Nos últimos dias, mais precisamente entre 04 a 08 de Novembro, rolou a semana de moda brasileira e entre algumas mudanças de calendário, novos formatos e posicionamentos, a edição do SPFW 2020 aconteceu pela primeira vez de uma forma totalmente digital. A comemoração dos 25 anos do evento mais importante do país foi além de desfiles e novas coleções das marcas e trouxe temas importantes para a festa, entre eles a diversidade racial e o prazo de validade das roupas em nossos armários.
Como havíamos reportado semanas atrás após um bate papo para a imprensa com Paulo Borges, diretor criativo da São Paulo Fashion Week, nesse ano o evento aconteceria de maneira mais democrática e inclusiva, permitindo que todos pudessem participar dos desfiles e de todos os outros conteúdos através de lives e intervenções artísticas por alguns pontos da cidade. E não deu outra, a marca do SPFW 2020 estava em prédios e ruas por toda São Paulo com projeções de imagens e filmes. No último dia, um encerramento histórico com uma homenagem a Zuzu Angel assinada por Ronaldo Fraga e um show emocionante no topo do Grand Mercure Ibirapuera.
Esse é um novo passo para a indústria da moda brasileira da qual, inclusive, teve que se adequar e reformular diante de um ano de pandemia, buscando novas estratégicas e olhando para pautas que precisam ser faladas. Abaixo, além das tendências, listamos alguns dos melhores momentos do SPFW 2020, vem com a gente:
_pelas ruas
Os desfiles das marcas participantes dessa edição e uma seleção de memórias dos 25 anos de São Paulo Fashion Week foram apresentados em formato de live e também projetados em diversos pontos históricos da cidade, entre eles o Farol Santander e o Monumento das Bandeiras, do lado do Parque do Ibirapuera. Além disso, uma série de lambe-lambe também fez parte da ocupação artística do evento.
_uma nova estratégia
Por conta do COVID-19, pela primeira vez na história o evento de moda brasileira teve que ser 100% digital, mas a pandemia também acabou impactando algumas marcas que tiveram que traçar novas estratégias de venda e comunicação para seguir esse novo momento. A grife A. Niemeyer foi uma delas e logo no começo da quarentena precisou criar um e-commerce para atender as suas clientes e percebeu também um potencial de estar mais conectada com o consumidor e poder proporcionar uma nova experiência.
_equivalência racial
Assim como o começo da nova era totalmente digital do evento um outro acontecimento marcou a edição do SPFW 2020: a equivalência racial. Por mais que a luta pela inclusão de diversidade não seja um assunto novo nas passarelas ao redor do mundo, a semana de moda brasileira deu um passo na frente e após o seu acordo com o coletivo Pretos na moda, se tornando a primeira a determinar que 50% do casting seja composto por afrodescendentes, indígenas ou asiáticos. Pelo o que acompanhamos, todas as marcas presentes seguiram a regra.
_roupa não tem validade
Estamos caminhando cada vez mais para um caminho cheios de propósitos e compras mais conscientes e isso acabou refletindo em diversas marcas nessa edição do SPFW 2020. Começando pelo estilista André Boffano da Modem, que trouxe para a sua apresentação uma reflexão a favor do reuso de roupas antigas, mostrando que quando combinada com outras peças mais modernas, elas podem ganhar um novo sentido no armário. Seguindo esse mesmo pensamento de reutilizar e não colocar prazo de validade nas roupas, as marcas Amapô, Amir Slama e Ponto Firme foram outras que buscaram uma nova maneira de mostrar nessa coleção peças já existentes de seus acervos.
_em alta
Claro que não deixaríamos de falar também das tendências e propostas apresentadas nas passarelas virtuais e assim como vimos nas semanas de moda internacionais nos últimos meses, os recortes amplos, fluídos e oversized estão marcando presença por aqui também. Em contrapartida, nunca vimos uma moda tão versátil e consciente como nos últimos tempos e as marcas seguem apostando em roupas que vão além das tendências, mas que carregam praticidade e um DNA totalmente brasileiro com tecidos produzidos aqui. A questão de gêneros também foi pauta para muitas das coleções que deixaram a escolha livre e democrática. Quanto a beleza, a trança de raiz foi a grande protagonista dessa temporada com diferentes variações e penteados, mas seguindo a mesma proposta que celebra a estética negra.
_zuzu vive
E encerrando o último dia do SPFW 2020, o estilista Ronaldo Fraga fechou a semana de moda brasileira em grande estilo, emoção e misturando o passado com técnicas do futuro. O designer trouxe para a sua apresentação a figura icônica Zuzu Angel de forma animada em 3D para o desfile "Zuzu Vive!". Já não é a primeira vez que Ronaldo faz uma homenagem a estilista que, aliás, preferia ser chamada de costureira. Vinte anos se passaram desde seu marcante desfile em 2001, "Quem matou Zuzu Angel" e dessa vez o designer trouxe a brasileira de volta para nos relembrar a sua história. Para quem não conhece, Zuzu Angel ficou conhecida internacionalmente pela busca de seu filho e pelo desfile do qual ela denunciou as torturas do regime militar na época. Ela também foi a responsável por transformar a moda daqui, sendo uma das primeiras a utilizar materiais brasileiros em suas coleções. Para o seu desfile, Ronaldo enfrentou o desafio de criar os croquis e reproduzi-los em 3D com a ajuda do Studio Asteri, transformando as rendas renascença do cariri paraibano em arte computadorizada.