A título de curiosidade, em 2016, iniciei a faculdade de Arquitetura e Urbanismo, mas mudei de percurso no meio do caminho e me formei em Design de Moda. Quando li sobre tijolos sustentáveis, encontrei a oportunidade perfeita para unir três temas que amo: moda, arquitetura e sustentabilidade.
Essa proposta visa reduzir o descarte irregular de roupas, ao mesmo tempo em que oferece soluções criativas para os setores de arquitetura e decoração, integrando materiais reciclados em móveis e construções. Além disso, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a indústria da moda é a segunda maior consumidora de água e é responsável por cerca de 10% das emissões globais de carbono — mais do que todas as emissões combinadas de voos internacionais e transporte marítimo.
Com esses impactos em mente, em 2017, durante sua faculdade, a arquiteta francesa Clarisse Merlet percebeu o efeito ambiental do setor da construção e começou a explorar o uso de materiais reciclados, como garrafas PET e papelão. Ela viu um potencial ainda maior no reaproveitamento de roupas que, muitas vezes, seriam descartadas de forma inadequada, e decidiu transformá-las em uma solução sustentável e inovadora para o segmento. Em 2019, Clarisse fundou a FabBRICK, uma empresa que transforma resíduos têxteis em tijolos ecológicos.
Para entender mais sobre essa inovação e seu impacto, continue lendo:
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De acordo com o ArchDaily, estima-se que, a cada segundo, o equivalente a um caminhão cheio de restos de tecidos seja incinerado ou descartado em aterros sanitários. É importante destacar que o poliéster, um material plástico amplamente usado na indústria têxtil, pode levar até 200 anos para se decompor — sim, é chocante. Nesse cenário, é essencial encontrar alternativas que unam inovação e sustentabilidade para enfrentar os desafios das duas indústrias mais poluentes do mundo.
É exatamente isso que a FabBRICK está fazendo. Em 2023, a empresa já havia produzido mais de 40.000 tijolos ecológicos, utilizando cerca de 12 toneladas de roupas recicladas como matéria-prima. Cada tijolo é feito a partir de uma mistura de tecidos pré-moídos, como algodão, poliéster, elastano, entre outros, e requer o equivalente a duas ou três camisetas para sua fabricação.
Mas afinal, como são feitos os tijolos sustentáveis?
Os resíduos têxteis são triturados e misturados com uma cola ecológica exclusiva — cuja composição não é divulgada —, desenvolvida especificamente para evitar o apodrecimento e o surgimento de mofo. Em seguida, o material é prensado em moldes de tijolos utilizando compressão mecânica, sem a necessidade de energia adicional. Após serem removidos dos moldes, os tijolos ainda molhados passam por um processo de secagem natural que dura aproximadamente duas semanas antes de estarem prontos para uso.
Quais são suas características?
A FabBRICK reafirma que utiliza exclusivamente roupas descartadas como matéria-prima e, para cada criação, oferece ao cliente a possibilidade de escolher entre 10 formatos diferentes e a cor dos blocos, que é obtida diretamente dos tecidos reciclados, sem necessidade de tingimento químico. Os materiais produzidos são fabricados com três tipos de fibras distintas (7, 20 ou 40 mm) e apresentam resistência ao fogo e à umidade, além de proporcionarem excelente isolamento térmico e acústico. Atualmente, esses tijolos sustentáveis são indicados para uso em compartimentos internos e móveis, mas ainda não são adequados para paredes estruturais.
Tijolos na decoração de ambientes
Embora ainda não sejam utilizados em paredes estruturais — um desejo já revelado pela fundadora em entrevistas —, esses blocos de retalhos são uma excelente opção para a decoração de interiores, podendo ser aplicados em estantes, bancos, mesas de cabeceira e muitos outros itens modernos e descolados.
E então, gostou de conhecer essa iniciativa inovadora para o descarte sustentável e criativo de resíduos têxteis?