Sem data pra esses dates: está tudo bem ser solteira

por Giovana Marcon

Essa coluna nasceu de algumas desilusões amorosas pessoais, mas que sempre senti que outras pessoas se identificariam. Então perdi a vergonha e desde então tenho falado sobre e expondo minha vida amorosa por aqui. Mas a questão é: a minha intenção nunca foi me lamentar por não ter tido sucesso em nenhum relacionamento, mas sim dividir tudo o que eu aprendi e como isso pavimentou o meu caminho até o amor próprio e. Por isso hoje, no dia dos namorados, a mensagem que eu quero passar é que está tudo bem ser solteira.

Aposto que muitas de vocês se sentem especialmente sozinhas nessa data, com a quarentena então, só ladeira abaixo. Nós, mulheres, desde sempre fomos educadas para viver em função do amor. Fomos criadas para pensar no amor o tempo todo! Crescemos vendo filmes de comédia romântica, lendo livros de romance obrigatórios e questionando o caráter de Capitu, mesmo o Bentinho sendo meio péssimo, quando ainda não entendíamos direito sobre o feminismo e tudo mais. Desenhos animados, seriados de TV, revistas e quase todo o conteúdo que consumimos crescendo era voltado para o amor ou pelo menos tinha um pouquinho de romance envolvido. Então é perfeitamente entendível que hoje, mesmo estando em uma época totalmente diferente, ainda haja cobrança para “sossegar”, para encontrar alguém para casar e não ser a coitada da família que nunca consegue um namorado (no caso da minha família, sou eu). E esse status sempre acaba sendo descrito de alguma forma que nos rebaixa, pra causar pena e aquele efeito colateral de “Aww, ela ainda está solteira” e “Posso te ajudar a encontrar alguém”. 

Mas, vamos lá, existem tantas coisas que eu quero alcançar que são mais importantes que um relacionamento. Ter uma saúde mental saudável, por exemplo. Ser bem sucedida no trabalho, aprender a cozinhar feijão… A lista é longa. E ainda assim nos sentimos mal por não ter um relacionamento estável. A gente tem a impressão de que só vamos “chegar lá” quando encontrarmos aquela pessoa, e isso é um pouco triste, não? Parece que tudo vai se acalmar quando isso acontecer, que a aventura vai acabar e, consequentemente, a minha liberdade. Pelo menos é essa referência que eu tenho, e ela está longe de ser o caminho que eu quero seguir.

A pressão da família e da sociedade em encontrar o parceiro certo é quase que uma realização pessoal, uma conquista que define que você alcançou tudo na vida. Estudamos, nos graduamos, trabalhamos e agora só falta casar e ter filhos. É assustador, né? Eu não quero uma parceria que seja o fim da minha vida, mas sim algo que vai somar. Eu não quero uma zona de conforto, eu quero alguém que me tire do tédio e que entre nas minhas loucuras e que, se durar pra vida inteira, ótimo! Se for para ter filhos, que eles sejam um novo começo e uma nova aventura, não a definição de sossego. Eu não quero casar e criar meus filhos para “morrer em paz”, eu quero continuar vivendo e me entregando até o limite. Eu definitivamente não quero um relacionamento estável só para que a minha família fique aliviada.

Então quando eu digo que está tudo bem ser solteira, não quer dizer você não deva namorar nunca ou que eu não queira casar. Quer dizer que eu (e nós todas) sou muito capaz de conseguir coisas incríveis sozinha, de me sentir realizada sem necessariamente ter outra pessoa ao meu lado. Eu quero que a minha família sinta orgulho - e não alívio - da pessoa que eu me tornei e das minhas conquistas - não por casar, sossegar e formar uma família. E é aquilo que eu sempre falo e que levo comigo como crença: não dá para amar ninguém se você não ama a si mesmo. Então primeiro eu vou construir e trabalhar no meu amor próprio, me esforçar para me tornar alguém que eu me orgulhe. Se vai ser com ou sem alguém do meu lado, não importa.

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