Nós temos a sorte de viver em um país marcado por sua regionalidade plural, riqueza cultural e por sua diversidade. Elementos esses que também caracterizam a moda brasileira, sempre vibrante, diversa, cheia de história e regada à tendências. Sabemos a importância de dar visibilidade e voz para marcas que nasceram no nosso Brasil, movidas pela vontade de fazer a diferença nesse imenso mercado que ao mesmo passo que é cheio de possibilidades, pode ser assustador. Por isso, hoje, resolvemos apresentar algumas marcas baianas de moda super criativas e estilosas.
Vale ressaltar que esses são só alguns dos nomes mega talentosos que fazem parte do projeto Nordestesse, que engloba nove estados nordestinos e tem como um de seus objetivos, a valorização da moda brasileira dando evidência para criadores, que, por sua vez, ajudam a movimentar a economia de suas comunidades. Por aqui, estamos simplesmente apaixonadas e inspiradas pela força e história dessas marcas baianas de moda e temos certeza que você também vai adorar conhecê-las.
dendezeiro
A Dendezeiro é uma das marcas baianas de moda que leva o Brasil mundo afora, estampando capas de revistas como Vogue e Bazaar Kids. A etiqueta se baseia em dois pilares principais: o da confecção e criação de roupas e o de comunicação criativa, ‘disseminando por todo o Brasil uma nova perspectiva de desenvolvimento, onde pessoas negras, LGBTQIA+ e nordestinas estão nos centros de criação e a frente de grandes ideias’, como explica a própria marca.
Recentemente, a Dendezeiro apresentou a coleção “Cor de Pele”, ‘que estuda diversos tons de pele de pessoas negras e indígenas e suas nuances, como estrias, sardas, vitiligo e albinismo’, em collab com o festival ‘Rock The Mountain’, trazendo a ideia da diversidade como ponto principal. Além disso, participou de outros projetos, como o City Forest da Converse em Salvador; a campanha de lançamento da Disney + Havaianas de Cruella em São Paulo, juntamente com a Célula Preta e a direção do filme ‘História de Hiran, Wendell, Linn da Quebrada e Margareth Menezes’.
Conversamos com Hisan Silva e Pedro Batalha, CEO's e diretores criativos da Dendezeiro, que nos contam um pouco mais sobre a marca.
Conta pra gente um pouco sobre a história da Dendezeiro. Como foi o processo de criação e quais são as maiores aspirações?
H.S.: A etiqueta tem como maior missão desenvolver modelagens inteligentes e técnicas, como amarrações para contemplar uma maior quantidade de corpos, além de trabalhar com o viés de protagonismo de pessoas pretas nas campanhas e desenvolvimento da marca, e de pautar suas inspirações no cotidiano baiano. A Dendezeiro atualmente movimenta mais de 30 pessoas diretamente de forma fixa e diversos grupos de confecção na Bahia.
o projeto Nordestesse é um grande conglomerado de marcas nordestinas, que projeta suas criações para todo o país.
Para a Dendezeiro, qual é a importância da visibilidade que o projeto Nordestesse traz para as marcas de moda brasileiras do nordeste do país?
H.S.: A moda autoral brasileira sempre foi diversa e múltipla, porém o holofote sobre as criações e seus criadores sempre circularam entre o eixo sul e sudeste. O nordeste é uma das maiores potências de moda do país e sempre teve dificuldade nesse espaço de consagração, visualização e reconhecimento. O projeto Nordestesse é um grande conglomerado de marcas nordestinas que projeta suas criações para todo o país, reclamando esse local de valorização que por muito tempo nos foi negado.
Leia mais sobre novas marcas e descobertas:
9 marcas brasileiras que realmente valem a pena conhecer, de acordo com as nossas editoras
sillas filgueira
A história pessoal de Sila Filgueira está muito atrelada a sua marca, pois no período em que atuou em empresas de confecção, também iniciou o processo de ‘transição na conquista da minha independência de mulher trans e superação de depressões’, como nos explica. Nesse mesmo momento, desfilou três coleções para o concurso ‘Novos Talentos’, do Shopping Barra como as denominadas ‘Entre Rosas e Espinhos’ e ‘Perfidia’ - uma canção.
Mas foi durante a pandemia que a marca Sillas Filgueira surgiu de fato, com ajuda de grandes amigos e modelagens focadas em produtos com empatia e que abraçam as clientes. Entrevistada por revistas como Marie Claire e Elle Brasil Digital, e agora na capa da Vogue Brasil, Sila sente que esse momento é como a realização de um grande sonho.
Qual é a história por trás da Sillas Filgueira. Como foi o processo de criação e quais eram as maiores aspirações?
S.F.: O ápice da história da minha marca aconteceu quando estava trabalhando em uma fábrica de jeans como auxiliar de estilista, e fiz um acordo de demissão que me possibilitou a compra dos tecidos da minha primeira coleção, que foi lançada posteriormente em 2005 com um desfile no evento ‘Novos Talentos’ de um famoso shopping de Salvador. Desde então, as minhas roupas foram parar nas principais boutiques da cidade.
O meu processo de criação é muito autêntico e pessoal. Sonho com as roupas e todo processo de realização em detalhes, como formas e bordados, então acordo - literalmente! - no meio da noite para desenhar e fazer anotações. A minha maior aspiração é empreender como mulher trans, preta, baiana, nordestina, e gerar renda, ensinar e empregar pessoas que estão passando por alguma situação de risco social, assim como eu já passei. Tenho grande sensibilidade e trabalho na missão de fazer uma moda com essência, pagando as minhas colaboradoras - que também são minhas amigas - um valor justo. Desenvolvo roupas atemporais para mulheres fortes, sensuais, independentes, donas de si, que priorizam peças com DNA brasileiro.
E qual é a importância da visibilidade que o projeto Nordestesse traz para as marcas baianas de moda do nordeste do país?
S.F.: O Nordestesse é um projeto muito importante para marcas do nordeste brasileiro. Através dele, nós, criadores, que sempre tivemos dificuldades em apresentar e vender nossos produtos para o Brasil, estamos conseguindo ultrapassar as barreiras e mostrar o nosso talento, cultura e força das raízes. É um ‘abrir de portas’ para marcas nordestinas que geograficamente não fazem parte do circuito sul e sudeste, e, por este motivo, encontram dificuldade na divulgação e comercialização do seus produtos para todo país, promovendo conexões e ampliando o raio de atuação do nosso trabalho.
Leia mais sobre consumo ético:
Consumo ético é possível? Descubra como ser sustentável na moda
gefferson vila nova label
Criada em 2013 em Salvador, a Gefferson Vila Nova Label é uma das marcas baianas de moda que nasceu como uma marca brasileira de alma universal, livre de tendências e rótulos, e contextualizada na multiculturalidade característica da capital baiana, que deu origem ao imaginário de brasilidade. No portfólio da Gefferson Vila Nova Label, encontramos desde peças handmade, até experimentações têxteis, que se inspiram no mix entre o sportwear, a alfaiataria, demi couture e high street.
Nós conversamos um pouco com o criador que dá nome à sua marca, Gefferson Vila Nova, e você confere a seguir:
a Gefferson Vila Nova Label empreende uma conexão entre o sportwear, a alfaiataria, demi couture e high street em perfeita sinergia.
Como foi a trajetória da Gefferson Vila Nova Label, da criação até chegar nos dias de hoje? Quais foram os obstáculos e vitórias que mais marcaram sua história?
G.V.: O maior obstáculo é sempre o racismo e a xenofobia de parte da imprensa especializada e de atores que fazem a engrenagem da moda nacional funcionar. Fundei a minha marca em 2013, sou um profissional que, dentro da indústria de confecção, tenho completo domínio. Embora tenha cursado Design de Moda na universidade, toda a minha formação técnica se deu de forma autodidata e assistindo a vídeos no Youtube em língua inglesa - os conteúdos disponíveis no Brasil não são de qualidade. Há uma escassez de escolas que oferecem uma formação consistente e a literatura em língua portuguesa de qualidade sobre o tema é quase inexistente. Tudo isso fez com que eu construísse uma biblioteca de títulos em inglês, desde livros que ensinam técnicas de alta costura francesa a alfaiataria praticada nos ateliês da Savile Row em Londres. Isso, vivendo interseccionado por questões de raça, sexualidade e estratificação social.
Hoje, sou um designer de formação sólida que concebe a coleção desde a pesquisa, prototipagem e pilotagem das peças, além de gerir toda uma logística de produção. Desenho, modelo, costuro e produzo um produto de excelência made in Bahia, isso tudo com compromisso com o meio ambiente desde 2013. Acho constrangedor ouvir essas pessoas falando em pautas antirracistas e minha marca não estar presente nesses espaços. Preciso levantar pautas raciais para ser incluído? Sou um genial designer negro e basta.
Para a Gefferson Vila Nova Label, qual é a importância da visibilidade que o projeto Nordestesse traz para as marcas baianas de moda do nordeste do país?
G.V.: O Brasil é um país de extensão continental. Quando penso no design do meu produto, eu o penso dentro de um contexto global, um produto que tenha em sua etiqueta o made in Brazil e Brasil também é o nordeste. Acho curioso quando as pessoas falam do nordeste como se fosse algo à parte do Brasil, exótico, e isso às vezes me soa xenofóbico. Sou categórico ao afirmar que culturalmente, sim, somos uma região do país riquíssima e de natureza exuberante. Falando de Bahia, que é o estado onde nasci e vivo, somos um centro cultural a céu aberto, mas eu fujo do imaginário castrador que se produziu durante a formação violenta do Brasil, desta forma enxergo esses estigmas em forma de ideias pré-concebidas e limítrofes de Bahia e nordeste. Por isso, eu faço uma leitura que mesmo estando sediado na Bahia, eu posso pensar e produzir design carregando toda uma herança de ancestralidade, mas o faço de forma nada literal. Eu penso Gefferson Vila Nova Label com uma marca “glocal” - global + local -, uma marca que não pensa a roupa com uma linha de fronteira.
Leia mais sobre outras marcas:
7 marcas nacionais descoladas para você ficar de olho
meninos rei
A Meninos Rei foi criada em 2015, pelos irmãos Júnior Rocha e Céu Rocha, que buscavam inovar o vestuário masculino, trazendo ousadia e um guarda roupa mais livre. Seu carro chefe são as estampas super coloridas, que ajudaram a criar uma identidade única para a marca. Durante seu tempo de vida até os dias de hoje, a Meninos Rei, conquistou um grande público, tudo isso resgatando a ancestralidade africana e baiana, e as crenças religiosas do Candomblé. ‘Nós sempre usávamos roupas que saiam do convencional e isso chamava atenção de alguns amigos, então decidimos criar a marca’, diz Júnior Rocha, que nos contou um pouco mais sobre a trajetória da marca:
Olhando para a trajetória da Meninos Rei, quais foram os desafios e conquistas até hoje?
J.R.: Percebemos de forma muito nítida a evolução da marca, os avanços e conquistas. Desde o desenvolvimento das peças até a escolha dos tecidos, tudo foi um processo lento e minucioso. O aprimoramento nas técnicas aplicadas também hoje são claramente perceptíveis aos olhos dos clientes que nos acompanham. Lidar com algumas deficiências foi e ainda é um aprendizado até os dias atuais, desde a falta de estrutura que a cidade nos oferece em relação a matéria-prima até os serviços oferecidos na área têxtil.
Para a Meninos Rei, qual é a importância da visibilidade que o projeto Nordestesse traz para as marcas baianas de moda do nordeste do país?
J.R.: A valorização vem em consequência de algumas ações. O Nordestesse enaltece a moda e arte em em solos áridos de oportunidades, mais de riquezas e criatividades férteis. Marcas que estão fora do eixo, por exemplo, às vezes são esquecidas pela mídia e pelo mercado. Consideramos como uma grande vitrine de expansão e aprimoramento de negócios, nos deixando fortes e munidos de informações mercadológicas para assim facilitar de maneira eficaz nosso crescimento, para que possamos aplicar as nossas estruturas e elevar a receita final da nossa marca.
Leia mais:
8 artistas drag queen que você precisa seguir
soul dila
De Salvador para o Brasil todo, a Soul Dila nasceu em 2008, criada por três amigos leigos no mundo da moda, mas que tinham vontade de fazer camisetas e o desejo de empreender. A princípio a intenção era produzir para que os próprios pudessem usar as peças que gostavam e vender para amigos. ‘Tudo começou com a produção de 70 peças, 4 estampas e um investimento inicial de R$900 de cada um de nós, um publicitário, um nutricionista e um administrador’, nos conta Danilo Gois, um dos sócios-fundadores da marca. No começo não tinham uma visão exata de onde queriam chegar, só a certeza de querer ter o próprio negócio, que se tornou um sucesso.
Conversamos com Danilo Gois e Carol Salazie, sócio-fundador e sócia, respectivamente, da Soul Dila, para saber um pouco mais. Vem ver:
em 2010, começamos a vender os nossos produtos em uma loja em Ilhéus e vimos nossas peças circulando nas festas no réveillon em Itacaré, o que nos deu mais gás para seguir.
A Soul Dila tem mais de 10 anos de história. Contem pra gente como foi essa trajetória, seus obstáculos e vitórias.
C.V e D.G.: O processo de vender para os amigos foi crescendo e, consequentemente, a produção também. Além de camisetas, passamos a criar e produzir boardshorts. Em 2010, começamos a vender os nossos produtos em uma loja em Ilhéus e vimos nossas peças circulando nas festas no réveillon em Itacaré, o que nos deu mais gás para seguir e no ano seguinte, abrimos a nossa primeira loja com 13m² no bairro da Pituba.
O ano de 2013 foi um divisor de águas. Começamos a estampar os nossos produtos com as nossas expressões baianas, da forma que a gente fala, a maneira que nos orgulhamos e percebemos que a moda é um instrumento de comunicação, é uma mídia da nossa cultura, impacta positivamente, vai além do vestir. Em 2014, contratamos o Flavão, nosso primeiro funcionário, e abrimos a nossa segunda loja. Então, demos um salto e, em 2015, inauguramos o nosso e-commerce e a primeira loja franqueada. Além de todas as dificuldades burocráticas que envolvem empreender no Brasil, organizar uma empresa em crescimento, buscar estar sempre ofertando produtos criativamente novos e a pandemia foram os nossos maiores obstáculos. Aproveitamos o período para organizar a casa e, felizmente, estamos atravessando e expandindo.
Para a Soul Dila, qual é a importância da visibilidade que o projeto Nordestesse traz para as marcas baianas de moda do nordeste do país?
C.V e D.G.: A visão da Soul Dila é mostrar para o Brasil a riqueza criativa e cultural da nossa região, a capacidade que nós, nordestinos, temos de inovar, empreender e sermos referência como marca. O projeto Nordestesse corrobora totalmente com esse nosso objetivo.
Leia mais sobre moda inclusiva e marcas brasileiras:
Moda inclusiva: marcas brasileiras de roupas adaptadas para PcD
santa resistência
Em 2015 nasceu a Santa Resistência, criada por Mônica Sampaio, uma engenheira eletricista já realizada profissionalmente, mas que decidiu transformar sua trajetória, ter seu próprio negócio e mais qualidade de vida. Quando decidiu fechar sua empresa de engenharia, Mônica transformou uma coisa que sempre foi intuitiva em algo profissional, criando a Santa Resistência, e desde então, essa tem sido a sua paixão. Ela nos conta que, ‘não via uma moda que contemplasse a mulher consciente de sua negritude, madura, profissional, poderosa e marcante e como muitas, comecei desenhando para mim’.
Com o desejo de transformar uma ideia em uma empresa de sucesso, que ascendesse sua bolha e ganhasse todo território nacional, a marca busca vestir todos os corpos possíveis, tendo reconhecimento por parte de quem sempre admirou nesse universo. Conversamos com a Mônica para saber mais sobre essa trajetória, vem ver:
eu não via uma moda que contemplasse a mulher consciente de sua negritude, madura, profissional, poderosa e marcante.
Como tem sido a trajetória da Santa Resistência?
M.S.: Fazer moda no Brasil nunca foi fácil por vários fatores e, para mim, uma mulher racializada, iniciando com quase 50 anos, sabia que os obstáculos seriam maiores. Criatividade e vontade não bastam para quem quer se destacar como um bom profissional, é preciso muita pesquisa. Encaro a moda como forma de expressão, uma extensão da atitude de quem cria e do público que atinge. Eu levo muito a sério e por isso busquei me aperfeiçoar e aprimorar o meu conhecimento sobre o assunto. Sempre tive bem nítido que a minha maior vitória estaria atrelada ao alcance da marca. Quando eu olho para trás, sinto que tive uma trajetória bonita. Quando vejo a Santa em corpos múltiplos, pessoas se identificando com a marca, ou quando eu estou no mesmo espaço e tenho trocas com estilistas que sempre foram referências profissionais como Ângela Brito e Luís Cláudio do Apartamento 03. Quando estou inserida em um projeto com curadoria de Daniela Falcão, que sempre admirei, sei que os maiores obstáculos foram superados e estou no caminho certo. Tenho orgulho hoje de estar no line up do São Paulo Fashion Week junto a outras marcas de estilistas racializados e ter, por exemplo, a Luanda Vieira vestindo a minha roupa.
Para a Santa Resistência, qual é a importância da visibilidade que o projeto Nordestesse traz para as marcas baianas de moda do nordeste do país?
M.S.: O maior legado do projeto Nordestesse será descentralizar a visão da moda. De que a moda só floresce no Sudeste. Hoje o Nordestesse mostra a pluralidade das criações nordestinas e coloca os holofotes em grandes artistas de diversos estados do Nordeste, que fazem trabalhos incríveis e que muitas vezes tinham dificuldades em serem notados pelos grandes veículos de moda. Anota aí: O Nordestesse vai ganhar o mundo.
Leia mais sobre fashionistas brasileiras:
6 looks fashionistas da Agnes Nunes para se inspirar
ateliê mão de mãe
O Ateliê Mão de Mãe é uma das marcas baianas de moda contempladas pelo projeto Nordestesse. Idealizado por Vinícius Santana em parceria com Patrick Fortuna e Luciene Brito, a marca nasceu no início da pandemia, movida por um sonho antigo de Vinícius de ter o próprio negócio de moda. Sempre muito ligado às artes e apaixonado por direção criativa, o jovem, vendo sua mãe não ter mais um espaço onde pudesse expor suas artes - as quais já fazia desde muito nova -, decidiu ele mesmo abrir seus caminhos, criando um perfil nas redes sociais para mostrar para mais pessoas o que ela fazia. Foi um amigo que sugeriu chamar de Ateliê Mão de Mãe.
Em certo momento, Vinícius viu nessas artes, uma oportunidade de negócio, então se uniu a sua mãe e algumas amigas para produzir e vender peças em crochê. Nessa mesma época, conheceu Patrick Fortuna - hoje seu namorado e sócio - que trouxe toda sua visão sobre moda e valorização do trabalho e da arte para a marca, criando um branding forte e passando a produzir peças exclusivas.
Conversamos com o Vinícius para saber mais sobre o Ateliê Mão de Mãe:
Olhando para trás, como você contaria a trajetória do Ateliê Mão de Mãe?
V.S.: Nossa trajetória foi um pouco difícil, pois nossa proposta era tirar o crochê de um lugar de desvalorização, trazendo essa arte para a modernidade. Começamos do zero, sem nenhum aporte financeiro ou capital para fazer funcionar, foi tudo muito na garra. Um dos principais obstáculos foi derrubar barreiras e alcançar o público que hoje atendemos, que são pessoas de classes altas, mostrando a eles o real valor do nosso produto e o porquê do crochê custar certo valor - é um trabalho feio a mão, que pode demorar até 15 dias para ficar pronto - e não uma simples peça de feira. Entre nossas principais conquistas está estar no line up do São Paulo Fashion Week, onde já desfilamos duas vezes, levando a arte de minha mãe, antes desvalorizada, para a maior semana de moda da América Latina. Estar hoje com ela e mais 30 mulheres que fazem crochê para nossa marca, e poder levar renda à elas também é uma grande conquista.
Para o Ateliê Mão de Mãe, qual é a importância da visibilidade que o projeto Nordestesse traz para as marcas de moda brasileiras do nordeste do país?
V.S.: A importância do Nordestesse na nossa vida é muito grande, até porque antes precisávamos sair do Nordeste e ir para o Sudeste para sermos valorizados, para mostrar nosso trabalho e ter nosso devido valor. E hoje, com o projeto Nordestesse, não precisamos disso, pois eles nos apresentam para todo o mundo, e tem sido de uma importância enorme para gente. E para todas as marcas que fazem parte desse projeto, que são marcas independentes e que também surgiram do zero. Então o Nordestesse tem trazido todo um diferencial para a moda brasileira, e principalmente nordestina.
Leia mais sobre artistas brasileiras:
15 artistas brasileiras que se destacam na moda
mb conceito
Moab Barros é o nome responsável pela criação de duas marcas baianas de moda dessa lista super bacana, a MB Conceito e a Balbina. Duas marcas com segmentos e públicos diferentes, mas com a mesma intenção: trazer a tona o protagonismo negro na moda brasileira.
A MB Conceito surgiu primeiro, de forma despretensiosa, como uma marca de acessórios masculinos em couro e pedras naturais. Nessa época, Moab estava na faculdade e viu que tal segmento na moda masculina estava crescendo. Depois de alguns anos no ramo de acessórios, começou a fazer roupas para si, mas as peças fizeram tanto sucesso que começou a produzir também para sua marca.
Já a Balbina é de roupas femininas e tem um significado diferente para Moab, já que a marca carrega o mesmo nome fácil, mas imponente, de sua bisavó. A etiqueta foi muito bem pensada durante dois anos até florescer em 2020. Com a intenção de abranger o maior número de personas possível, Barros estudou muitos arquétipos até chegar “em um momento que as mulheres se veem representadas na moda de uma forma geral”, atendendo um público de 20 a 80 anos, mulheres descomplicadas e atemporais.
Moab, como você vê os caminhos, obstáculos e conquistas que as suas marcas percorreram e enfrentaram até hoje?
M.B.: A MB surgiu com zero preparo, na ousadia, e fui aprendendo fazendo mesmo. Não conhecia tecidos, caimento e nada do tipo. Errei demais, fiz coleções que não venderam quase nada, porém foi a melhor faculdade que tive. A cada feedback de clientes, fui me reinventando, buscando conhecer melhor sobre processos, estilo, comportamento e como isso influencia no consumo. As grandes vitórias foram o reconhecimento da marca e de todo trabalho desenvolvido, a possibilidade de vender para todo Brasil e ultrapassar os limites geográficos. E cair no gosto de artistas da Bahia como Xanddy do Harmonia, Rafa Marques, Sulivã Bispo, Kiolo e outros. Além de desfilar por três anos no Afro Fashion Day.
Leia mais sobre marcas nacionais:
7 marcas nacionais que têm a sustentabilidade como pilar
balbina
E a trajetória da Balbina? Como foi da criação até chegar nos dias de hoje?
M.B.: Balbina nasceu com mais maturidade e experiência. A construção foi mais gostosa e sem tantos desafios maiores, só a ousadia em criar uma marca com tanta identidade e ancestralidade, resgatando saberes populares e fazendo uma releitura deliciosa, meio bucólica e contemporânea. Fazer uma moda slow fashion não é tão simples como parece, requer muita pesquisa e análise para ter funcionalidade e durabilidade para cada peça, que é feita para durar. A grande vitória da marca é ter uma identidade forte, quem usa entra no estilo da marca e se sente pertencente.
Para a MB Conceito e para a Balbina, qual é a importância da visibilidade que o projeto Nordestesse traz para as marcas de moda brasileiras do nordeste do país?
M.B.: O projeto Nordestesse é uma plataforma que chegou para democratizar, dar visibilidade e conectar marcas incríveis que desenvolvem esse olhar contemporâneo de releitura e valorização do seu lugar. Para MB e Balbina é uma oportunidade única de se conectar com um público, que valoriza esses produtos com história, afeto e regionalidade.
munira
A jovem Designer de Moda, Dani Munira, natural de Periperi, Salvador/BA, é o nome responsável por trás da Munira, marca nascida em 2019. Apesar da moda não ser uma temática discorrida em sua casa, sempre teve um contato muito forte com esse universo através de sua avó costureira, que criava os looks mais bonitos. Dani chegou a cursar Ciências Sociais, mas não concluiu, já que o sonho de ser estilista falou mais alto, e, posteriormente, de uma forma muito natural incluiu toda a parte de pesquisa e ancestralidade - da família quilombola - nos seus trabalhos. A Munira, que significa ‘brilhante’ em iorubá, foi criada com o intuito de prospectar e relatar potência e história de comunidades afrolatinas colaborando com pessoas racializadas, aspectos da natureza viva, narrativas de afeto e simbologias da cultura negra através da indumentária.
Nós convidamos Dani Munira para nos contar mais sobre a história da marca:
enxergamos a moda nordestina como uma das maiores precursoras dos novos nomes da moda essencialmente brasileira.
Quais foram os principais desafios e conquistas da Munira?
D.M.: Por ser uma marca de grande potencial, mas pequena em produção, a Munira teve um crescimento lento por falta de investimento, mas, ao mesmo tempo, esse processo permitiu a nossa estruturação, para o que é respeitoso e responsável com a natureza e o ser humano. Nesse tempo de existência, lançamos três coleções ‘regulares’ e duas cápsulas. E todos foram como um diário evolutivo das faculdades da Dani para com a moda, sobre sua própria história e de suas pesquisas. Inclusive, a última coleção, ‘Maréa’, retrata muito esses processos, pois é como um conto, uma poesia sobre a Ilha de Maré, de acordo com próprias vivencias de Dani Munira. Artesãos locais colaboraram com a coleção. Os materiais que foram usados em geral são biodegradáveis, como tecidos de fibra natural ou reciclados.
Para a Munira, qual é a importância da visibilidade que o projeto Nordestesse traz para as marcas baianas de moda do nordeste do país?
D.M.: Como uma marca nordestina, é sempre bom exaltar a multiplicidade cultural que existe aqui, assim como as riquezas tradicionais que nossa terra oferece. O artesanato, as histórias, o povo, os aspectos naturais que são tão nossos e lindos. Enxergamos a moda nordestina como uma das maiores precursoras dos novos nomes da moda essencialmente brasileira, não aquela que tenta parecer/ser o que se vê nas semanas de moda europeias. O Nordestesse vem como um facilitador de acessos a um mercado que negou nossa existência por muito tempo, permitindo para além dessa inserção, a autoestima que criativos tanto necessitam para SER, ESTAR, oportunizar e inspirar outros e novos criativos da região.
Leia mais sobre marcas nacionais:
10 marcas brasileiras que comunicam diretamente com a comunidade LGBTQIA+