A diferenciação de gêneros sempre existiu como uma maneira de designar o que é do homem e o que é da mulher. Nós mulheres, sempre fomos vistas como mais frágeis, românticas e os homens como fortes e provedores. Essa visão impacta até hoje na separação de objetos, roupas e atividades que cada uma "pode" ou não realizar. As mudanças na visão da população sobre isso acontece já faz alguns anos e novas maneiras são criadas ou reforçadas para quebrar esses estereótipos, como é o caso da moda sem gênero.
A moda é uma das maiores maneiras de atribuição de gênero e hoje, por termos mais liberdade para expor nossos desejos, estilo, ter mais espaço para conversas sobre sexualidade e identificação de gênero, as conversas sobre moda sem gênero têm sido mais constantes. Uma grande promessa para o futuro da moda é a quebra da divisão entre feminino e masculino, e que possamos utilizá-la ainda mais como representação de nós mesmos.
_moda sem gênero
Segundo a stylist Roberta Weber, a atribuição de gênero às peças de roupa é uma questão de construção social: “atribuir gênero à peças de roupa é uma construção social. Até o século XVIII, eram os homens que detinham o privilégio de se vestir de forma mais extravagante e acesso à moda mais criativa, inclusive muito do que se tornou feminino foi originado no guarda-roupa masculino”, conta. Foi a partir do machismo da sociedade que se formou a ideia de que apenas as roupas femininas podiam seguir tendências, terem cores e diferentes modelagens.
Moda sem gênero é uma uma prática que ignora o fator do gênero, ela rompe as barreiras de roupas que foram criadas para o feminino ou masculino. Trata-se de roupas que foram criadas para qualquer pessoa, é uma maneira de oferecer liberdade de expressão e identificação. É exatamente nisso que ela se diferencia da moda unissex que é pensada para vestir todos os gêneros, então ela ainda possui a percepção de gêneros. Lucas Santos (@lucasantosph) é influenciador e utiliza suas redes sociais para falar sobre moda agênero e para ele a moda é um ato político, é a oportunidade de ser livre sendo você mesmo.
a forma que nos vestimos tem tudo a ver com identidade, o que vestimos, na sua forma mais elevada, é expressão de quem somos e da nossa personalidade e essência
A importância de marcas que produzam peças sem gêneros é enorme e chega exatamente no que é a moda, como elucida Roberta: “a forma que nos vestimos tem tudo a ver com identidade, ou seja, o que vestimos, na sua forma mais elevada, é expressão de quem somos e da nossa personalidade e essência. Fluidez e liberdade passam diretamente por isso e esse é o motivo pelo qual não deveriam existir restrições vindas do mercado ou da sociedade sobre regras de quem pode usar algo e apenas as auto impostas, baseadas nas vontades pessoais e intransferíveis de cada pessoa e não sobre estereótipos ultrapassados e desnecessários”.
Para entendermos ainda mais a importância da moda sem gênero devemos pensar em quem as consome. No caso das mulheres que não se identificam com peças destinadas ao gênero feminino, ao procurar peça na seção masculina elas não encontram seu tamanho disponível. Os sapatos possuem modelagem grande e, não apenas os sapatos, mas o mesmo acontece com as peças de roupa. Já para os homens que desejam usar peças que supostamente foram designadas às mulheres como vestidos e saias, os tamanhos são pequenos. Lucas Santos concorda e acrescenta: “uma vez que não tem seu tamanho subentende-se que não é pra você. Além de ficar mais acessível para pessoas maiores ou menores, você dá mais liberdade para que as pessoas usem o que quiserem de fato.”
Eu uso o que eu sou e quero transmitir pro mundo de alguma forma o que eu sinto
A história de Lucas com a moda agênero é antiga, desde os seus doze anos de idade ele já era adepto a este universo, conta: “No começo eu sempre ia na “sessão feminina” buscando mais tendências de moda, blusas com estampas ou tecidos diferentes já que a masculina sempre foi muito limitada, principalmente nos quesitos tendências”. Ele conta que no início foi como uma maneira de fugir das peças repetidas de fast fashion e ainda assim poder expressar sua personalidade: “esse ponto da personalidade sempre foi muito importante pra mim. Eu uso o que eu sou e quero transmitir pro mundo de alguma forma o que eu sinto”.
_consumo
Como falamos, a grande dificuldade da moda agênero é encontrar produtos que atendem a esse público. Hoje são poucas as lojas que entendem a necessidade do mercado e das pessoas. Além disso, que haja realmente a diferenciação do unissex, que muitas vezes são peças básicas em cor, estampa e modelagem e claro, o aumento na grade de tamanho.
Além da importância das marcas em produzir peças em tamanhos diferentes, é necessário que a gente normalize a ideia de que a peça não tem gênero e foi feita para algum público específico. Lucas nos relatou que já presencia relatos de amigos e seguidores que já se desprenderam do medo de andar em diferentes seções das lojas, então basta que o mercado também entenda isso. Ele também compartilhou o seu relato de como a falta de grade de tamanho o atinge: “eu já desenvolvi técnicas absurdas de como fazer um tamanho 39 caber no meu pé 41. Desconfortos, calos ou até aprender a pisar diferente pra conseguir usar algo que me represente muito”, divide.
_quem já esta produzindo
Algumas marcas brasileiras já entenderam a importância de atender às demandas de peças agênero e uma delas é a Approve. A marca de streeetwear não faz separação em seu site e todas as peças vendidas são fotografadas tanto em homens quanto em mulheres, realmente quebrando essa divisão de gênero.
A Dendezeiro, marca soteropolitana é outro exemplo que quebra as divisões de gênero. Além disso ela atende diferentes biótipos e dá voz as pessoas negras e LGBTQIA+.