos e óculos divertidos. Mas não demorou muito para surgiram os efeitos que transformassem completamente nossos rostos, aumentando a boca, afinando o nariz, puxando os olhos e maquiando a pele, deixando todo mundo com a mesma aparência, uma mistura de Kardashian com Bella Hadid. O efeito Kardashian se popularizou no mundo inteiro e a Internet como intensificadora da sociedade e de suas rupturas, demonstrou isso como nunca antes. 

Por mais inofensivos que os filtros do Instagram possam parecer, eles transformaram a forma que enxergamos a nós mesmos e hoje em dia postar uma selfie sem nenhum filtro ou edição, se tornou um ato de coragem e quase um posicionamento político. As pessoas olham para suas imagens deformadas na tela do celular e enxergam isso como um upgrade de si mesmo, comparando sua real aparência com a versão computadorizada e nada humana que os filtros nos oferecem. 

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Os dados em torno do assunto são completamente assustadores e comprovam que de inofensivos, os filtros não tem nada. Um fenômeno recente chamado Snapchat dysmorphia mostrou que um grande número de jovens mulheres norte-americanas estão levando à cirurgiões plásticos fotos de si mesma com filtros, dizendo que é assim que elas querem parecer. Além desse fenômeno, as intervenções físicas mais procuradas nos últimos anos foram a rinoplastia e o preenchimento labial. Segundo um estudo da Academia Americana de Cirurgiões Plásticos, a motivação de 55% das pessoas que fizeram rinoplastias em 2017 foi o desejo de sair melhor em selfies. A bichectomia, procedimento que afina as bochechas teve um aumento de quase 20% em sua procura só no Brasil, principalmente entre jovens de 15 a 25 anos de idade. 

A fixação por uma aparência computadorizada e irreal pode representar riscos físicos e psicológicos às gerações que são nativas da Internet. Cada vez mais vemos a depressão e a baixa autoestima ligada à pessoas cada vez mais novas, e a insatisfação com a própria imagem se tornou quase uma característica dos novos adolescentes. Meninas de até 14 anos representam os usuários mais frequentes do Instagram e é claro que esses dados estão interligados, sua grande frequência nas redes sociais definitivamente é uma das principais causas das doenças psicológicas na Geração Z. A Geração Z é se mostrou ser a que menos sai de casa e socializa com outros. Infelizmente vem se tornando cada vez mais comum vermos meninas que se sentem desconfortáveis em apresentar sua imagem real ao mundo, já que a pessoa que vemos em seu Instagram é completamente tratada, editada e distante da realidade. 

Em resposta à isso, com o intuito de transformar o Instagram em uma plataforma positiva e agradável ao usuário, a empresa anunciou em outubro de 2019, que iria remover todos os filtros com aspecto de cirurgia plástica e parou de aprovar o lançamento de novos filtros do mesmo tipo. Além disso, foi lançada uma atualização que disponibiliza a denúncia de filtros e efeitos que podem ser uma violação às políticas de uso da rede social.

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Hoje em dia, o leque de filtros do Instagram ainda é praticamente infinito e as possibilidades de edição se tornam cada vez mais diversas. A linha entre o criativo e o problemático é tênue e devemos ficar o mais atentos possíveis, principalmente às gerações mais novas e cuidar para que sejamos o mais real possível, exaltando pessoas reais e belezas reais. Nós somos suficientes e não há filtro no mundo que melhore o que a natureza nos deu. Que apartir de agora usemos as redes sociais para exaltar o lado positivo e individual de cada um e nós e não para mascarar a realidade. 

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