dolce far niente: como uma tendência de wellness mudou a maneira que vivo

por Inaê Ribeiro

Estar em casa observando o tempo passar, viajar para o meio do mato e passar dias ouvindo o canto dos pássaros, admirando a natureza e o som da água caindo na cachoeira… Para muitos, essa seria a descrição de um mundo perfeito. Para mim, por muito tempo, foi sinônimo de tédio absoluto. Esse tempo dedicado a não fazer nada, na Itália, é conhecido como dolce far niente – a doçura de não fazer nada – uma filosofia que convida a simplesmente apreciar o momento.

Como boa ariana, sempre fui o tipo de pessoa que odeia ficar parada, então, o dolce far niente, era apenas uma ideia que eu achava linda, mas que definitivamente não era pra mim, pelo menos era o que eu pensava…

Mulher relaxa à mesa de um café colorido, exibindo um estilo dolce far niente. Ela usa óculos de sol e colar.
Foto: Inaê Ribeiro (Reprodução/ Instagram)


Meus dias de descanso só faziam sentido se estivessem preenchidos de atividades. Precisava acordar com a agenda planejada, sair cedo e voltar apenas à noite, ocupando cada minuto para sentir que estava aproveitando a vida ao máximo.

Ficar em casa e assistir aos stories de pessoas em festas ou restaurantes era uma tortura. O FOMO – o medo de estar perdendo algo – me consumia. Mas, olhando mais a fundo, percebo que essa busca constante por atividade vai muito além do meu mapa astral - apesar de acreditar na grande influência dele. Como mulher preta, a sensação de estar sempre ficando para trás me acompanha desde cedo. Cresci ouvindo que precisaria trabalhar duas ou três vezes mais para alcançar o mesmo espaço que pessoas brancas, e essa ideia ecoa na minha mente até hoje.

Pessoa relaxando no barco, olhando o mar, incorporando o conceito de dolce far niente.
Foto: Inaê Ribeiro (Reprodução)

Os anos passaram e comecei a enxergar as coisas por uma outra perspectiva. De repente, o silêncio era necessário. Estar em casa lendo um livro me deixava mais preparada para os desafios que viriam, e, finalmente, entendi o sentido do dolce far niente. Foi preciso chegar à exaustão emocional, social e profissional para perceber que minha “necessidade” de estar em todos os lugares era, na verdade, a ansiedade tomando conta e ganhando um espaço cada vez maior. A partir daí, comecei a buscar equilíbrio – entre trabalho e vida – e a praticar o prazer de simplesmente existir.

Sorriso suave em um ambiente descontraído, evocando dolce far niente.
Foto: Inaê Ribeiro (Reprodução/ Instagram)

Não vou ser hipócrita em falar que me livrei 100% do FOMO ou que ainda não sinto que estou sempre atrás das pessoas brancas, mas tenho me forçado a enxergar a vida de uma maneira mais leveza e a me contentar em fazer o que está ao meu alcance. O dolce far niente é mais do que uma tendência de wellness, é uma forma de ver as coisas com mais clareza. Afinal, são nos pequenos detalhes que a vida realmente acontece. Hoje, eu estou mais presente nos lugares e situações e o automático já não é tão presente no meu dia a dia - e torço para que fique cada vez menos.

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