Empoderamento e acessibilidade: a jornada de Marina Melo no mundo da beleza

por The Look Stealers

A discussão sobre inclusão e acessibilidade nos setores de moda e beleza tem ganhado cada vez mais destaque, impulsionada por vozes corajosas que enfatizam a importância de representar todas as pessoas de maneira autêntica. Entre essas vozes, a influenciadora Marina Melo se destaca por desafiar padrões e criar espaço para que pessoas com deficiência se sintam vistas e incluídas.

Carioca de 20 anos, Marina utiliza suas redes sociais para compartilhar dicas de moda e beleza de forma honesta e inspiradora. Recentemente, ela lançou a campanha #BelezaAcessível, reforçando a importância da acessibilidade nesse universo. Em uma conversa exclusiva, Marina Melo falou sobre o papel da moda e da beleza no empoderamento pessoal e ofereceu dicas valiosas, mostrando como pequenas atitudes podem provocar grandes transformações. Confira a entrevista completa abaixo.

Pessoa em cadeira de rodas veste vestido floral azul e sapatos estilo Converse. O look casual, com vestido ombro a ombro, reflete tendências de conforto e moda despojada. Cabelos ruivos soltos complementam o visual jovem e descontraído. Marina Melo
Foto: Marina Melo (Reprodução/ Instagram)


nos conta um pouco sobre a sua jornada no mundo da beleza. O que te motivou a se tornar uma influenciadora?

Marina Melo: "Desde pequena, sempre tive contato com maquiagem, tanto por ver minha mãe se maquiar com frequência para o trabalho, quanto por acompanhar tutoriais no YouTube. No entanto, eu mesma me maquiava pouco, usando no máximo um lápis metálico da Quem Disse, Berenice?.

Eu sonhava em ser influenciadora, pois essa profissão começou a ganhar destaque quando eu ainda era criança, e eu acompanhava tudo de perto. Mas foi durante a pandemia que decidi criar conteúdo e me encontrei no mundo da beleza. Percebi que havia uma lacuna nesse espaço e senti a necessidade de ser a referência que eu não tive quando era mais jovem: uma pessoa com deficiência se maquiando e mostrando que todos podem explorar sua beleza.

como você acredita que a indústria da beleza pode ser mais acessível para pessoas com deficiência? Você já notou alguma melhoria nos últimos anos?

M.M.: "Acredito que o processo é o mesmo para qualquer inclusão. Se pessoas com deficiência estiverem envolvidas em todas as etapas do processo, desde o início até o fim, a marca se torna mais acessível. Isso acontece porque a participação ativa de quem faz parte dessa comunidade oferece uma visão real e necessária sobre suas necessidades.

Embora tenha havido melhorias — antigamente quase não se falava sobre pessoas com deficiência —, hoje vemos mais pessoas envolvidas. No entanto, ainda estamos longe do ideal. O mercado ainda não enxerga plenamente pessoas com deficiência como consumidoras, o que fica evidente na falta de acessibilidade dos produtos. Muitas vezes, a inclusão se limita à participação em campanhas publicitárias, sem uma verdadeira adaptação dos produtos."

Retrato de mulher com cabelo ruivo e maquiagem artística nos olhos, com sombras azuis brilhantes estilo glitter. A camiseta branca básica complementa o look, destacando a simplicidade e o contraste com a maquiagem ousada. Marina Melo
Foto: Marina Melo (Reprodução/ Instagram)

quais foram os principais desafios que você enfrentou ao acessar produtos de beleza e moda? Como você encara essas barreiras?

M.M.: "Meu desafio vai desde a compra até o uso dos produtos. No universo da beleza, por exemplo, o problema está no uso em si. Embora a venda online facilite o acesso, ainda assim, tenho 80% de chance de adquirir algo que não consigo utilizar devido à falta de acessibilidade nas embalagens.

Na moda, o desafio começa já na ida à loja. Muitas vezes, os espaços são apertados e os provadores não são realmente acessíveis, dificultando que eu experimente as roupas. Até mesmo nos sites, falta uma referência visual de como as peças vestem em pessoas que estão sentadas. Além disso, a modelagem das roupas muitas vezes não se adapta ao formato do meu corpo, o que me impede de comprar por não saber se a peça ficará boa em mim. Em outros casos, acabo comprando, mas preciso fazer ajustes completos na costureira.

Diante desses desafios, no caso dos produtos de beleza, sempre que possível, vou até a loja para testar e minimizar os riscos de comprar algo que não poderei usar. Na moda, levo comigo uma fita métrica para medir as peças quando não consigo experimentá-las. Além disso, tenho a sorte de contar com minha avó como costureira, que sempre ajusta minhas roupas conforme necessário."

Jovem usando camiseta oversized com estampa criativa, lenço rosa no pescoço, tênis esportivo de cores claras e maquiagem discreta. Estilo casual e descontraído, destacando-se pelo conforto e tendências atuais Marina Melo
Foto: Marina Melo (Reprodução/ Instagram)

você sente que as marcas de beleza estão começando a reconhecer a importância da inclusão e acessibilidade?

M.M.: "Sim, as empresas já reconhecem a importância da inclusão e acessibilidade, mas ainda enfrentam dificuldades em entender como implementá-las de maneira efetiva. Já tive muitas experiências em que marcas recusaram minha oferta de ajuda para tornar seus produtos ou serviços mais acessíveis. Por outro lado, há marcas que estão dispostas a ouvir e aproveitar a oportunidade de aprender mais sobre o assunto. Um exemplo positivo é o fato de que muitas lojas já sabem como atender uma pessoa com deficiência, o que torna a experiência muito mais confortável e, de certa forma, mais independente."

e quais são as marcas exemplo nesse quesito?

M.M.: "Tenho três favoritas, duas brasileiras e uma internacional. A primeira é Bruna Tavares, o atendimento que recebi na BT House foi super inclusivo, e eles me auxiliaram em todo o processo. Internacionalmente amo a Rare Beauty, que a maioria dos produtos é bastante acessível, embora ainda haja pontos a serem melhorados, e por fim a Paisage, um dos meus produtos multifuncionais favoritos é de lá. A embalagem é prática, e a textura facilita a aplicação."

quais são os truques de beleza que você desenvolveu ou adaptou para facilitar sua rotina? Tem alguma técnica que você recomenda para outras pessoas com deficiência?

Marina Melo: "Fiz uma pesquisa bem completa sobre pincéis, já que não consigo aplicar os produtos com as mãos ou esponja. Nessa busca, encontrei opções que oferecem o mesmo acabamento. Veja minhas sugestões:

  • Para corretivo ou base: Pincéis macios e leves são ótimos, pois proporcionam um acabamento mais natural. Eles permitem aplicar o produto tanto com batidinhas quanto deslizando o pincel suavemente.

  • O comprimento do cabo também faz muita diferença. Para quem tem dificuldade em levantar o braço, um cabo mais longo ajuda a alcançar todo o rosto com mais facilidade.

  • E não poderia deixar de dar uma dica para o delineado. Existem pincéis curvados que facilitam bastante esse processo. Dois dos meus favoritos são o da Macrilan, com uma ponta super fina, e o da Real Techniques, que é chanfrado e curvado. Eles são essenciais para os meus delineados!"

Mulher com cabelo ruivo e maquiagem destacada. Olhos delineados e maquiagem blush rosa. Batom brilhante. Usa blusa floral azul. Unhas pintadas de vermelho. Estilo jovem e moderno, com tendência retrô e influência de moda alternativa. Marina Melo
Foto: Marina Melo (Reprodução/ Instagram)

como você enxerga o papel das redes sociais na promoção da acessibilidade e inclusão na moda e beleza? Qual impacto você espera causar com seu conteúdo?

M.M.: "As redes sociais dão voz às pessoas, e isso é essencial para o avanço do movimento. Quanto mais pessoas com deficiência mostrarem que são consumidoras e exigirem inclusão, maior será a pressão sobre as marcas para que entendam e comecem a se tornar acessíveis.

Meu desejo é que pessoas com deficiência se enxerguem de uma nova maneira. A maquiagem nos permite explorar quem somos, e esse processo é incrível para o empoderamento e a autoaceitação. Pessoas com deficiência também precisam vivenciar esse processo de descoberta e valorização."

qual é a importância da representatividade de pessoas com deficiência na indústria da beleza e moda? O que ainda precisa ser feito para que essa representatividade seja mais significativa?

M.M.: "Como mencionei antes, é fundamental incluir pessoas com deficiência em todas as etapas do processo. Só assim alcançaremos verdadeira representatividade e acessibilidade. Na minha opinião, o caminho é longo, mas pequenas ações realizadas por diferentes pessoas podem ter um impacto maior do que imaginamos. Um exemplo disso é a campanha #BelezaAcessível, que lancei convidando meus seguidores a participar. O principal objetivo é mostrar às marcas que somos consumidores ativos, o que nos dá voz e permite que conquistemos nossa individualidade."

por fim, qual mensagem você gostaria de deixar para outras pessoas com deficiência que desejam se expressar através da moda e beleza?

M.M.: "Experimentem! Moda e beleza são caminhos para o autoconhecimento, e para se descobrir, é preciso tentar. No começo, pode parecer estranho ou até desconfortável, mas essa é a parte divertida do processo. Se você não se sentir representada, faça sua voz ser ouvida! Grite, cause impacto! Só assim seremos realmente vistas."

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