A favela pode ter acesso ao lazer ou esse é um privilégio da elite?

por Mayra Souza

Recentemente, postei no TikTok que iria a um show internacional de um rapper que eu gosto muito, e a repercussão foi muito maior do que eu esperava, iniciando uma discussão que nunca imaginei. Foram muitos questionamentos sobre “como uma pessoa da periferia pode estar indo a shows". Para alguns, parecia que isso não era permitido, como se fosse errado alguém da favela ter acesso a esse tipo de evento.

Através de todos esses comentários, percebi que muita gente acha que as pessoas da periferia não podem gastar tempo ou dinheiro com lazer, como se o único destino aceitável fosse o trabalho. E pior: é mais comum do que eu imaginava a ideia de que não podemos frequentar os mesmos lugares que as outras pessoas, como se apenas um grupo privilegiado tivesse direito a espaços de diversão e lazer.

Existe uma ideia distorcida de que investir em lazer, cultura ou em algo que nos proporcione alívio mental e nos dê acesso à arte é errado, como se o lugar de onde viemos limitasse nosso direito de aproveitar a vida além do trabalho. As pessoas não acham que entretenimento e cultura é tão básico quanto alimentação, saúde e educação. 

Mulher em festival ao ar livre usando top cropped branco, saia listrada preta e branca de corte reto com fenda lateral e botas pretas chunky. Acessórios incluem óculos de sol vermelhos e colares de metal. Favela
Foto: Mayra Souza (Reprodução/Instagram)


Além disso, um ponto importante que surge dessa discussão é o estereótipo de que pessoas periféricas vivem constantemente na miséria. Filmes e novelas muitas vezes reforçam essa imagem, perpetuando o preconceito. Acreditem: dá para viver com dignidade sendo uma pessoa da favela. Não estou glamourizando, mas demonizar essa vivência com base em produções que não retratam nem um terço da realidade das comunidades é injusto. A verdade é que pessoas da periferia também trabalham, estudam, viajam e organizam suas finanças.

O fato de sermos moradores da favela não nos impede de buscar momentos de lazer e cultura, nem significa que não temos planejamento e controle sobre nossas vidas. Afinal, a saúde mental e a cultura também deveriam fazer parte do que é considerado investimento.

Mulher com calça camuflada e top preto em show lotado. Moda casual com influências militares. Estilo descontraído e urbano. Favela.
Foto: Mayra Souza (Reprodução/Instagram)

Muitas vezes nos sentimos mal por gastar com coisas que nos fazem felizes, pois existe a ideia de que o pobre não pode usufruir de nada bom. No entanto, o preço não é o único fator determinante para uma compra. Existem outros aspectos a serem considerados, como pertencimento, autoestima e investimento a longo prazo. Pensar que esses momentos de entretenimento são exclusivos de pessoas privilegiadas limita um povo que batalha muito para conquistar uma vida digna. Afinal, o acesso ao lazer é um direito básico de todos.

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