Sardas fake: a nova “tendência” que reafirma a inalcançável busca pelos padrões de beleza
Tendências no mundo da beleza vêm e vão. É comum nos depararmos com novidades e novas apostas e, cá entre nós, é isso que mantém o mercado interessante e em movimento. Mas, em que momento isso passa do ponto? E em que momento uma tendência deixa de ser saudável e divertida para virar um dos padrões de beleza nocivos?
Primeiro passo: é importante entender de onde saem as tendências e quem as lança. Desde o século XV, quando a indumentária passou a ser considerada moda, o caminho das tendências era muito claro: elas sempre vinham de cima para baixo, começando na nobreza e, em seguida, eram aderidas pela burguesia. Mas, desde a democratização da informação de moda e do início do street style, essa ordem foi quebrada. Hoje as tendências vêm de todos os lugares. Um exemplo claro é como as principais tendências de 2020 foram difundidas pelo TikTok, uma rede social dominada pela geração Z de todas as classes, gêneros e estilos.
Se você já passou algumas horas rolando pela timeline do aplicativo, você provavelmente deve ter se deparado com a nova obsessão das beauty junkies, as sardas fake. De um dia para o outro, todo mundo acordou desejando ter as bochechas cobertas por sardas e fazendo uso de diversos truques e produtos para reproduzir as manchinhas.
E, junto com o TikTok, vieram os filtros do Instagram de sardas de mentira. É muito provável que você já tenha até usado um filtro que as adicionasse em toda a extensão do seu rosto e tenha se sentido bem assim! Mas, embora o ato de desenhar sardas fake com lápis e delineadores pareça inofensivo, se colocarmos em perspectiva, veremos que essa tendência transforma uma condição de pele, que pode ter sido motivo de bullying para muitas pessoas ao longo dos anos, em mais um dos inalcançáveis padrões de beleza. Só aceito agora por que é cool.
Sardas são manchas pigmentadas que têm como principal fator de aparecimento a genética e a exposição solar. Para grande parte das pessoas que as possuem, elas eram - e ainda são, em alguns casos - consideradas motivo de vergonha. Existem relatos de pessoas que cresceram com apelidos e brincadeiras de mal gosto por terem o rosto e o corpo cobertos por essas manchinhas, tendo como objetivo de vida as esconder o máximo possível usando camadas de maquiagem e até roupas de manga comprida.
"Quando os anúncios e fotos publicitárias eram feitos com excesso de Photoshop, resultando em peles perfeitas sem uma manchinha sequer, me peguei diversas vezes passando muitas camadas de base e corretivo para tentar alcançar aquela imagem irreal. Achava que havia algo de errado com minha pele", conta a editora de moda, Aline Santos, que tem sardas leves no rosto.
Para além desse lado negativo do surgimento da tendência das sardas fake, é preciso também reconhecer que a valorização das sardas pode ser um progresso. Afinal, é a aceitação da beleza natural, uma celebração de pessoas reais, que só escancara o quão irreais são os padrões de beleza reproduzidos por tanto tempo pelos mercados da beleza e da publicidade.
Em resumo, a conversa é complexa e a linha entre o criativo e o problemático é tênue, principalmente quando falamos de padrões de beleza. Por isso, é preciso ficar atento, ser responsável, empático e o mais real possível.