A região Nordeste do Brasil tem uma tradição de trabalhos inegavelmente muito ricos e, consequentemente, isso reflete muito na moda que é produzida na região. Se você nos acompanha por aqui, sabe que sempre estamos de olho em todas as marcas de moda brasileira que se destacam. E falando sobre elas, logo nos lembramos das etiquetas integrantes do projeto Nordestesse - um hub criativo que busca dar mais voz e visibilidade para criativos da região.
Além de fomentar a moda brasileira e, principalmente, nordestina, o projeto também tem como uma de suas principais preocupações a sustentabilidade. A BABA é uma das marcas que compõem a Nordestesse, ela é cearense e trabalha com estampas exclusivas desenvolvidas por artistas locais. A loja física fica em Fortaleza, onde também se encontra a BABA Lab, um espaço colaborativo em que eles vendem também produtos de outras marcas. Por aqui, ficamos super interessadas pela história da BABA e tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a marca com o Gabriel Baquit, CEO da empresa. Vem ver:
quais foram as maiores inspirações para a construção da baba como marca?
G.B.: A BABA surgiu a partir da vontade que eu tinha de vestir roupas com as quais eu tivesse uma conexão mais pessoal, que significassem mais do que só uma peça de vestimenta pra mim. A estética pop - com cores vibrantes e visual marcante - e referências à memória afetiva cearense são nossas principais inspirações desde a concepção da marca. O universo lúdico, infantil e colorido também estão presentes nas nossas criações, além de estilos estéticos como a Bauhaus e Memphis.
de onde surgiu a vontade de trabalhar com estampas exclusivas de artistas locais?
G.B.: Sou publicitário por formação e sempre trabalhei com design gráfico, então estampas são um grande atrativo pra mim. Gosto de peças estampadas e tinha curiosidade de saber “quem fez essa estampa?” ou “qual terá sido a inspiração?”. Na primeira coleção, tivemos uma estampa do Sapateiro Alves, um sapateiro e artista de rua que, nos anos 90, pintava murais com frases e ditos populares - uma “versão cearense” do poeta Gentileza. Tive contato com a obra dele desde criança, porque havia um mural dele ao lado da escola onde eu estudava. Hoje não há mais nenhum mural preservado pela cidade e ele já tem seus 90 anos. Então fomos à sua procura, conversamos com ele e encomendamos algumas telas, que depois transformamos em estampas. “As ruas precisam do trabalho dele!” era o nosso pensamento. Se não fosse nos muros, que fossem nas pessoas. Assim, fizemos nossa primeira estampa assinada por um artista cearense. Ainda é um dos trabalhos que mais me orgulho de ter feito, porque eu tinha uma relação afetiva de décadas com a arte dele. A partir daí, decidimos que trabalharíamos com artistas e designers locais.
para você, qual a importância dessa arte da baba cheia de regionalidade e cultura?
G.B.: Sem dúvidas, a representatividade. Nascer e crescer longe de grandes cidades que detém a produção midiática do país, consumindo durante a vida inteira essas produções que não dialogam diretamente com você, mexe com sua autoestima e sensação de pertencimento. O Brasil inteiro se acostumou a se vestir de Rio de Janeiro, por exemplo, mas existem tantas outras cidades incríveis pra se inspirar. Fortaleza sempre foi e sempre será uma inspiração para a BABA, e nosso intuito é que mais pessoas se inspirem também, valorizando a moda, a arte e o design locais.
qual a relação que a baba tem com a vida dos artistas locais que estampam as peças?
G.B.: Cada estampa solicitada a um artista é uma oportunidade de criarmos histórias ou reforçarmos laços. Com o Sapateiro Alves, por exemplo, fomos à sua casa diversas vezes, conversamos bastante, ouvimos histórias e curiosidades sobre o seu trabalho. Foi um processo engrandecedor. Compramos o material que ele precisava - porque já não pintava há anos - e suas netas puderam ver pela primeira vez a arte do avô.
Outra artista que colabora com frequência com a gente é a Auxi Silveira. Já tínhamos trabalhado juntos em outra empresa, mas a BABA permitiu que a gente trabalhasse de forma mais pessoal e, como resultado, temos estampas bem diferentes das quais ela costuma desenvolver. Para além da fauna e da flora, que inspiram seu trabalho usual, já desenvolvemos estampas de praças, prédios e até de um painel de controle de uma nave espacial. Hoje, ela está montando seu ateliê na mesma casa onde fica a nossa loja física.
como a baba vê a importância das estampas para a moda brasileira e exaltação da cultura nordestina?
G.B.: As estampas permitem que você se expresse de uma forma mais gráfica, o que, muitas vezes, facilita o reconhecimento dos significados pelo público, fazendo com que ele se identifique com um produto ou não. Um país do tamanho do Brasil não tem uma única estética, e abraçar as diferentes referências de diferentes lugares é essencial para uma moda mais rica, inclusiva e representativa. O próprio nordeste, por exemplo, muitas vezes é retratado de forma mais sóbria, com tons crus e terrosos, fazendo referência aos materiais usados nos trabalhos manuais e artesanatos tão ricos da região. Mas o Nordeste também é hipercolorido, alegre, divertido. Resumir a riqueza de nove estados a um único território, é um equívoco. Como dizia Belchior: “Nordeste é uma ficção”.
a baba lab é uma loja colaborativa cearense, o que te inspirou a criá-la?
G.B.: Assim como a BABA, existem outras marcas cearenses que estão fazendo um trabalho interessante na cena local. Acreditamos que juntos somos mais fortes, por isso convidamos marcas de diferentes segmentos para estarem na BABA Lab, nosso espaço colaborativo, que fica no andar de cima da BABA.
Gostou de conhecer um pouco mais sobre a BABA? Quais outras marcas de moda brasileira você indicaria? Nos conte tudo!
