Trabalhar com a própria imagem, posar para campanhas e desfilar para marcas de moda são algumas das coisas que fazem parte do dia a dia de uma modelo. Mas, para chegar lá, é necessário preparação, auxílio de outros profissionais e muito amor pela profissão. É o que diz Dando Baumgartner, dono de uma das maiores agências do país, que bateu um papo com a gente e compartilhou tudo sobre como se tornar modelo.
A modelo é a pessoa que vai promover um produto de alguma forma. Pode ser nas passarelas, em shootings ou campanhas publicitárias. É quem dá vida a uma roupa para apresentá-la ao público. “A responsabilidade da modelo é representar aquela criação para o consumidor e fazer com que ele queira comprar aquele produto”, explica Dando.
Dando trabalha há 25 anos na área e há 16 fundou a WAY, agência responsável pela carreira de grandes nomes da moda. Ele começou como assistente em uma outra agência e trilhou seu caminho até virar braço direito da direção. Mas, depois disso, já era hora de ter seu próprio negócio. E assim nasceu a agência, que já começou como um sucesso. Muitos modelos e funcionários o acompanharam e na primeira São Paulo Fashion Week com a WAY, ela já foi a agência que colocou mais modelos no evento.
Com tantos anos de experiência, Dando é a pessoa certa para compartilhar dicas de como se tornar modelo. Então, se você sonha em trilhar esse caminho, vem acompanhar esse conteúdo valioso e cheio de conselhos de como seguir na profissão.
STL: O que é preciso para ser modelo?
Dando: Amar muito essa profissão. Entender que ser modelo não é apenas um rostinho bonito. [Para] ser modelo tem que trabalhar, tem que saber entregar. Afinal de contas, a responsabilidade da modelo é muito grande ali naquele momento, seja num set de foto, de uma campanha ou numa passarela. Nós temos que entender que são seis meses ou mais de um trabalho de um time gigantesco, que vem lá de trás. Olha quantas cadeias pra chegar até aquele momento que [a modelo] está usando a peça para [apresentar] para o mercado, para o consumidor. A gente está falando desde quem planta o algodão, quem colhe, quem faz o tecido, quem corta o tecido, da costureira, do desenhista. Aí vai para o embalador, depois vai para a loja, para o vendedor. Enfim, olha quantas famílias são sustentadas até chegar no momento que a modelo está diante da câmera. Ali está o resultado do trabalho de todas essas pessoas, onde elas vão colher o fruto. Então, a responsabilidade da modelo de representar aquela peça, representar aquela criação para o consumidor e fazer com que o consumidor queira comprar aquele produto é gigantesca. Por isso que eu falo que ser modelo não é só um rostinho bonito, é saber trabalhar.
STL: Ainda temos na indústria as exigências de estar dentro de um padrão?
Dando: O padrão nitidamente nós conseguimos ver que de quando eu comecei, em 1998, e hoje, 2023, tudo mudou. Durante muitos anos, décadas, foram aquelas modelos padrões, magras, altas, com o mesmo perfil. Hoje, o mercado conseguiu enxergar que a diversidade tem que existir. As mulheres, os homens, todos querem ser representados numa campanha, em um desfile, em o que quer que seja. Então, a diversidade veio pra ficar, é irreversível, não vai mais voltar atrás.
Hoje nós temos na WAY modelos plus size, curve, modelos mais velhos… Eu tenho modelo de setenta anos. Nós temos meninas e meninos trans, temos uma quantidade absurda de modelos negros que estampam campanhas, desfiles, não só no Brasil, como no mundo inteiro. E antigamente não era assim. Então, eu sou muito feliz hoje em te dizer que a diversidade veio pra ficar. Não volta mais atrás. Porque as pessoas não aceitarão marcas que não consumam mulheres mais velhas, homens mais velhos, plus size, trans, entre todas as diversidades que existem. É claro que a modelo magra em alta vai continuar, porque existem mulheres magras e altas também.Todo mundo vai ser representado na moda daqui em diante. E que a gente melhore cada vez mais nisso. Temos muita coisa ainda pra continuar fazendo.
STL: O primeiro passo para se tornar modelo é procurar uma agência? Como funciona esse processo?
Dando: Com certeza. Antigamente não existiam as redes, nem a internet tão forte. Então, uma menina para se tornar uma modelo, ela dependia de scauters, de olheiros, de pessoas que vendiam books, de pessoas que vendiam cursos. Hoje em dia não precisa mais disso. Hoje, sem sair de casa, com qualquer smartphone ou um computador com internet ela consegue descobrir quais são as principais agências de modelos, quem elas representam, se são sérias. A partir deste momento, consegue mandar email pra agência, falar no Instagram. Então não tem como mais tu não ter contato direto com a agência. Então tu não precisa pagar curso, não precisa pagar book, não precisa pagar alguém para te levar até a agência. Até porque da tua casa, tu consegue fazer imagens sem produção, sem maquiagem, que nós chamamos de polaroids, que é a pessoa como ela é no fundo branco. Qualquer pessoa pode tirar essas fotos e enviar para uma agência. Automaticamente essa agência vai entrar em contato se tu for um grande potencial. E se tu não for também, a pessoa vai responder educadamente, profissionalmente, ela vai te dizer se tu foi aceita ou não na agência. Então, procurar uma agência de modelos é o início de conseguir iniciar na carreira de modelo.
STL: Qual a importância das agências na carreira de um modelo?
Dando: Toda importância. Nenhuma carreira de modelo é construída sozinha. Ninguém consegue fazer nada sozinho. Nós precisamos sempre ter alguém que nos direcione, que nos cuide, que nos administre. Então assim, uma grande modelo, ela tem grandes profissionais por trás dela. Por escolhas, por direcionamento, por posicionamento, por tudo. Existe todo um time atrás de uma grande carreira, seja musical, seja de um ator de uma atriz e também de uma modelo. A agência de modelos, ela é responsável por decisões na carreira de uma modelo, certas ou erradas. Por isso que tem agências e agências. Hoje em dia, não existe mais como uma pessoa ser enganada por uma agência. Se você colocar no Google, tu vai ver as opções das agências do mundo inteiro e ali tu vai ter quem essa agência representa, quem essa agência já fez a carreira, com quem que eles trabalham. Então, a escolha de uma agência é fundamental na construção de uma carreira de modelo. Por isso a importância de uma agência na carreira de uma modelo é essencial. Não tem como uma modelo ser bem sucedida, com uma carreira duradoura, se ela não tiver bons profissionais por trás dela.
STL: O que um modelo precisa estudar para estar bem preparado para o mercado?
Dando: Olha, nós agentes, o nosso papel ali é pegar o modelo, uma menina, um menino crus, que vieram sem experiência alguma e fazer com que eles se tornem cada vez mais profissionais e mais prontos e preparados para o mercado. Como se faz isso? O processo é igual para todo mundo: essa modelo muda-se para São Paulo, eles fotografam, eles montam um book, eles fazem polaroid na agência. Aí vão começar a fazer os castings, conhecer os clientes, começam a fazer aula de passarela. Então, é todo um processo, um passo a passo, até que esse menino ou essa menina se tornem modelos prontos para enfrentar o mercado tanto nacional, como internacional.
Eu acho que começar por uma uma uma cidade como São Paulo é maravilhoso para enfrentar o mercado internacional, porque nós no Brasil temos profissionais incríveis, fotógrafos, de revistas, de desfiles, estilistas, stylists… Nós temos aqui no Brasil um mercado muito profissional e muito forte. Qualquer modelo que trabalhe aqui está pronto para trabalhar em Paris, em Londres, Nova York, em Milão, no Japão. Por quê? Porque aqui eles são muito bem instruídos e eles aprendem muito com quem nós temos aqui.
[Além disso,] é claro que não podemos esquecer de falar do inglês. O inglês hoje, mais do que nunca, é fundamental para um modelo ter uma carreira internacional bem sucedida. As agências de fora não podem mais [fazer] como antigamente, [que] levavam modelos sem falar uma palavra de inglês e lá colocavam no curso até essa pessoa aprender. Hoje em dia não se faz mais isso. Com a velocidade de tudo e com cada vez mais pessoas querendo ser modelos, chegam nesses países pessoas do mundo inteiro preparadas, falando inglês, sabendo fotografar, sabendo desfilar, sabendo se vestir, tendo uma ótima personalidade. Então, se tu não tem o inglês, por que eles vão te levar? Toda essa preparação no Brasil é fundamental para um modelo ter uma carreira internacional com sucesso.
Existem cursos na internet de inglês, existem cursos no YouTube. Eu conheço pessoas que aprenderam a falar inglês vendo séries, ouvindo música, treinando. Eu acho que quando realmente se quer algo não tem barreira que faça essa pessoa não alcançar.
STL: Como está o mercado de trabalho para os modelos atualmente?
Dando: O mercado tá ótimo, graças a Deus. Nós passamos por um período muito difícil, que foi a pandemia e também pós-pandemia, onde o mercado estava completamente frio. Mas agora eu acredito que já voltamos ao normal, as vendas aceleraram, os trabalhos voltaram com tudo. Então, o mercado está cada vez melhor. Obviamente, o modelo tem que estar cada vez melhor também, estar mais preparado também. [Mas] o mercado vai bem, tanto no Brasil, como lá fora.
STL: Quais são as opções de trabalho para um modelo além das passarelas?
Dando: Infinitos. A passarela acontece a cada seis meses. Esporadicamente tem um desfile ou outro entre as temporadas. Então, existe todo um mercado para catálogos, campanhas, editoriais, publicidade, comerciais de TV. Existe toda uma produção diária de trabalhos no Brasil e no mundo acontecendo fora das passarelas. Eu posso falar diárias, porque todos os dias tem alguém no estúdio fazendo algum tipo de conteúdo. E hoje com a internet, com tudo tão mais rápido, para se sustentar uma rede social, de uma marca ou até de um designer, tem que fazer conteúdo. Então, os conteúdos são feitos muito mais rápido do que antigamente. Todos os dias tem algum modelo trabalhando em algum estúdio para fazer um conteúdo, ou uma campanha ou e-commerce de uma marca.
Até mesmo porque o próprio modelo precisa sustentar suas redes. Ele precisa mostrar que ele também é um influenciador. Então, ele todos os dias tem algo pra fazer, para produzir, para colocar nas redes também, fora das marcas que contratam. Então, é um trabalho diário que o modelo precisa ter.
STL: Qual o diferencial que é preciso ter para se tornar um modelo de sucesso?
Dando: Personalidade. Te falo isso sem receio. Modelos bonitas, prontas fisicamente, visualmente, nós vamos ter sempre. Mas por que uma se destaca mais que a outra? Às vezes vamos ter uma modelo que é linda, que é uma imagem, trabalhando menos que a outra que de repente não é tão bonita, não é tão é é forte visualmente, porém essa trabalha duro, ela tem uma personalidade incrível, ela sabe se posicionar na frente da câmera, ela sabe conquistar o cliente, ela sabe se vender. E a outra, pelo fato de ser tão bonita, acha que de repente não precisa tanto, que só o rosto bonito vai ser o suficiente. E aí que ela cai feio comparado a outra.
A personalidade hoje conta muito, as pessoas querem quem entrega, uma modelo que saiba o que está fazendo, que chegue no set e consiga conquistar da camareira ao diretor, da manicure ao cabeleireiro, do fotógrafo ao assistente. As pessoas querem, mais do que nunca, estar do lado de pessoas que estão ali buscando dar o seu melhor. É isso que vai fazer com que o cliente chame essa modelo novamente, que o fotógrafo indique ela para outros trabalhos, que o stylist faça a mesma coisa. Ninguém quer uma menina só pelo fato dela ser linda, [que] está no set e não participa, não deu o melhor dela ali,que reclame, fique desatenta, no celular, isolada. Ela passa a impressão que ela não quer estar ali. Eu ouço isso muito durante todos esses anos. Então, a personalidade vai fazer com que essa modelo seja bem sucedida ou não.
STL: Sabemos que há diferentes tipos de trabalho dentro dessa área e tudo varia muito, mas para quem está começando, qual é a média salarial?
Dando: Não existe uma média salarial. A modelo é uma profissional autônoma. Ela ganha de acordo com o trabalho. Então, se ela vai fazer um desfile, ela recebe cachê X. Se ela vai fazer uma campanha, ela recebe cachê Y. Porque um desfile são no máximo dois dias de trabalho. Então é um trabalho mais rápido. Uma campanha existe um dia de trabalho, de fotos, fora a maquiagem, prova de roupa e toda uma veiculação, que vai para as lojas, que vai pra internet, a imagem é usada. Então são cachês diferentes. A veiculação depende muito. Então, cada trabalho tem um valor diferente, cada trabalho é calculado em cima do que vai ser usado da imagem da modelo. Não existe um salário tanto para uma iniciante, quanto para uma modelo que já está aí.
É claro que uma menina que já tem toda uma carreira estabilizada, já trabalhou muito no Brasil, já trabalhou fora, já é uma profissional pronta, requisitada, o cachê dela é diferente da menina que está começando. Mas isso depende muito da veiculação do trabalho.
STL: Compartilha um conselho que todo modelo precisa saber?
Dando: Para modelos já na profissão: confie nos seus agentes. Escutem o que eles falam. Com certeza o teu sucesso é o nosso sucesso. Todo conselho que um bom agente vai te dar é para o teu melhor. É para que tu cresça na carreira, para que tu conquiste novos clientes, novos trabalhos — é claro, estou falando isso de bons agentes, bons profissionais. Eles sempre vão olhar o que é o melhor pra tua carreira. Quanto mais o modelo cresce, mais agência cresce, quanto mais modelo ganha, mais agência ganha, quanto mais o modelo se destaca, mais agência se destaca. Então, nós estamos falando de dois pilares que é o modelo e a agência, muito importantes na construção de uma carreira. Então, os dois estão com o mesmo propósito. Estamos aqui todos os dias trabalhando para modelos, para o mercado, ouvindo clientes, ouvindo as pessoas envolvidas naquele trabalho. A gente sabe o que realmente é melhor para o modelo. Meu conselho é esse: ouçam e fiquem de mãos dadas com os seus agentes.
STL: Me diz um livro que quem está pensando em seguir a carreira deve ler?
Dando: Bom, obviamente o meu. Eu acabei de lançar um livro, chamado “Dando a Volta por Cima”. O meu apelido é Dando. Então, o nome do meu livro é porque realmente dei a volta por cima. Eu sou um profissional que sonha em trabalhar nesse meio, com a carreira de modelos, desde os meus 15 anos. Eu já estou com 46. Então, olha quantos anos eu já almejo e trabalho todos os dias realizando o meu sonho. Eu trabalho com esses profissionais há 25 anos, construindo carreiras, ajudando essas pessoas a se lançarem no mercado nacional e internacional. E o meu livro fala sobre superação de um cara que sonhou muito em trabalhar com o que faz hoje, fala sobre sonhos, realizações, não desistir.
É uma biografia de autoajuda que mostra que as pessoas não devem desistir dos seus sonhos, que elas tem que ir atrás deles, custe o que custar. Mesmo que tu viva uma vida completamente distante dessa realidade, sem base financeira, sem contatos do meio. Eu fui em busca e eu conquistei tudo que eu sonhei até agora.
É claro que eu estou na metade do caminho, eu tenho muito mais o que viver ainda e muito mais o que sonhar. Mas eu indico o meu livro, porque ele mostra realmente o que é uma ter carreira de modelo, os modelos que nós construímos, que eu construí no nesses anos.
Então, o livro que eu indico é “Dando a Volta por Cima”, que já está à venda nas melhores livrarias do Brasil.
Então, em resumo, como se tornar modelo: procure uma agência de confiança, como a WAY, mande suas fotos, estude inglês para estar preparada para o mercado, invista em conteúdo para as suas redes sociais e tenha sempre em mente que sua personalidade e foco conta mais que sua imagem.
Esse é o terceiro dos nossos conteúdos sobre carreira de moda, que sai quinzenalmente aqui no STL. Sempre trazemos o ponto de vista sobre alguma referência da área sobre a profissão. Até agora, já temos conteúdo sobre consultoria de imagem e também sobre a carreira de estilista.