Por que mulheres ainda são minoria na Direção Criativa de grandes marcas?
Já diria Beyoncé, Who Run the World? Girls! — mas e na moda? Será que isso vale? Em uma indústria predominantemente movimentada por mulheres — das passarelas ao poder de compra, seja no mercado de luxo ou fast fashion — por que o assento mais alto nas grandes grifes continua reservado para homens? Atualmente, sete é o número das maravilhas do mundo, é o número dos dias da semana, e é o número de mulheres ocupando a Direção Criativa de marcas de luxo, representando apenas 24% desse universo.
Esse percentual sobe um pouco quando incluímos Pelagia Kolotouros, da Lacoste, e Veronica Leoni, da Calvin Klein, chegando a 29%. Ainda é uma fatia modesta, mas próxima da marca simbólica dos 30% — número baixo, sem dúvida, mas que parece até "gigantesco" diante da nossa minoria nesse clube dominado por homens. Poderia ser ainda maior, é claro, se Donatella Versace não tivesse deixado o comando criativo de sua marca, o que é uma pena.

Quando Sarah Burton deixou o comando criativo da Alexander McQueen, a Kering nomeou Séan McGirr para seu lugar, tornando seu time 100% masculino. Ao menos Burton foi para a Givenchy, parte do conglomerado LVMH, onde, ao lado de Maria Grazia Chiuri (Dior) e Camille Miceli (Pucci), é uma das três mulheres à frente de algumas das 13 marcas de moda e artigos de couro do conglomerado — aqui, excluo Silvia Venturini da Fendi, pois ela não ocupa o cargo de Direção Criativa no womenswear.
Enquanto isso, na Richemont, Chemena Kamali representa as mulheres nos assentos de moda, enquanto a Alaïa segue sob o comando de Pieter Mullier — não sabemos se por muito tempo, conforme as fofocas da dança das cadeiras na moda. A Chanel recentemente cedeu o posto de Virginie Viard para Matthieu Blazzy, que saiu da Bottega Veneta, sendo substituído por Louise Trotter, que agora comanda a marca. Na Hermès, quem ocupa o cargo é Nadège Vanhee-Cybulski, e, por fim, Miuccia Prada lidera a Miu Miu sozinha, além de dividir a cadeira criativa da Prada com Raf Simons.

Os homens criam obras de arte; as mulheres podem criar bebês. Essa é uma ideia muito patriarcal”
Foi o que disse Chiuri à WWD. A Diretora Criativa, de forma bem direta — e, se me permite a expressão, sem papas na língua —, não hesitou em trazer à tona questões cruciais sobre como os homens ainda enxergam as mulheres. Ela explicou que a visão sobre nós permanece extremamente estereotipada e que, muitas vezes, são as próprias mulheres que acabam impondo barreiras, reproduzindo esse olhar sexista internalizado.
Afinal, como Chiuri bem pontuou, as mulheres têm o poder de gerar a vida, algo que mexe profundamente nas estruturas empresariais patriarcais. Mas isso traz outras questões: quem mais, além de nós mesmas, lembra constantemente que a licença-maternidade ainda é uma preocupação enorme? E o casamento? E as responsabilidades com os filhos? Onde deixá-los e com quem? Estamos em 2025, mas essas são perguntas que muitas mulheres ainda se veem obrigadas a responder.
E como, então, lutar contra tudo isso quando as estruturas de gestão também estão predominantemente sob o controle de homens? Para chegar ao topo, minha amiga, o caminho ainda passa por ele — no fim das contas, são os homens que ocupam as posições de decisão e fazem as contratações.
Deve ser por isso que muitas mulheres optam por fundar seus próprios negócios. Victoria Beckham, Anna Sui, Isabel Marant, Diane von Furstenberg, Jil Sander, Sandy Liang, Simone Rocha, Grace Wales Bonner e Vivienne Westwood são apenas algumas das mulheres que, ao longo dos anos, deram vida às suas próprias marcas. Algumas delas, com passagens por grandes nomes da moda antes de se lançarem sozinhas, como no caso de Stella McCartney.
Agora, quem sou eu para afirmar, mas talvez algumas dessas mulheres simplesmente não queiram assumir outra marca — pois isso implica em outras questões, como a liberdade criativa, além de criar uma expectativa de vendas altíssimas em cima do Diretor Criativo, que, hoje em dia, não tem muito tempo de trabalhar antes de ser demitido. Sim, sinto muito, Sabato de Sarno.
Outras, talvez, não tenham recebido a oportunidade de brilhar. E, por favor, não me venha com a desculpa de que isso não seria possível. Afinal, você não acha que Jonathan Anderson fez um trabalho primoroso à frente da Loewe por onze anos, enquanto ao mesmo tempo desenvolvia seu próprio projeto, a JW Anderson?
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e a diversidade de mulheres?
Não bastasse a escassez em lideranças criativas, quando paro para analisar outras questões de representatividade, me pergunto: onde estão as mulheres negras, asiáticas e latinas nessa história? É como se a indústria fechasse os olhos para essas criativas, negando-lhes esse passaporte de entrada no mundo da alta moda.
Mulheres negras, por exemplo, estão na linha de frente das tendências, ditam o que é cool e revolucionam o design, mas quantas realmente chegam ao topo das grandes maisons? Martine Rose e Grace Wales Bonner são talentos inquestionáveis e referências da moda contemporânea, mas seguem à frente de suas próprias marcas, sem convites para assumir as gigantes do luxo.
O cenário para mulheres asiáticas também não é dos mais inclusivos. Se pensarmos em nomes como Rei Kawakubo, por exemplo, percebemos que as poucas que chegaram ao topo o fizeram construindo seus próprios impérios. Já estilistas como Yoon Ahn, referência global na moda urbana, continuam orbitando grandes marcas sem que essas lhe ofereçam um posto de liderança criativa.
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E as latinas? Bom, a ausência é ainda mais gritante. Gabriela Hearst, que esteve na Chloé, foi uma das poucas exceções recentes, mas ainda falta um movimento real para trazer essa representatividade para as grifes tradicionais.
A moda adora se apropriar de estéticas diversas e lucrar com elas, mas será que essas culturas são realmente valorizadas quando chega a hora de decidir quem senta na cadeira criativa? O discurso de diversidade está na passarela e no marketing, mas, na alta cúpula das grifes, a porta continua fechada.
qual caminho seguir?
Para encerrar esse papo, também olho para a indústria como um todo. Ela atravessa um momento crítico — em todos os sentidos, do financeiro ao de identidade. Isso acontece por inúmeros fatores, desde as transformações do mercado até a mudança no comportamento do consumidor. Como mencionei acima, hoje, os designers não têm mais tempo para construir a identidade de uma marca ou explorar sua própria visão artística; tudo gira em torno de números e métricas.
Claro, isso é essencial para qualquer grife se manter no topo ou tentar retomá-lo, mas, inevitavelmente, impacta a escolha de quem assume um cargo de Direção Criativa. Se apenas homens recebem a confiança para reposicionar uma marca, sustentados por um status quo previamente estabelecido — como é o caso de Demna Gvasalia, agora na Gucci —, então as mulheres sequer têm a oportunidade de provar que podem fazer o mesmo, e talvez até melhor.
Basta observar os resultados da Chloé sob Chemena Kamali em tão pouco tempo, o impacto transformador da Versace sob Donatella ou como Miuccia Prada mantém a Miu Miu entre as grifes mais desejadas, coleção após coleção. Se a moda reflete o espírito do tempo, então o que diz essa insistência em manter o topo da pirâmide criativa dominado por homens?

Não há falta de talento feminino, negro, asiático ou latino — há falta de oportunidade e reconhecimento. A indústria do luxo pode continuar a correr atrás de números e relevância, mas enquanto a renovação não alcançar também os cargos de liderança, continuará presa a um modelo ultrapassado.