Fomos convidados pela VERT para uma experiência única: passar quatro dias no Acre para conhecer um pouco da Amazônia e da cadeia produtiva da borracha, que é utilizada nas solas dos tênis da marca. Foram dias intensos, com muitas aventuras e descobrindo lugares incríveis. E, é claro, que vamos compartilhar tudo o que rolou por lá.
Primeiro de tudo, se você nunca pensou em fazer uma viagem assim, te garanto que é uma daquelas experiências essenciais para ter pelo menos uma vez na vida, sabe? Além de te conectar com a natureza, te faz repensar as prioridades em meio a imensidão (e a beleza) da floresta. Então, se você quer saber um pouco mais sobre isso, vem conferir como foi:
O grupo de jornalistas chegou em Rio Branco, no Acre, no domingo à noite, mas nossa jornada começou na segunda pela manhã. Tomamos café no hotel e fomos, antes de tudo, conhecer o escritório da VERT. Por lá, um dos fundadores, Francois-Ghislain Morillion, nos contou sobre a história da marca e sobre a importância da sustentabilidade, comércio justo e um trabalho social com as famílias extrativistas da Amazônia.
De lá, almoçamos em um restaurante e depois já embarcamos em uma viagem de três horas para a Reserva Chico Mendes, onde passamos dois dias.
Chegando na reserva, fomos divididos em grupos de seis pessoas para ficar nas casas de algumas famílias extrativistas que já trabalham com a VERT. Eu fiquei na casa da Dona Leide e Seu Júlio, ambos figuras fortes e significativas na luta por melhores condições de trabalho e conscientização dos seringueiros.
Jantamos um verdadeiro banquete por lá e depois fomos dormir nas redes, que foram colocadas na sala e na varanda. A experiência de dormir na rede, em uma casa na Amazônia, foi muito incrível. Os barulhos dos bichos — lá tem oito gatos, um cachorro, galinha, peru, ganso, porco — confirmaram que estávamos longe de casa e proporcionaram uma ótima noite de sono.
No dia seguinte, acordamos cedo, por volta das 5h (o galo canta pela primeira vez às 3h), e já nos preparamos para uma programação longa na Amazônia. Depois de um café da manhã reforçado — com cuscuz, tapioca, bolo de milho e ovos mexidos — fomos nos encontrar com o restante do grupo. Nosso meio de transporte na reserva era um pau de arara, um pequeno caminhão com uma estrutura de madeira e bancos na carroceria.
A primeira parada foi em um viveiro, onde o SOS Amazônia faz um trabalho de plantação de mudas, que depois são plantadas em áreas estratégicas da floresta para ajudar no reflorestamento.
Depois, partimos para uma trilha para ver a estrela de viagem: a seringueira. Acompanhamos seu Zé, que é seringueiro desde criança. Ele nos levou para a floresta e mostrou como é feito o corte da árvore, por onde sai o látex e como ele é extraído. São feitos cortes diagonais no tronco e uma pequena vasilha é fincada no final. Assim, o látex escorre pela fissura e cai no pote. Leva de dois a três dias até que saia todo o conteúdo e aí um novo corte é feito.
Após duas horas de trilha, fomos ver o processo de prensa da borracha. O conteúdo que sai nas vasilhas endurece e é retirado e lavado. Aí os “biscoitos”, como são chamados os blocos de látex, são colocados dentro de uma caixa e prensados com blocos de madeira e um tronco bem pesado. Depois de 12 horas, os biscoitos grudam uns nos outros e se transformam em um bloco grande. É um processo demorado, mas muito interessante.
Almoçamos e foi hora de participarmos da reunião das famílias extrativistas. O seu Raimundão, que é primo do Chico Mendes, falou um pouco sobre a importância de se comprometer com a floresta e da união dos seringueiros. Aí foi a hora das famílias produtoras que não desmatam e cuidam da floresta receberem bonificação.
Esse é um incentivo que a VERT dá aos extrativistas que cumprem os zelos propostos pela empresa. Eles consistem em manter um cuidado com a floresta, com as seringueiras, com a borracha e com a cooperativa.
Aí, voltamos para a casa da dona Leide para tomar um banho e à noite voltamos para o centro cultural. A cooperativa organizou um forró e ainda teve um super jantar (comemos muito bem!). Tinha música ao vivo, comida boa, galera animada e muito bate papo. Foi bem divertido e eu até aprendi uns passos de forró com o seu Tião.
No dia seguinte, já começamos a programação com um passeio de barco. Navegamos pelo Rio Acre para tentar ver boto. O dia estava lindo e a vista era incrível! Quando paramos em uma faixa de areia próxima ao local que ele costuma aparecer, decidimos tomar um banho. Ninguém tinha levado biquíni, mas entramos mesmo assim, porque a experiência era mais importante. A água estava fresca, o que foi ótimo para espantar o calor, e foi uma sensação indescritível. Pensar que eu estava na Amazônia, em uma viagem tão legal e tomando banho de rio foi meio surreal.
Voltamos do passeio bem a tempo do almoço e mais uma vez era um banquete. Um peixe frito delicioso, galinha, farofa, salada, macarrão… Uma comida maravilhosa! Ainda teve uma sobremesa diferente: creme de cupuaçu. Parece um flan, com uma calda caramelizada por baixo e um doce consistente por cima. Eu amei!
Deu a hora de voltar para Rio Branco e pegamos nosso caminho, mas antes passamos no centro de Xapuri, que fica a mais ou menos uma hora da reserva. Lá, vimos a casa de Chico Mendes, conhecemos a COOPERXAPURI, onde compramos óleos, castanha e mel, e ainda tomamos açaí doce em uma sorveteria. Meu veredito: não achei tão diferente do que estou acostumada. Como chegamos tarde em Rio Branco, só jantamos no hotel e fomos dormir.
No último dia de viagem, nossa primeira parada foi no SOS Amazônia. A equipe da ONG contou como funciona o trabalho deles em parceria com a VERT, especialmente as oficinas de mulheres. As colaboradoras da instituição organizam esses encontros para mostrar para as mulheres que elas também são protagonistas na extração do látex, não só ajudantes. Tradicionalmente, apenas os homens das famílias são vistos como seringueiros, mesmo que as esposas e filhas participem do trabalho tanto quanto eles. Então, o objetivo da oficina é mudar essa visão e garantir que essas mulheres também tenham direitos trabalhistas.
Em seguida, conhecemos um pouco mais a cidade. Almoçamos, fizemos compras e andamos pelo centro de Rio Branco — mas conto mais sobre isso no nosso guia de viagem da cidade. Por último, voltamos para o hotel, arrumamos as malas, jantamos e voltamos para o aeroporto. Foram dias longos, surpreendentes, inesquecíveis e maravilhosos. Conhecer a Amazônia foi um privilégio e tanto, e espero que todo mundo tenha essa oportunidade.