Parece que a cada dia surge alguma expressão nova na moda e fica difícil se manter a par de todas, mas não se preocupe que a gente traduz tudo por aqui. A palavra da vez é usada para denominar uma modalidade que existe há anos, mas que ganhou ainda mais força durante os últimos meses, a demi couture. O significado literal do termo é "meia-costura" e ela se encontra na metade do caminho entre prêt-a-porter e alta-costura.
A pandemia modificou para sempre muitas coisas, inclusive nossos hábitos de consumo, acelerando processos que já estavam em curso como slow fashion e a preocupação com sustentabilidade - a busca por qualidade, superando a busca por quantidade, entender quem faz nossas roupas, quais materiais são utilizados, se o processo é responsável e justo, são fatores que passaram a influenciar de forma mais contundente a decisão de compra. Mas não é só isso, a ideia de ter uma peça adaptada especialmente para você, ou disponível em número limitadíssimo, com detalhes únicos e caimento perfeito também é irresistível e contribui muito para sua popularidade atual. Mas afinal, o que define uma peça demi couture?
_alta costura x prêt-à-porter
Calma que eu já explico, mas para entender o termo, antes a gente tem que conversar sobre alta-costura e prêt-à-porter. Para ser considerado oficialmente couture há uma lista de exigências e a primeira é o reconhecimento da Fédération Française de la Couture, órgão que controla o seleto time participante, afinal, o nome é legalmente protegido e só pode ser utilizado com a autorização do Ministério da Indústria da França. Além disso, requisitos como um ateliê funcionando em Paris com 15 profissionais trabalhando em tempo integral, 2 coleções por ano composta por no mínimo 25 looks cada, também constam como prioridade. A alta-costura vende o conceito da marca, os melhores tecidos possíveis, bordados inimagináveis, mostrando todo savoir-faire do ateliê, tudo produzido de forma exclusiva com perfeição e maestria, alguns vestidos levam 1000 horas para serem confeccionados. Isso sem falar nos clássicos vestidos de noiva, que chegam a custar 1 milhão de dólares.
As peças são todas feitas sob medida para a cliente que geralmente precisa fazer 5 provas de roupa até recebê-las, porém trata-se de um grupo muito restrito, estima-se que existam 2000 pessoas com acesso às coleções e apenas 200 são consideradas clientes regulares. Cosméticos e acessórios como bolsas e calçados, são os responsáveis por sustentar financeiramente estas grandes marcas, mas a “Couture”, apesar de não gerar lucro diretamente, alimenta o sonho e constrói a mitologia em torno da maison. Já o prêt-à-porter ou ready to wear, é a roupa pronta para venda, confeccionada em grande escala que você encontra direto nas lojas.
_demi couture
A demi couture une os dois mundos, oferecendo itens que carregam o espírito da alta-costura, como a atenção aos detalhes e a riqueza da produção, aliado ao alcance comercial e praticidade do prêt-à-porter: Na demi, o design já existe e você pode alterar a cartela de cores, o tecido utilizado ou adicionar detalhes especiais, modificar sutilmente o decote, o comprimento e claro, ter a peça moldada de acordo com suas medidas e proporções, customização é a palavra chave. Também é considerada demi couture as criações feitas em número limitado, ou disponíveis apenas sob encomenda, é uma chance para estilistas mostrarem seu talento e as possibilidades existentes em seu atelier que acabam não sendo exibidas nas coleções normais.
Entre as vantagens, peças confeccionadas com cuidado especial, de acabamento primoroso que rivalizam com as da alta-costura, porém somente parcialmente feitas à mão. Mais comodidade, se um look couture autêntico exige inúmeras provas de roupa, a demi pode inclusive ser comprada totalmente online, fator determinante para seu êxito atual. Apesar dos preços bem acima dos praticados no segmento prêt-à-porter, ainda são menos proibitivos que os da HC, custando de 10 mil a 80 mil euros em média, versus os valores astronômicos da couture que começam em 15 mil euros para item de costura simples e sem bordados e não tem limites para as opções mais elaboradas.
A ideia de luxo sempre esteve ligada ao exclusivo e ao trabalho manual, as peças demi couture tem apelo colecionável e atemporal. Feitas em quantidade limitada é possível controlar a cadeia de produção, atendendo a outros requisitos importantes relacionados ao consumo consciente. Iniciado em 2011, no embalo de nomes como Valentino, John Galliano e Mary Katrantzou, foi a marca Vionnet que usou o termo de forma oficial em 2014, ao apontar Hussein Chalayan como diretor criativo da sua linha demi couture. A Balmain e a Balenciaga também foram adeptas nos últimos anos, antes de retornarem ao calendário oficial de alta-costura recentemente.
Entre os exemplos atuais, a marca alemã gmbH, que apresentou casacos no desfile prêt-à-porter, que só estarão disponíveis para venda sob encomenda.
Sarah Burton, diretora criativa da Alexander McQueen, há anos inclui em suas coleções vestidos em número limitadíssimos que podem ser comprados diretamente na loja. Impossível não se encantar pelos bordado complexos e minuciosamente executados.
Harris Reed e sua celebrada marca focada em gender fluidity também é adepto, sua primeira coleção contava com modelos vendidos exclusivamente sob encomenda.
A Rodarte, conhecida por sua estética lúdica e adorada por nomes como Selena Gomez e Kendall Jenner, é outra fã do movimento.