Um papo sincero – e sem filtro – sobre depressão pós-parto

por Giulia Coronato

Quando engravidei, em maio de 2022, pensava constantemente sobre uma possível depressão pós-parto. Eu já tinha enfrentado a doença uma vez no passado e, sabendo das mudanças hormonais e emocionais que acontecem na vida de uma mulher depois do nascimento do seu filho, tinha bastante medo de como meu emocional iria ficar durante o puerpério. Na minha cabeça, a depressão pós-parto já era uma certeza. Mas é claro que não foi assim, e como tudo na maternidade, as coisas não saíram como eu tinha imaginado ou planejado, e me deparei com um puerpério extremamente tranquilo e leve. 

Antes de entrarmos na minha história, vamos aos fatos: o puerpério é o período em que a mulher passa por mudanças e adaptações depois do parto, e a fase mais intensa do puerpério acontece entre os primeiros 40 dias de vida do bebê A tristeza materna nesse período é quase que esperada - segundo dados da OMS, cerca de 50% a 80% das mulheres irão apresentar certa tristeza durante o pós-parto, também é conhecido como baby blues. Esse sentimento de vazio e angústia é comum e está ligado à queda hormonal que acontece após um parto, a privação de sono e a nova rotina de ter um recém-nascido em casa. Mas, apesar de aliviar naturalmente para grande parte das novas mães, o sentimento de tristeza e solidão do puerpério pode não ir embora, e é aí que o problema se agrava e começam a surgir os casos de depressão pós-parto.

It girl - depressão pós-parto, maternidade, giulia coronato - depressão pós-parto - Outono - Street Style - https://stealthelook.com.br
Foto: Giulia Coronato (Reprodução/Instagram)


No meu caso foi um pouco diferente. Nos primeiros dias e meses após o nascimento da minha filha, eu não enfrentei mudanças súbitas de humor, uma tristeza repentina e outros sintomas ligados ao puerpério -  pra mim, esse período pós-parto foi relativamente “tranquilo”. Foi só quando minha filha completou cinco meses que comecei a dar sinais de que não estava tudo tão bem assim. Nesse período, a Catarina parou completamente de dormir, eu me separei do pai dela e me vi extremamente sozinha. Passava o dia inteiro me sentindo extremamente triste e perdida, mas o maior sinal de alerta para eu conseguir identificar que não estava bem, foi a minha raiva. Eu sentia raiva o tempo todo, de todo mundo, principalmente da minha bebê. Qualquer coisa - que antes considerava insignificante - me desestabilizava completamente. Minha paciência desapareceu, minha vontade de viver como indivíduo sumiu, ia dormir chorando todos os dias, parei de tomar banho, de me cuidar, de me exercitar e, principalmente, me desconectei da minha filha e da realidade. 

It girl - depressão pós-parto, maternidade, giulia coronato - depressão pós-parto - Outono - Street Style - https://stealthelook.com.br
Foto: Giulia Coronato (Reprodução/Instagram)

Embora a amasse profundamente, qualquer ação dela desencadeava em mim uma raiva intensa e incontrolável, resultando em acessos de fúria e automutilação. Comecei a socar as paredes e minhas próprias pernas, vivia com hematomas roxos e amarelados no corpo, e, depois desses momentos de surto, me sentia extremamente culpada, odiava a pessoa e a mãe que eu estava sendo. Vivi assim por meses, até que minha psicóloga me alertou sobre os perigos dessa situação não só para mim, mas também para minha filha. E foi só assim que realmente consegui abrir os olhos e começar a me cuidar. 

Foram passos de formiguinha até finalmente começar a me sentir melhor, não foi do dia para a noite, mas hoje vejo como progredi. Não tenho mais acessos de raiva ou profundas crises de tristeza na hora de dormir. Consigo manter uma rotina saudável, me relaciono com as pessoas de forma mais natural e a relação e conexão com a minha filha aumenta a cada dia que passa. O tratamento da depressão pós-parto varia muito conforme o diagnóstico: medicação, psicoterapia e mudanças de comportamentos referentes ao estilo de vida da nova mãe são alguns dos exemplos, e o que foi feito no meu caso. É importante lembrar que as medicações SEMPRE devem ser orientadas por um profissional, pois algumas podem acabar passando para a criança através do leite, no caso da mãe ainda amamentar. 

It girl - depressão pós-parto, maternidade, giulia coronato - depressão pós-parto - Outono - Street Style - https://stealthelook.com.br
Foto: Giulia Coronato (Reprodução/Instagram)

Saúde mental materna importa, e muito. No Brasil, cerca de 25% das mães sofrem de algum tipo de depressão pós-parto, segundo a Secretária de Estado da Saúde, o que pode ocasionar em morte, tanto da mãe como do bebê. O meu caso foi só um dos milhões que acontecem com mulheres todos os dias. O meu final foi feliz, mas para muitas famílias não é assim. 

Porque, afinal, quem cuida de quem cuida?

Você também vai gostar