Quem nunca sentiu que por mais que trabalhasse e se dedicasse, ainda não era o suficiente? Sendo mulher, principalmente, essa é uma realidade constante. De alguma forma, parece que estamos sempre pensando que somos uma farsa no que fazemos e que as outras pessoas vão descobrir isso a qualquer momento. Essa é a famosa síndrome do impostor. Por conta dessa percepção deturpada que muitas vezes temos de nós mesmas, acabamos sabotando o que construímos e desmerecendo quem somos, o que afeta nossa saúde mental.
A Dra. Nina Ferreira, médica psiquiatra especialista em terapia do esquema, explica que o termo não é científico, mas é frequentemente usado para descrever esses sentimentos. “A Síndrome do Impostor não é um diagnóstico psiquiátrico ou psicológico. (...) É um nome que ficou popularizado pela coleção desses sinais e sintomas de crença de desvalor, de incompetência, de defeito”.
E essa síndrome é mais comum do que imaginamos. Um estudo realizado pela KPMG mostrou que 75% das mulheres executivas sofrem da síndrome do impostor, principalmente relacionadas ao trabalho. A pesquisa foi feita com 750 mulheres, todas com alto desempenho em suas funções.
Um dos motivos que podem levar a isso é a baixa presença feminina em cargos de liderança. Aqui no Brasil, por exemplo, apenas 29% desses cargos são ocupados por mulheres, segundo a Confederação Nacional da Indústria. Esses dados mostram que, além de todos os desafios para ocupar esses lugares, ainda é uma posição solitária. Com poucas mulheres conseguindo essas vagas, quem consegue não se acha merecedora.
A comparação com outras pessoas e a grande pressão para ser bem sucedida tão características do nosso tempo, também podem acarretar esses sentimentos de insegurança que são normais até certo ponto, mas que ao persistirem podem ser um sinal da síndrome.
Além disso, a síndrome do impostor pode ser consequência da vivência na infância e adolescência, já que a forma que os adultos lidam com as conquistas e fracassos dos filhos, por exemplo, podem despertar esses sentimentos de insuficiência. “São vários os fatores e situações que vão se somando e que vão criando e reforçando essas crenças, esses caminhos de neurônios no cérebro que levam uma pessoa a ter certeza de que ela não tem valor, não tem capacidade”.
E como lidar com esse sentimento tão difícil que faz mal para a nossa saúde mental e pode impactar negativamente nossa vida? Primeiro de tudo, com terapia, para aprender a lidar com o que sentimos e conseguir mapear quando a insegurança está além do que é natural. “O que os profissionais de saúde vão avaliar são essas crenças centrais, essas ideias que a pessoa avalia como verdadeiras, o quão profundas elas são, (...) para poder determinar se são só ideias de uma insegurança natural ou se trata de um quadro muito rígido”, disse a Dra. Nina.
Ao ter atitudes de auto sabotagem tão comuns na síndrome do impostor, a melhor saída é escolher enfrentar um hábito nocivo por vez, segundo a Dra Nina. “[O ideal é] escolher o comportamento menos desafiador de mudar e decidir todos os dias vigiar esse comportamento, perceber ele acontecendo e fazer diferente. E aí, assim, quando você conseguir vencer esse, você vai para o outro. Aí o seu sentimento de autoestima e de autoeficácia vai se fortalecendo por conta dessas experiências positivas”.
Outra dica é ter um diário para passar a anotar todas as suas conquistas, pequenas ou grandes. Seja conseguir fazer algo que antes parecia impossível, se sair bem em uma prova, ser elogiada no trabalho, qualquer coisa positiva vale. Toda vez que você começar a pensar que não é suficiente, abra essas anotações e leia uma por uma, se recordando das coisas que conseguiu, se apegando ao que é real e mentalizando que isso é só o começo.
“A melhor maneira de combater e de não deixar isso prejudicar é avaliar sempre as evidências e lembrar que todo mundo é capaz de melhorar e de criar comportamentos novos mais saudáveis, é só uma questão de se direcionar para essas atitudes”, Dra Nina concluiu.